Sobre o Porto da Cidade de Santos, um dos meus grandes inspiradores, o poeta Narciso de Andrade, em um dos seus escritos, em A Tribuna, menciona:
"Se eu não tivesse horror dessa palavra, diria que o Porto de Santos (cais) é um repositório inesgotável de histórias e acontecimentos. Pensando bem, cada navio que atraca é um acontecimento".
A famosa Praça da Independência, onde ocorrem os grandes
acontecimentos da Cidade, com o monumento em homenagem aos
Irmãos Andrada. Ao fundo, o prédio onde funcionou o Cine
Atlântico, o Bar Regina, a Cantina Fiorentina e lojas de moda.
É de se notar que os bondes passavam pela conhecida praça
– 1952. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Para falar da parte mais genuína de Santos, ninguém melhor do que esse poeta, que também é advogado e foi repórter, lá pelo final da década de 1940, na seção marítima e portuária de A Tribuna, precursora do Porto & Mar, criado em 1952 por Francisco de Azevedo.
Voltando às coisas do passado da Cidade do Porto de Santos, no artigo anterior desta coluna, foram lembradas coisas interessantes de nossa querida Santos, como: hotéis, restaurantes, cafés, confeitarias, mercearias e cinemas. Também foram esquecidas muitas coisas do ontem.
Imagem panorâmica da praia de Santos e seu jardim, mundial-
mente conhecido. Na ocasião desta imagem, existiam poucos
prédios e apartamentos na orla – 1951. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Peço desculpas por cometer essa grande injustiça. Jamais poderia esquecer de estabelecimentos que deixaram os seus nomes gravados, para todo o sempre, no Livro de Honra da Cidade, como:
- Sapatarias Branca de Neve, Dunga e Dengoso, destinada as crianças (tamanho até o n.° 37),
- Casa Afonso Moreira,
- Casa Moyses,
- Casa Almeida,
- Ótica Santista,
- Casa Fonseca,
- Casa do Rádio,
- Café Adelino (que delícia!),
- Galeria Brancato,
- o mercadinho do Gonzaga (local onde hoje está o shopping center Miramar),
- o Restaurante Quinta das Fontainhas,
- Lanches Independência e Regina
- Cantinas Firenze e Fiorentina,
- Bar Gonzaga e
- o inesquecível Restaurante e Pizzaria Tamoio (Canal 5 com Pedro Lessa): o delicioso sabor daquelas pizzas, nunca mais!
Também não posso esquecer o Mercado Municipal, no Bairro do Paquetá, que durante muitos anos foi o fornecedor de alimentos de Santos – fazia as vezes dos atuais supermercados. Lá tinha de tudo.
Cartão-postal da Praça da Independência mostrando: o bonde,
o Edifício Independência, que abrigou o Cine Independência, à
esquerda a estação de ônibus para São Paulo da Viação Cometa e,
por trás da estátua, o Parque Balneário Hotel – 1965.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Meu pai foi um grande cliente das bancas de frutas, cereais, verduras, carnes e peixes e frangos que existiam no Mercado Municipal.
Peço licença para voltar lá pelo ano de 1952, quando era menino, para recordar a época do Natal: as lojas ficavam abertas até as 22 horas.
No Centro, a impressão era de que todos os santistas se dirigiam em peso para lá. As lojas ficavam superlotadas.
Cartão-postal da nossa conhecida Praça José Bonifácio, com sua
bela catedral, o Teatro Coliseu. Na época, 1948, ainda não existi-
am nem o Fórum nem a estátua que homenageia os soldados que
participaram da Revolução Constitucionalista de 1932.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
E as ruas, com decoração de Natal, ficavam com um colorido todo especial. (Falo dos anos 60 até o início de 1980, quando começaram a aparecer os shopping centers.)
Mas, na época natalina, a loja que mais me fascinava era a Sears, em imóvel que tinha duas entradas, uma na Rua Amador Bueno e a outra na Rua São Francisco - era a maior de Santos. Lá a Sears vendia de tudo, e seguia o estilo da matriz em Chicago, Estados Unidos. O slogan da loja era: "Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta".
Cartão-postal da Praça Rui Barbosa, com a estátua que homena-
geia o Padre Voador, Bartolomeu de Gusmão (deveria ser a de
Rui Barbosa), a Igreja do Rosário, uma banca de jornal típica dos
anos 30, bonde, homens de negócio. Ainda não existia o Edifício
Leôncio Perez, onde funcionou a Casa Hesperia e a Johnson Line.
Dizem que era a praça dos agiotas – Década de 1930.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Na Cidade circulavam alguns papais-noéis, mas nunca houve um igual ao da Sears – o velhinho vestido de vermelho daquela loja era o mais simpático de todos.
