O cruzador Barroso, da Marinha de Guerra do Brasil, foi um navio de guerra que - mais do que combater - foi uma verdadeira escola de marinharia para a Esquadra do País.
Barroso da Marinha do Brasil. (Reprodução:Marinha) |
Antes de ser incorporado à Armada nacional, em 1951, prestou serviços para os Estados Unidos, inclusive na Segunda Guerra Mundial, participando do desembarque na Sicília, Itália – em 10 de julho de 1943, quando as tropas aliadas começaram o combate contra as forças nazistas em terras da Europa - e do famoso Dia D, em 6 de junho de 1944, quando os aliados desembarcaram na costa da Normandia, na França Atlântica.
Antes de contar um pouco da história do Barroso a serviço do Brasil, é interessante conhecer antecedentes da embarcação. Comecemos com a construção. O cruzador Philadelphia, nome original desse navio de guerra, teve início em 1935.
Ele foi lançado ao mar em 1938 e concluído em 1939, ano do início da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos ainda não tinham entrado no conflito internacional - o que ocorreu no final de 1941, após o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, no Havaí.
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Na vida de um navio guerra nem todo o tempo é de luta, embora os tripulantes sejam treinados constantemente para enfrentar batalhas navais. Em momentos de paz, a embarcação também vive alegrias que marcam.
No caso do Barroso, um desses instantes de celebração foi participar dos festejos de coroação da Rainha Elizabeth II, da Grã–Bretanha, em 2 de junho de 1953, juntamente com 221 navios de guerra de várias nações.
Ao longo da folha de serviços ao Brasil, o Barroso realizou várias viagens, conduzindo estudantes do Colégio Naval e da Escola Naval e alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros da Marinha.
O cruzador participou das comemorações em memória do Infante Dom Henrique, realizadas em 1960, lembrando os 500 anos da morte do fundador da famosa Escola de Sagres, um celeiro de navegadores que inscreveram o nome de Portugal no mapa das descobertas marítimas da Idade Média.
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A propósito do desfile naval transcorrido em Lisboa, em 1960, afastamo-nos do tema do Barroso para ressaltar que na época o Brasil tinha dois belos veleiros, o Almirante Saldanha da Gama e o Guanabara, que não participaram da parada marítima.
O Almirante Saldanha da Gama era transformado em navio hidrográfico. Os mastros do veleiro foram retirados e nova superestrutura foi construída.
O Guanabara encontrava-se em transferência para a Marinha de Portugal, que o rebatizou de Sagres. Com este nome, ele veio a Santos várias vezes.
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Participou de regata em Lisboa
Retomemos agora ao Barroso. O cruzador participou da regata em comemoração dos 500 anos da morte do Infante Dom Henrique, fundador da Escola de Sagres. Ele transportou o então presidente da República do Brasil, Juscelino Kubitscheck, e comitiva a Lisboa, Portugal.
A informação é dos comandantes Hélio Leôncio Martins e Antonio Augusto Cardoso de Castro, autores do livro “Histórias Navais Brasileiras”, no capítulo A Regata que Veio do Passado, obra editada pelo Serviço de Documentação da Marinha do Brasil.
Na chegada do Barroso a Lisboa, este foi escoltado pelas fragatas portuguesas Diogo Cão e Corte Real.
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No dia 6 de agosto de 1960, o cruzador brasileiro entrou na Barra do Rio Tejo, que estava lotada, com centenas de navios de guerra embandeirados, ao som de ruídos, apitos e manifestações de boas-vindas.
No dia seguinte, os navios fizeram o desfile em frente ao Promontório de Sagres, que deu nome à célebre escola de navegação. As manobras navais foram consideradas magníficas, apesar de não ter havido ensaio da operação.
Martins e Castro escreveram: “Após o término do desfile foi assinalada aos navios liberdade de ação, devendo todos rumarem para os fundeadouros da foz do Rio Tejo e proximidades. Em português castiço, a ordem de operações rezava: ‘Às 12h30, fim do desfile. Os navios destroçam rumo aos fundeadouros de Lisboa.’ ”
O famoso Barroso, deixando a Baía da Guanabara rumo a
uma das várias viagens de instrução com cadetes e
grumetes da Marinha do Brasil. (Reprodução: Foto: Serviço
de Documentação da Marinha)
O cruzador La Argentina deu início à regata, que anunciava o clímax da festa. Navios de guerra de diversos tipos e nações, veleiros - todos davam o máximo de si. O cruzador francês Colbert dominou os concorrentes com facilidade, conquistando o primeiro lugar.
O Barroso imprimiu mais força às maquinas e conseguiu passar o La Argentina. O Des Moines, dos Estados Unidos, estava a ponto de ficar na segunda posição, mas o heróico Barroso logrou ultrapassar o cruzador de bandeira americana. Foi uma honrosa colocação para uma embarcação que já contava mais de duas décadas de existência.
“O Desfile Naval de Sagres”, comentam os autores do livro, “foi realmente um espetáculo emocionante, tanto pela participação dos navios modernos, como, em especial, pela fantasmagórica aparição dos veleiros saindo da névoa”.
O triste fim do legendário, heróico e guerreiro Barroso:
sucata. Imagem de 1974 tirada próxima à estação das barcas
em Vicente de Carvalho, no Município de Guarujá, integrante
do complexo do Porto de Santos. (Reprodução)
Lembrando, o cruzador Barroso, com o prefixo C-11 no casco, ex- Philadelphia, que tinha o prefixo CL-41, foi o quarto navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, batismo em homenagem ao Almirante Francisco Manuel Barroso da Silva, Barão do Amazonas.
Barroso, entre outros serviços prestados ao Brasil, lutou na Guerra do Paraguai, e inscreveu o nome na História do País ao vencer a Batalha Naval do Riachuelo, em 11 de junho de 1865.
O fim do Barroso ocorreu em tempos de paz. Em 1973, a Marinha do Brasil descomissionou o navio. Ele foi desmantelado em 1974, em Vicente de Carvalho, o distrito do Município de Guarujá, cidade que integra o complexo do Porto de Santos.
Ficha Técnica
Nome: Barroso
Tipo: Cruzador
Classe: Brooklin
Bandeira: Brasil
Nome anterior: Philadelphia
Incorporação à Marinha dos Estados Unidos: 1939
Incorporação à Marinha do Brasil: 1951
Comprimento: 185,40 metros
Boca (largura): 18 metros
Deslocamento: 13.400 toneladas
Propulsão: Turbinas a vapor, quatro hélices
Potência: 100.000 cavalos – vapor
Velocidade: 32 nós (59 km/h)
Armamento: 15 canhões de 152mm em 5 torres tríplices, 8 canhões de 127mm em plataforma (não eram em torres), 28 canhões de 40 mm antiaéreos e numerosas metralhadoras
Tripulação: 58 oficiais, 35 suboficiais, 168 sargentos e 809 marinheiros
(*) Esta coluna foi escrita em parceria com o jornalista Armando Akio