Segunda, 06 Mai 2024

Já há muitos anos o complexo portuário de Santos ostenta o título do maior da América Latina em movimentação de carga geral, e não é por acaso.

 

Cartão-postal de 1904, mostrando os carretões que

transportavam sacas de café dos armazéns para os navios

e os trabalhadores atuando no embarque.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Em 1909, o porto de Santos exportou mais de 9 milhões de sacas de café, embarcadas para os diversos centros consumidores do Mundo.

Tudo isso, imagine, transportado dos armazéns gerais ou do armazém da São Paulo Railway (onde eram descarregadas as sacas quando chegavam do Interior) para o costado do navio através de carroças e carretões.

Lembrando também que as sacas subiam para bordo nas costas dos trabalhadores, como podemos ver através dos cartões-postais e fotografias da época.

De forma direta e indireta, o cais contava com grandes equipes de trabalhadores e funcionários das mais variadas categorias profissionais, como:

estivadores,
trabalhadores da Companhia das Docas de Santos,
cocheiros,
ensacadores de café,
marítimos,
ferroviários,
consertadores,

engenheiros,
médicos,
contadores,
maquinistas,
motoreiros,
calceteiros,
manobreiros,
atracadores,

práticos do porto,
funcionários de agências de navegação,
das casas exportadoras de café.

Entre muitos profissionais, havia também fiscais da Alfândega, da Saúde do Porto, da Fazenda do Estado, policiais - a lista é imensa.

Na Cidade havia numerosos sindicatos, que representavam as várias classes, defendendo assim os seus sindicalizados juntos aos empregadores.

Embarque de banana através de moderno equipamento

para o mercado europeu – Anos 20 do Século 20.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Um deles foi o Sindicato dos Operários Portuários. Diga-se de passagem, entre 1964 e 1966, fui funcionário do maior sindicato da Baixada Santista, o Sindicato dos Operários nos Serviços Portuários de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão, cuja sede ficava na Rua General Câmara, 258, ao lado da Praça Tereza Cristina, no Centro. Na época, o Sindicato tinha mais de 10.000 associados.

Esse Sindicato, que hoje tem a sigla Sintraport - Sindicato dos Operários e Trabalhadores Portuários em Geral nas Administrações dos Portos, Retroportos e Terminais Privativos do Estado de São Paulo, contava com uma excelente escola de Ensino Fundamental (antigo primário).

Por essa escola passaram várias pessoas ilustres da nossa Cidade. Entre elas a jornalista Lídia Maria Melo, de A Tribuna, autora do livro "Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós". Um exemplar do livro encontra-se na biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos, em Washington.

Lídia era filha de um sindicalista portuário do passado, já falecido, Iradil Santos Melo, que na época da Revolução de 64 foi levado para bordo desse navio, que serviu como prisão para os que eram considerados subversivos, por terem defendido os interesses da classe.

O Raul Soares ficava fundeado no Estuário de Santos. Para esse navio-prisão eram transportados os presos políticos, detidos após a instalação do regime militar no Brasil.

Jaime Mesquita Caldas, hoje historiador, mas na época funcionário da Polícia Marítima do Governo do Estado de São Paulo, trabalhou em diversos plantões noturnos na lancha que transportava os políticos para o Raul Soares.

 


Dois possantes rebocadores da Wilson Sons, provavel-

mente o Marte e o Saturno, desencalhando o cargueiro

MooreMacMail em 1963. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Entre os detidos que Jaime Caldas levou para bordo do navio-prisão estavam, entre outros, Mário Covas Júnior (1930-2001) e Oswaldo Justo (1926-2003), que seria eleito vice-prefeito de Santos e foi cassado, após a cassação do prefeito eleito Esmeraldo Tarquínio. Justo, em 1984, se candidatou a prefeito, quando Santos reconquistou a autonomia política, e foi eleito prefeito.

