Quinta, 02 Mai 2024

Neste domingo, 5 de março de 2006, completaram-se 90 anos da maior tragédia marítima da costa brasileira - o naufrágio do Principe de Asturias, navio da armadora Pinillos, Izquierdo y Cia., da cidade espanhola de Cadiz.

Essa companhia viria a sofrer uma nova tragédia, ao perder - em setembro de 1919 – o navio Valbanera, que transportava 500 passageiros, e cujas vidas foram perdidas.


O Principe de Asturias afundou na costa de

Ilhabela, no Litoral Norte do Estado de São

Paulo (Reprodução de raro cartão-postal da

coleção de José Carlos Silvares)

 

Mas para contar a tragédia ocorrida com o famoso transatlântico espanhol Principe de Asturias, ninguém melhor do que José Carlos Silvares, jornalista e profundo estudioso do maior acidente marítimo do Brasil, que relatou de maneira objetiva como ocorreu o acidente e especialmente para o livro de minha autoria: Transatlânticos em Santos – 1901 – 2001, onde há um capítulo onde alguns amigos e admiradores dos navios, escreveram textos sobre o tema. Entre eles: Narciso de Andrade, Armando Akio, Hélio Schiavon, José Carlos Rossini, entre outros. O livro foi lançado na Pinacoteca Benedito Calixto em Novembro de 2001.
Eis o texto:


"O naufrágio do navio de passageiros, na costa de Ilhabela, aconteceu exatamente quatro anos depois do acidente com o Titanic, que ficou conhecido no Mundo todo como o maior desastre marítimo de que se tem notícia, com 1.503 mortos".

"O do Principe de Asturias é o maior da costa brasileira. Era um domingo de Carnaval, e morreram 447 pessoas. Mas esse número pode ser superior, já que havia muitos imigrantes clandestinos a bordo, fugindo da Primeira Guerra Mundial que tomava a Europa".

 

O Principe de Asturias, imagem do acervo de

Fernando José Garcia Echegoyen. (Reprodução de

El Mistério del Valbanera)

 

"Eram exatamente 4h20 do dia 5 de março de 1916, quando um estrondo sacudiu o sono de centenas de passageiros que estavam a apenas alguns quilômetros de sua primeira parada em terra firme: o Porto de Santos. O Principe de Asturias acabava de bater contra a Ponta da Pirabura, o trecho mais avançado para o sul da Ilhabela".

"A maioria dos passageiros dormia. Alguns estavam acordados, tentando ver as luzes do Rio de Janeiro, que vivia a madrugada nobre do Carnaval brasileiro. Seguiram-se cenas de desespero, de correria, de luta pela vida, de heroísmo e de covardia. Há relatos fantásticos dos personagens que viveram aquele momento de horror".

"A primeira versão apresentada logo após o acidente, pelo segundo piloto Rufino Ozain y Urtiaga, contava que o navio enfrentou forte cerração quando se aproximava da costa brasileira. Ele vinha de Las Palmas (Ilhas Canárias), de onde saiu a 23 de fevereiro, com previsão de chegar a Santos em 5 de março".

 

Miguel Martinez de Pinillos e Sáenz de Velasco e Antonio

Martinez de Pinilos Izquierdo, fundadores da Companhia

Pinillos, Izquierdo Y Cia. (Reprodução de El Mistério del Valbanera)

 

" 'As descargas elétricas que iluminavam o céu eram a única luz a nos guiar', contou Rufino, na época aos jornalistas. Às 4h08, o capitão Jose Lotina ordenou nova correção de rumo: mais 5 graus para o mar. Foi quando ele gritou: 'É terra!'. E aí não deu mais tempo para nada".

"O capitão, segundo o piloto, pessoalmente se atirou sobre o telégrafo para ordenar 'atrás, toda a força' à casa de máquinas. Era tarde demais. O navio bateu contra os rochedos, rasgando o casco da proa à popa".

"Uma outra explicação que impressiona está em um livro inglês. Ali, o autor diz que o Principe de Asturias bateu nas rochas porque fugia do cruzador Glasgow, que patrulhava a costa brasileira".

"O autor acha que a fuga acontecia porque o navio levava fugitivos a bordo".

 


Don José Lotina, capitão do

transatlântico Principe de Asturias
(Reprodução de El Mistério del Valbanera) 

"Com o naufrágio do navio, muitos objetos históricos foram perdidos. Entre eles um conjunto de estátuas de bronze. Elas fariam parte de um monumento erguido em Buenos Aires em comemoração ao centenário da independência Argentina".

"Isso levou uma equipe de mergulhadores, anos depois a descer até a embarcação, a 45 metros de profundidade. Mas, além das estátuas, o fundo do mar pode esconder um tesouro, além de moedas de ouro e jóias valiosas".

A Ilha de São Sebastião (Ilhabela fica nela) está entre os locais onde mais acontecem naufrágios nas Américas. Por isso é considerada um cemitério de navios.

Para explicar o fato, uma das hipóteses é de que na região há grande concentração de minério de ferro, o que deve ter alterado as bússolas das antigas embarcações.

As imagens deste artigo são do livro El Mistério del Valbanera, de Fernando José Garcia Echegoyen, com exceção do cartão-postal, que é da coleção de José Carlos Silvares.

 

Veja mais imagens:


Na época da imigração, as arma-
doras anunciavam a saída dos
navios com cartazes ilustrados.
Aqui vemos um cartaz do Valbanera
com destino a Buenos Aires e
escala em Santos. (Reprodução
de El Mistério del Valbanera)



Dedicatória do amigo José Carlos
Silvares, ao presentear-me com o livro
El Mistério del Valbanera, adquirido
no Museu Marítimo de Barcelona,
Espanha (Reprodução)

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