A partir de hoje começam a chegar ao Porto de Santos os transatlânticos desta temporada de verão. Nada como vê-los ao vivo e a cores, chegando ou saindo, em diferentes lugares da Ponta da Praia.
Uma das coisas que mais fascinam as pessoas, creio eu, são as imagens de navios, que chamam bastante a atenção – até dos que não os apreciam. Principalmente se pintadas para cartões-postais, gravuras ou em óleo sobre tela, onde ficam com especial brilho, a mostrar a grandeza e imponência desses gigantes dos mares.
A bordo do Funchal, deixando Santos, o casal Julio
e Palmira Paes segue para um cruzeiro no verão
de 1996. (Reprodução: Acervo J.A.R. Paes)
No Século 20, surgiram inúmeros artistas plásticos que imortalizaram, através de pinturas, os mais famosos navios de passageiros de todos os tempos, como:
- Charles Dickson,
- Sam J. M. Brown,
- Odin Rosenvinge,
- Bernard W. Church,
- John Smith,
- Gordon Ellis, que pintou o transatlântico português Vera Cruz, e
- Kenneth Denton Shoesmith, pintor escocês que retratou vários navios da Royal Mail Line em Santos, entre eles o Andes, o Asturias e um dos Highlands.
O navio misto (carga e passageiros) Cantuária, do Lloyd
Brasileiro, o primeiro em que o autor viajou, pintado em
aquarela, exposta na minha casa de praia.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Conheço um excelente artista que faz excelentes obras no anonimato e sem alardes. Trata-se de um grande amigo, Julio Augusto Rocha Paes, grande admirador de transatlânticos, automóveis antigos e coisas interessantes do passado.
Ele dispõe de um arquivo que é resultado de anos de pesquisas feitas em livros, revistas, folhetos – isso adicionado ao que viu e ouviu das pessoas que vivenciaram acontecimentos anteriores ao nascimento dele.
Tudo somado resulta em um grande manancial de conhecimento e sabedoria, que é transmitido aos amigos que admiram o tema.
Aquarela do transatlântico italiano Giulio Cesare, navegando
na altura da Ponta da Praia. (Reprodução de tela de J.A.R. Paes)
Assim, Julio Paes pintou em aquarela transatlânticos conhecidos como o Conte Grande, o Giulio Cesare, o Cantuária e o Funchal, além de outros tipos de embarcações, como cargueiros, veleiros e traineiras.
Às vezes Julio me surpreende com uma dessas maravilhas, que são colocadas em molduras, expostas em meu escritório e na minha casa de praia, que, com toda a sinceridade, deixam os ambientes dignos de todos os elogios por parte dos que as contemplam.
Imagem do transatlântico britânico Andes, no Porto de Santos
em 1953. Imagem do cartão de boas-festas enviado em 2004
por Julio Paes. (Reprodução do cartão de J.A.R. Paes)
No dia 6 de dezembro de 1999, quando eu e a minha esposa Creusa comemoramos Bodas de Prata, tivemos o grande prazer de sermos presenteados com um quadro de rara beleza.
Nele, o protagonista é o encouraçado germânico Graff Spee, deixando o Porto de Montevidéu, Uruguai, em 1939.
Só Julio é capaz de tal arte!
Julio Paes, além disso tudo, constrói embarcações de papel com cola, que, graças à sua esmerada técnica, ficam sólidas e resistentes.
Um clipper inglês utilizado na Rota do Chá por volta de 1860.
Óleo sobre tela no tamanho 50 x 60 - dezembro de 1998
(Reprodução de tela de J.A.R. Paes)
Sou um homem de sorte, pois, além de várias de suas aquarelas, tenho na minha coleção dois excelentes cargueiros, feitos de papel, dos Anos 40 e 50 do Século 20.
Esse amigo é uma verdadeira caixa de surpresas. No Natal de 2004, por exemplo, me enviou um cartão de boas-festas.
A ilustração do cartão de boas-festas é do transatlântico britânico Andes, da Royal Mail Line, manobrando com o auxílio do rebocador Marte, da Wilson Sons, no estuário do Porto de Santos, em junho de 1953.
Que maravilha!
Maravilhosa pintura do encouraçado germânico Graff Spee
ancorado em Montevidéu em 1939, pouco antes de ser afundado
pelos cruzadores britânicos Ajax, Exeter e Achilles. Pintado e
presenteado por J. A. R. Paes durante as Bodas de Prata do
autor, em 1999.
Repetindo, as surpresas são incontáveis, principalmente as histórias por ele contadas em suas correspondências, como um cruzeiro a Buenos Aires, Argentina, feito a bordo do Anna Nery, do Lloyd Brasileiro, cheia de detalhes interessantes, que oportunamente contarei.
Atualmente, Julio reside em São Paulo e exerce a profissão de corretor de imóveis. Ele já morou e trabalhou em Santos, em atividades de comércio exterior.
Já viajou no navio misto (de cargas e passageiros) Mauá, do Lloyd Brasileiro (anteriormente pertenceu à Moore McCormack Lines), e duas vezes no navio de cruzeiros marítimos Funchal, que me parece ser o navio do seu coração.
Lindas aquarelas decoram os aposentos da residência do casal
Julio Paes. O veleiro, ao centro, é o Eagle, da Guarda Costeira
dos EUA. Pintura a óleo sobre tela – 1998.
(Reprodução: Acervo J.A.R. Paes)
Falar desse amigo requer muito tempo, pois são tantas suas qualidades, que acho que não caberiam num CD de computador.
Isto, não deixando de mencionar que sempre me prestigiou nas cerimônias de lançamento dos meus livros, sempre acompanhado de sua esposa, Palmira Paes, e de sua filha.
Amigo Julio Paes, sinceramente desejo que Deus continue sempre a iluminar o seu imenso, grandioso dom, assim nos permitindo apreciar tudo de belo que você faz.
Obrigado por esses deleites!
Dois cargueiros feitos por Julio Paes em papel, cola e palitos
de churrasco, presentes ofertados em 2001-2002.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Este artigo é uma dedicada homenagem a esse grande homem que é Julio Augusto Rocha Paes.
Veja mais imagens:
Julio Paes, quando menino viajou, em 1949, no navio Mauá,
irmão do Cantuária, da extinta armadora Lloyd Brasileiro.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
O transatlântico de cruzeiros marítimos Funchal - atracado
junto ao antigo Armazém de Bagagem do Porto de Santos,
tendo ao fundo o famoso Monte Serrat - é o navio do coração
de Julio Paes. (Reprodução: Foto de Edson Lucas, presidente
da Associação Carioca de Cartofilia - clicada em 1996)