Muitas coisas inesquecíveis de Santos aqui não serão lembradas por serem inúmeras.
Finalizando, quero homenagear Fernando Martins Lichti, que, além de ter sido amigo de meu pai, Laire Giraud, é presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, entre muitas outras funções. Lichti editou três volumes da História de Santos – Poliantéia Santista.
A seguir, reproduzo parte do texto de uma carta por ele enviada à minha pessoa.
“Ilmo. Sr.”
“Laire José Giraud”
“Saúde e paz”
A nossa praça rainha de Santos, a Mauá, em um dia comum do
início da Década de 30 do Século 20, com bondes, pedestres e
automóveis na altura do Café Carioca. Um detalhe: os bondes
faziam ponto final em frente à Prefeitura. Posteriormente, um
dos prefeitos que a Cidade teve determinou que o ponto fosse
mudado para a outra extremidade da praça por causa do barulho
causado pelos bondes. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
“Apesar de não nos conhecermos pessoalmente, acompanho muito seus escritos em A Tribuna”.
“Acresce um fato que poderá nos identificar como amigos: o fato de ter sido grande amigo de seu saudoso pai, companheiro de lides político-partidárias, no velho PTB (Getúlio Vargas) e companheiros de tertúlias, na Rua Frei Gaspar, em Santos, na Floricultura Bouquet, do Virgílio, na Agência Magalhães (livraria), do Mendes, e em minha loja de eletrodomésticos, em frente a eles... dos anos 1945 aos primeiros anos da Década 50, quando, com o falecimento de meu pai, fui trabalhar no Jockey Club S. Vicente – na outra extremidade da ilha. Ainda assim, nossos encontros aconteciam em muitos sábados".
O Bar e Restaurante Atlântico, um dos pontos mais alegres de
Santos. Sempre muito bem freqüentado, além de possuir um
excelente chope e cozinha internacional. Deixou saudades. O local
é onde hoje está a loja C&A, na esquina da Avenida Ana Costa
com a praia – 1970. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
“Sei que seu pai era médico no Macuco, talvez na Pedro Lessa... Mais tarde fiquei noivo e casei com uma moça do Macuco, da Rua Delfim Moreira, e por coincidência seu pai era o médico do pai dela”.
“Sei, pela Coluna do Leitor de A Tribuna, que você é um dos maiores colecionadores de cartões-postais de Santos (...)”.
Na continuação desse texto, datado de 8 de julho de 1996, Lichti informava que estava editando o terceiro volume da História de Santos – Poliantéia Santista, e solicitava imagens antigas da Cidade para ilustrar a obra, o que atendi com muito gosto.
O famoso Restaurante Vasco da Gama (do mesmo grupo do
Restaurante Paulista), que funcionava na Avenida Almirante
Saldanha da Gama, 33, na parte frontal do Clube Vasco da Gama
– final dos Anos 60 do Século 20. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Lembro que todo santista deveria ter essa obra na estante de livros de sua casa, pois nele realmente está o passado da nossa Cidade.
Os três volumes estão à venda na Livraria Martins Fontes, no Gonzaga.
O leitor nota claramente que, no pequeno texto de Lichti, rico em conteúdo, havia grandes recordações e menções de antigos estabelecimentos de Santos.
Lembro um comentário feito pela jornalista Arminda Augusto, editora adjunta de A Tribuna.
Interior do Restaurante Don Fabrizio: foi o mais chique e ele-
gante da Cidade durante os anos 40 aos anos 80. Tinha o slogan:
"Ver Santos e Depois... Conhecer Don Fabrizio. O melhor restau-
rante do litoral paulista". Funcionava na Avenida Ana Costa,
482, anexo ao Edifício Lutécia – 1969. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Arminda lembra que no passado as pessoas se relacionavam e se comunicavam entre si com grande espírito de amizade e camaradagem. Nos dias de hoje há mais isolamento e a comunicação passou a ser virtual.
O que é uma grande verdade. Estamos cada vez menos nos falando pessoalmente, e vendo menos os nossos amigos.
Este artigo mostra imagens dos anos dourados e os da minha juventude.
Salão de mármore do Parque Balneário Hotel, durante um
baile no final da Década de 1960. Um comentário: o prédio
deveria ter sido tombado (e não demolido, para dar lugar ao
shopping center), na Cidade nunca vai existir nada igual.
(Reprodução: Acervo: L. J. Giraud)
Para ele, selecionei imagens do alegre Bar e Restaurante Atlântico, do Restaurante Vasco da Gama (pertencia aos proprietários do tradicional Restaurante Paulista), de interiores do Restaurante Don Fabrizio, do antigo Parque Balneário Hotel e da fotogênica Santos.
Brevemente, lembraremos os bondes da Cidade do Porto de Santos. Aguarde.
Boas recordações!