As lembranças do Raul Soares, Jaime Caldas as fez por ocasião do lançamento do livro "Santos e Seus Arrabaldes", uma recuperação histórica das fotografias de Militão Augusto de Azevedo, que retratou Santos por volta de 1865. A obra foi patrocinada exclusivamente pela Cosipa - Companhia Siderúrgica Paulista.

Retomando o foco do texto de hoje: O Sindicato dos Operários Portuários dispunha também de um ambulatório médico-odontológico que atendia elevado número de pacientes e era um exemplo.

Meu pai, Laire Giraud, lá exerceu a profissão de médico por mais de 30 anos, formando um grande número de amigos entre os trabalhadores do porto, que o elegeram, em 1948, suplente de vereador. Ele chegou a assumir interinamente a vereança.

Foi também médico da Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Portuários (CAP), mais tarde o famoso IAPM – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos, que funcionava na Praça da República, onde hoje é um terreno que serve de estacionamento para os funcionários da Alfândega do Porto de Santos.

Fica expressa aqui a minha gratidão aos diretores, associados e colegas do Sindicato dos Operários Portuários (muitos já não estão entre nós), Sindicato que foi uma grande escola de vida e de sabedoria para mim.

Fotografias
Já que aqui é pura reminiscência, permitam-me acrescentar nesse texto de hoje duas interessantes fotografias.

Na primeira, aparece o meu pai - que ficou conhecido no meio portuário e marítimo como o Dr. Giraud - durante almoço no famoso Restaurante Marreiro, em 1943, na companhia de tios e do vereador Manoel Paulino, satisfazendo assim alguns amigos, que perguntam por que meu falecido pai não aparece nos meus artigos.

Deixando de lado essas agradáveis lembranças e voltando para o Porto de Santos, para sua movimentação, além dos incontáveis profissionais, eram necessários equipamentos terrestres e flutuantes, vitais como:

guindastes,
cábreas,
empilhadeiras,
tratores ferroviários,
locomotivas,vagões,
carroças - em um passado longínquo,
caminhões,
jamantas,
dalas,
sugadores de trigo,

rebocadores,
dragas,
batelões,
ferry-boats,
barcas d'água e de abastecimento de combustível,

lanchas portuárias,
entre vários outros.

Neste artigo, as imagens mostram várias daquelas modernidades, que hoje só estão na lembrança dos que as conheceram ou trabalharam no porto.

 

Vagões com sacas de café e o pequeno veículo

de reboque, conhecido como “reco”, por fazer

esse som ao ser feito o engate. Note-se que o

veículo tem apenas uma roda na dianteira -

período após a Segunda Guerra Mundial.

(Reprodução: Acervo Companhia Docas de Santos)

 

O rebocador São Paulo, de propriedade da Companhia Docas

de Santos, navegando pelo Estuário por volta de 1953.

(Reprodução: Acervo Companhia Docas de Santos)

 

O famoso prédio ambulatório da CAP, demolido por volta de 1970

para ali ser construído um prédio de 20 andares onde funcionaria

a Administração Portuária. Hoje é um estacionamento, na Praça

da República. (Reprodução: Acervo Companhia Docas de Santos)

 

O memorável rebocador Saturno, da Wilson Sons, na altura do

Armazém 1 da Companhia Docas de Santos, por volta de 1958.

(Reprodução: Acervo J. C. Rossini)

 

A legendária cábrea flutuante Sansão, da Companhia Docas de

Santos, vista no início dos Anos 70 do Século 20 (Reprodução:

Acervo Complexo Cultural do Porto de Santos, da Codesp -

Companhia Docas do Estado de São Paulo).

 

No antigo Restaurante Marreiro, foto de 1943, vendo-se à

esquerda meu pai, Laire Giraud, na época em que entrou para o

Sindicato dos Portuários como médico. Ele estava junto com a

sua tia Januária e o seu tio Mario Fernandes dos Santos, o

vereador Manoel Paulino - de terno escuro, que era sócio de

Mario no Marreiro - e com a outra tia de Laire, Josefa de

Andrade. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

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