Sábado, 27 Abril 2024

Fiquei emocionado ao descobrir - relendo uma edição de 1954 de A Tribuna - um texto sobre o Arlanza, que tantas vezes visitou Santos.

 


O Arlanza deixando Santos, em cartão-postal de 20 de

setembro de 1932. O famoso navio transportou o príncipe de

Gales e Afonso XIII, além de várias pessoas ilustres.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

O autor é desconhecido, mas se imagina um homem com 70 anos na época, profundo conhecedor do transatlântico inglês e que teria trabalhado em uma casa exportadora de café, termo usado no comércio cafeeiro até os anos 60 do Século 20.

O escrito foi encontrado dentro de um livro antigo, adquirido em um sebo. O texto publicado no jornal santista é ilustrado com uma foto do Arlanza, tirada antes da Primeira Guerra Mundial.

Porém, é bom lembrar que, no ano de 1903, Ower Philipps passou a comandar a Royal Mail e fez a encomenda de seis cargueiros, além de nove navios de passageiros, de tamanhos consideráveis, a saber:

Aragon (1905),
Amazon (1906),
Araguaya (1906),
Avon (1907),
Asturias (1907),
Arlanza (1912), o nosso protagonista,
Andes (1913),
Alcantara (1913) e
Almanzora (1914), cuja viagem inaugural foi em 1920.

 

O Arlanza, atracado nas proximidades do Cais do Armazém

23 da Companhia Docas de Santos, nos anos 20. (Reprodução:

Fundação Arquivo e Memória de Santos, da Prefeitura Municipal)

 

Vale lembrar que a Royal Mail Line, que anteriormente tinha o nome de Royal Mail Steam Packet Company, navegou pela costa sul-americana por mais de um século.

Eis o texto da crônica:

”O clichê reproduz fotografia tirada do Arlanza saindo do Porto de Santos em viagem anterior à Primeira Guerra Mundial, dois anos antes de cuja deflagração em 1914, havia sido construído em Belfast e posto na linha Mala Real Inglesa para a América do Sul.

Naquele conflito o Arlanza foi convertido em unidade armada do 10.° Esquadrão de Cruzadores, tendo entrado em ação em abril de 1915.




Patrulhou os mares do norte, desde então a outubro, chegando até a Rússia, de onde ao sair, a 20 do mesmo mês, de Arkangel, conduziu um numeroso grupo de oficiais, e portador de uma carta autógrafa do Czar, expondo ao governo inglês as necessidades do Exército e da frota russos.

Nessa ocasião também levava um carregamento de platina avaliado em 500 mil libras esterlinas e, tendo dois dias depois batido em uma mina, mas assim mesmo pôde continuar a viagem, embora rebocado.

Voltando às regiões glaciais ficou preso entre gelos de novembro de 1915 a junho de 1916, o que o obrigou a uma temporada nos estaleiros, de onde saiu em novembro de 1916 para continuar o patrulhamento, que fez até agosto de 1917, quando passou para o serviço de comboios e fez também viagens a Santos.


O transatlântico Arlanza media 179,5 metros de
comprimento e tinha três hélices – imagem da década de
1920. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)


Foi desmobilizado em dezembro de 1918, no Porto de Liverpool, mas somente em julho de 1920 voltou à sua linha regular da América do Sul tendo percorrido em ação de guerra 145.816 milhas (270.050 quilômetros).

De nosso porto nunca mais se afastou, e a última viagem de volta à Inglaterra deu-se em agosto de 1938, para ser destruído.

Nos seus 26 anos de serviço o Arlanza navegou 2 milhões de milhas (3 milhões 700 mil quilômetros), e recebeu uma placa de bronze, na qual constavam os dizeres:


O Arlanza, visto por bombordo, mostrando a bela silhueta.
É de se notar que havia uma instalação onde ficavam o
passadiço e acomodações, refeitórios e salões dos oficiais de
náutica. Cartão-postal da década de 1920. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)


“O salvamento de um navio mercante italiano, o Casmona, o transporte do príncipe de Gales, do Rio para Grã-Bretanha, e o transporte do rei Afonso XIII, quando este monarca tinha visitado a Inglaterra, em julho de 1930, e regressava à Espanha”.

Se não é tudo isso que nos dá saudade do Arlanza, é a sua regularidade pelos muitos anos de escalas em Santos, como um forte elo da corrente de boas relações entre os dois povos.

Lembramo-nos de que o último comandante do Arlanza era o capitão Artur Coks. Por onde andará ele agora? Sobreviveu à guerra ou não?”

Ficha técnica
Nome: Arlanza
Bandeira: Grã-Bretanha
Armadora: Royal Mail Line
Estaleiro construtor: Harland & Wolff, de Belfast
Lançamento ao mar: 23 de novembro de 1911
Viagem inaugural: 8 de junho de 1912
Comprimento: 179,5 metros
Boca (largura): 19,90 metros
Deslocamento: 15.044 toneladas
Velocidade: 17 nós (31,4 km/h)
Propulsão: Turbinas a vapor com potência de 14.000 HP
Passageiros em 1.ª classe: 400
Passageiros em 2.ª classe: 230
Passageiros em 3.ª classe: 760

Mais imagens:


Bela imagem do Arlanza, rebocado em um dos portos de escala
das linhas regulares que cumpria. (Reprodução Internet)



O transatlântico Araguaya, da classe A, é homenagem da
armadora britânica ao nosso famoso Rio Araguaia (do dialeto
Tupi: rio das araras ou papagaio manso), que marca a divisa
de Mato Grosso e Goiás. Fazia a linha Southampton-Buenos
Aires, via Cherburgo, Vigo, Lisboa, Recife, Salvador, Rio de
Janeiro, Santos e Montevidéu. Navegou de 1906 a 1942.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)



O transatlântico Avon, atracado no Porto de Santos por
volta de 1910. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)



O transatlântico Almanzora navegou durante 32 anos.
Participou das duas guerras mundiais, a serviço do Almirantado
da Grã-Bretanha. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)



O Avon, de 1907, em manobra de desatracação rumo a mais uma
viagem, em cartão-postal da Editora M. Pontes & Comp, que ficava
na Rua Quinze de Novembro 15, no Centro Histórico Santos.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

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