Quinta, 18 Abril 2024

O artigo da semana passada, que recebeu o título “No início eram simples ilustrações”, contou rapidamente como surgiram os cartões-postais. O texto, cujo tema foi a cartofilia, emocionou sobremaneira os colecionadores e os que admiram esse meio de comunicação. Recebi vários e-mails, telefonemas, além de alguns comentários no rodapé do artigo, que me deixaram profundamente sensibilizado. Dentre eles cito as mensagens de Silvio Roberto Smera, Dimas Almada, Samuel Gorberg, Julio Augusto Rocha Paes e José Carlos Daltozo.

Assim sendo, resolvi reprisar um artigo publicado em 2007, de nome “Pintor retratou navios para cartões-postais”. Trata-se de Kenneth Denton Shoesmith, que através de sua pintura retratou várias cidades portuárias brasileiras, dentre as quais Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE).

Isso fez com que essas cidades ficassem conhecidas na Europa e pelo mundo afora, numa época em não existia nada de avançado em comunicações, com exceção dos correios e telégrafos.

Pela grande divulgação que fez da cidade de Santos, esse pintor britânico é merecedor de uma homenagem. Provavelmente, nossos governantes desconheçam esse fato que ocorreu nas primeiras décadas do Século XX. Eis o artigo:

Pintor retratou navios para cartões-postais

por Laire José Giraud e José Carlos Silvares

Um pintor desconhecido dos santistas é o responsável por dezenas de trabalhos que retratam áreas ainda virgens ou recém-construídas de Santos, realizados no início do século passado e que circularam pelo Mundo na forma de cartões-postais, levando mensagens de gente que passou pelo porto em transatlânticos famosos.


O ’’Asturias’’, navio irmão do ’’Alcantara’’, navegando no
canal do Porto de Santos (SP). Media 199,60 metros de
comprimento e navegou entre 1929 e 1957. (Reprodução:
Pintura de Kenneth Shoesmith, do acervo L. J. Giraud)

Kenneth Denton Shoesmith era o pintor oficial da Royal Mail Line (Mala Real Inglesa), uma das maiores e mais conceituadas armadoras britânicas, e viajou por todos os mares nos navios da companhia, contratado para fazer os cartões-postais que a armadora distribuía aos passageiros.

Nessas viagens, esteve várias vezes em Santos e aproveitou para retratar transatlânticos famosos, como o ‘Asturias’, entrando no canal do estuário, o ‘Alcantara’, visto a partir da Fortaleza da Barra, entrando no estuário, ou um dos ‘Highland’ em manobra de atracação na altura do Moinho Santista, na Rua Xavier da Silveira, visto a partir do Monte Serrat.

As pinturas foram feitas no início do século passado, antes da Segunda Guerra Mundial, provavelmente entre 1928 e 1930, quando nada existia na Ponta da Praia.
Passou também pelo Rio de Janeiro, onde retratou navios como o ‘Alcantara’ e o ‘Almanzora’, tendo ao fundo o Pão de Açúcar e a cidade com seus morros.

Mídia
Os cartões-postais da Royal Mail Line assinados por Kenneth Shoesmith ficaram famosos em todo o Mundo. São muito disputados pelos colecionadores.


Os transatlânticos da Royal Mail Line escalavam no Rio de
Janeiro (RJ). Aqui vemos o ’’Alcantara’’, passando pelo Pão de
Açúcar, tendo à direita da imagem o Corcovado, que ainda
não tinha a estátua do Cristo Redentor. (Reprodução: Pintura
de Kenneth Shoesmith, do acervo L. J. Giraud)

Ao contratar o pintor, a armadora utilizava-se de uma importante forma de mídia, de meio de comunicação, para propagar por todos os continentes a imponência de seus transatlânticos.

As companhias de navegação usavam assim, na escala comercial, o cartão-postal, que surgiu no Império Austro-Húngaro, em 1869, e que chegou ao Brasil em 1880, e tinha a mesma intenção dos cartões do Século X surgidos na China, como votos de felicidade, transformados pelo Renascimento em bilhetes de mensagens.

Shoesmith não foi o primeiro a assinar suas pinturas em cartões-postais. Outros pintores famosos, como John H. Fry, Roger Chapelet, Charles Dixon, Jack Spurling e Richard Oliver, sem mencionar os franceses, alemães, italianos e norte-americanos, contratados por diferentes companhias de navegação, também muito contribuíram para difundir a navegação e os principais portos.


O ’’Alcantara’’ em Santos, por volta de 1929, passando na
altura onde hoje se situa a linha do Ferry Boat. É possível ver
à direita a Fortaleza da Barra Velha - ou Fortaleza de Santo
Amaro. (Reprodução: Pintura de Kenneth Shoesmith, do
acervo José Carlos Rossini)

Antes de Shoesmith, na Royal Mail Steam Packet, a armadora que antecedeu a Mala Real Inglesa, outros dois pintores chegaram a retratar trechos de ruas e bairros de Santos e de Guarujá, Charles E. Flower e Oilette.

Nenhum deles, porém, destacou tanto o Porto de Santos como Kenneth Shoesmith, um inglês nascido em 1890 em Yorkshire e criado em Blackpool, que desde cedo dirigiu o talento para a pintura. Ele fez a escola de oficiais da Armada Britânica e chegou a ser cadete do navio ‘Conway’, de onde saiu para a fama.

Entusiasmo
Durante as viagens na Royal Mail, Shoesmith continuava o entusiasmo pelos desenhos e pintava os navios. Logo seus quadros foram reconhecidos pelos diretores da companhia e ele foi incentivado a pintar os principais navios da armadora, viajando pelo Mundo, agora como contratado da empresa.

Como a promissora carreira de pintor alcançou grande sucesso, Shoesmith deixou a Royal Mail e passou a trabalhar para a Turner & Dunnet, que detinha a conta publicitária da Cunard Line, onde pintou os transatlânticos ‘Scythia’, ‘Laconia’, ‘Lancastria’ e ‘Franconia’, além de ter realizado outros trabalhos.

Kenneth Shoesmith morreu em 1939, aos 49 anos, e grande parte de seu trabalho original se encontra exposta na Ulster Museum, de Belfast, na Irlanda. Deixou, eternizados, milhares de postais, que ainda circulam pelo Mundo.

Veja mais imagens


A série de navios ’’Highland’’ foi construída entre 1928 e 1929. 
A imagem é de um deles, atracando em Santos, puxado por
um rebocador. Os transatlânticos tinham os seguintes nomes:
’’Highland Brigade’’, ’’Highland Patriot’’, ’’Highland Princess’’,
’’Highland Chieftain’’ e ’’Highland Monarch’’. (Reprodução: Pintura
de Kenneth Shoesmith, do acervo L. J. Giraud)


O ’’Highland Brigade’’ navegou entre 1932 a 1959 e deslocava
14.131 toneladas. Era muito conhecido nos portos de escala.
(Reprodução: Pintura de Kenneth Shoesmith, do acervo L. J. Giraud)

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