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Na operação de resgate teve decisivo papel o transatlântico francês Ile de France, mas não se pode esquecer também da importância do navio-transporte de tropas Private William H. Thomas, que levava soldados estadunidenses e suas famílias de regresso aos Estados Unidos, após servirem em bases americanas na Europa.
A armadora do Andrea Doria, a Itália Societa di Navigazione, era proprietária de transatlânticos que vinham para o Brasil, como o Conte Grande, Conte Biancamano, Augusto e Giulio Cesare.
Sem responsabilidade
O comandante do Andrea Doria, Piero Calamai, segundo pesquisa, declarou, ao chegar à Nova Iorque, a bordo de um destróier (contratorpedeiro) norte-americano, que o transatlântico fora atingido no flanco e não tinha a menor responsabilidade na colisão. Vale lembrar, que o Comandante Piero Calamai, comandou na rota da América do Sul, o sempre lembrado Conte Grande e navios da série “navegadores” completados entre 1947 e 1949. Eram eles: Paolo Toscanelli, Ugolino Vivaldi, Sebastiano Caboto, Marco Pólo, Américo Vespucci e Antoniotto Usodimare. Piero Calamai foi o comandante do Ugolino Vivaldi, que escalou Santos pela primeira vez em 1948.
O Stockholm abalroou o Andrea Doria por boreste (lado direito) e abriu um grande rombo. A proa (frente) do navio sueco invadiu o casco do transatlântico por nove metros, atingindo grande número de cabines.
O transatlântico italiano Conte Grande, passando pela Ponta da Praia,
no início dos anos 50. Piero Calamai foi um de seus comandantes.
Acervo: L. J. Giraud.
O Andrea Doria sofreu um impacto tão violento, que adernou (inclinou-se), impedindo o uso dos escaleres salva-vidas. Se o Stockholm não tivesse proa quebra-gelos (reforçada), provavelmente o transatlântico não naufragaria e nem o choque seria tão violento.
O Stockholm, da armadora Svenska Amerika Linjen, de Gotemburgo - Suécia foi lançado ao mar em 1948 e salvou 425 passageiros do Andréa Doria. O navio sueco era comandado pelo capitão Gunnar Nordenson.
A colisão do Andrea Doria e Stockholm causou também grande controvérsia entre navegantes experientes. Alguns chegaram afirmar que o acidente ocorreu em razão da grande velocidade dos navios e do excesso de confiança no radar, durante o forte nevoeiro.
Entre os navios que atenderam ao pedido de SOS do transatlântico Andrea Doria, estava o navio de passageiros francês Ile de France, que terminaria o resgate como um verdadeiro herói.
“O Ile de France” recebeu entusiástica recepção ao chegar à Nova Iorque, semelhante aos que recebem os navios em viagem inaugural, devido ao fato heróico, o maior salvamento marítimo da História.
O belo navio adernou (inclinou) após ter sido
atingido pelo navio sueco. Reprodução.
O presidente dos Estados Unidos, Eisenhower, elogiou a operação de salvamento, declarando que foi realizada “nas mais belas tradições da marinha mercante”.
Sem necessidade
O Ile de France estava a 44 milhas (81,5 quilômetros) do local do choque, em viagem a Europa. O comandante do Transatlântico, em principio, considerou que já havia várias embarcações rumando para o Andrea Doria, pensando que não seria necessário gastar mais combustível e atrasar a chegada ao continente europeu.
Para a navegação, tempo é dinheiro. Um retardamento na programação de um navio causa prejuízos consideráveis ás companhias de navegação. Mas quando se trata de salvar vidas, o dever está acima dessa necessidade.
A bordo do Ile de France, os tripulantes tiveram a informação de que os botes salva-vidas do Andrea Doria não poderiam ser lançados à água.
O rápido atendimento aos sobreviventes do naufrágio fez o
transatlântico Ile de France ser recebido como herói, no porto
de Nova Iorque. Reprodução.
A decisão de alternar o rumo do Ile de France mudou também o destino das pessoas resgatadas. Às 5 horas da manhã de 1956, apenas o comandante do Andrea Doria e 19 tripulantes estavam a bordo.
Abandono
Às 05h30, conseguiram persuadir o comandante a deixar o transatlântico. Por tradição, o capitão de um navio é o ultimo a abandoná-lo – não apenas por motivos sentimentais, mas também práticos. Quando um navio é abandonado, qualquer pessoa tem direito de ir a bordo e rebocá-lo para um porto, se ele estiver flutuando. Em caso de naufrágio, quem recupera a embarcação também conquista direitos. O Andrea Doria afundou ás 10h09. Ele continua no fundo do mar, a 75 quilômetros a sudeste da Ilha de Nantucket, na costa dos Estados Unidos.
Atualmente, o custo estimado do Andrea Doria corrigido a inflação a partir da sua viagem inaugural em 14 de janeiro de 1953, seria aproximadamente US$ 300 milhões (R$ 480 milhões).
O transatlântico ajudou a marcar o renascimento da marinha italiana, que foi em parte destruída durante a Segunda Guerra Mundial.
O gêmeo do Andrea Doria, Cristoforo Colombo, fotografado na
cidade italiana de Veneza, por volta de 1970. Acervo: L. J. Giraud.
Houve tentativas para retirá-lo do seu repouso no fundo do mar. Nenhuma delas conseguiu sucesso. Uma tentativa em 1964 resultou no resgate da estátua de bronze do Almirante Andréa Doria, nascido no século XVI, do aparelho de radar e de um holofote de 1.000 watts, cuja lâmpada original ai da funcionava.
Seu comprimento era de 214 metros, sua largura era 28 metros, e sua arqueação bruta era de 29.083 toneladas, velocidade: 23 nós. Sua tripulação era composta de 575 pessoas e transportava 1.241 passageiros. Foi construído no estaleiro Ansaldo, em Sestri – Genova. Seu lançamento se deu em 1951.
A lembrança deste artigo, feito em parceria com o amigo e jornalista Armando Akio, publicado em A Tribuna, na quinta-feira 24 de novembro de 1994, surgiu durante recente jantar, em minha residência, onde compareceu o escritor de assuntos marítimos José Carlos Rossini. Na ocasião, ele recordou que seus familiares, de descendência italiana, na época proprietários do Restaurante Bologna de São Paulo, que tinha uma filial em São Vicente próximo à Ponte Pencil, ficaram consternados com o acidente que vitimou o célebre navio. Realmente foi um fato lamentável, a Cidade recebeu, por dias seguidos, notícias do acidente através de A Tribuna, do Diário de Santos, pelas rádios locais e de São Paulo, e pelo Repórter Esso, noticiário transmitido pela TV Tupi.
Assim, grande parte dos santistas sentiram muito esse triste acidente, mesmo o Andréa Doria nunca ter passado por Santos, pois estavam acostumados com as escalas periódicas dos transatlânticos da maior armadora italiana, que eram muito conhecidos, dentre eles: Conte Biancamano, Conte Grande, Giulio Cesare e Augustus. Os mais vividos com certeza se recordam desses navios de passageiros.
Ressalto que este artigo não é técnico, o seu intuito é recordar rapidamente acontecimentos do naufrágio do mais elegante transatlântico italiano da época.