Segunda, 06 Janeiro 2025

Em 1975, a estatal Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, fundada em 1890, a maior empresa de navegação da América Latina, anunciava a construção novo edifício sede, para o início de 1976.

 

Perspectiva do edifício sede do Lloyd Brasileiro, no Centro
do Rio de Janeiro, que deveria ficar próximo ao cais privativo
da armadora. Imagem que pertenceu ao acervo de Roberto
Botti, ex-chefe de máquinas do Anna Nery, falecido em 2003.

 

O belíssimo edifício deveria ser construído no terreno da companhia, situado na esquina da Praça Pio X com a Rua Visconde de Itaboraí, no Centro do Rio de Janeiro. Dentre os vários projetos apresentados, foi selecionado o da firma Paulo Case, Luiz Acioli e C. A. Rangel Abrantes Associada Ltda.

 

No final das contas, o Lloyd Brasileiro, pela sua confiabilidade, prestígio e destaque que tinha no mundo marítimo, merecia uma sede no mesmo patamar da sua grandiosidade, conforme fatos abaixo.

 

Cartão-postal do Sergipe, datado de 1906, empregado na linha

para Nova York. Reprodução.

            

Naquele 1974, o Lloyd, como era chamado por todos, utilizava 61 navios, em 18 linhas regulares de longo curso, sendo 39 próprios, e 22 afretados. Foram transportadas 2,3 milhões de toneladas de carga geral, quantidade um pouco inferior à do ano anterior.

 

No transporte de granéis sólidos e de cargas especiais, o Lloyd utilizou 11 navios afretados, tendo transportado 1,3 milhões de toneladas de carga de importação e exportação, que representou o dobro do ano anterior.

 

Cartão-postal datado de 1929, mostrando o estuário do Porto de Santos, com um navio do Lloyd fundeado na altura da curva do

Paquetá. Vendo-se o escritório do Tráfego da Cia. Docas de Santos.

Essa imagem foi meses antes da crise da Bolsa de Nova York, nesse

mesmo ano. Acervo: L.J. Giraud.

 

Já na cabotagem (navegação na costa brasileira), utilizou 5 navios, e transportou apenas 80 mil toneladas.

 

Em razão do Programa de Integração Nacional, de interesse do Governo, os navios realizaram 11 viagens na linha Rio/Manaus, e mais 4 minicruzeiros, nos quais foram transportados 9.000 passageiros.

 

O navio de passageiros Rodrigues Alves, fundeado no Porto do Rio

de Janeiro, no início dos anos 30. Esse navio foi utilizado na linha da

Europa. Ao fundo, atracado, o navio de passageiros britânico Arlanza. Acervo: L.J. Giraud.

 

As linhas servidas eram as seguintes: Costa Leste dos Estados Unidos, Costa do Pacífico Norte, Golfo do México, Escandinávia, Norte da Europa, Extremo Oriente, Caribe Alamar Norte. Nesse leva e traz entre os maiores centros importadores e exportadores dos quatro continentes, contribuiu para o País com milhões de dólares em fretes.

 

Na condição de maior empresa brasileira de transportes marítimos (carga geral), o Lloyd Brasileiro estava a postos para assegurar a parte que lhe cabia na grande batalha de fretes, em que o Brasil naquela época se empenhava nessa conquista.

 

O liner Itaberá, um dos vários da série Ita, entrados em

operação a partir de 1970. Os Ita fizeram parte da renovação

do Lloyd Brasileiro. Acervo: L.J. Giraud.

 

Para isso, o Lloyd usou navios de qualidade com os mais diversos nomes como: Cabo Frio, Cabo Orange, Leblon, Guarujá, Guanabara, Todos os Santos, Londrina, Marília, Henrique Lage, Pereira Carneiro, Almirante Graça Aranha, Buarque, Presidente Kennedy, Romeo Braga, Celestino, Julio Regis, Itaquicé, Itanagé, Itaité, Itapagé, Itaquatiá, Itassucé, Itabura, Itaimbé, Itatinga, Itaberá (estes Itas homenageavam os antigos navios da Cia. Costeira que tinham o mesmo nome), Lloyd Liverpool, Lloyd Bagé, Lloyd Genova, Lloyd Marselha, Lloydbrás, Lloyd Atlântico, Lloyd Pacífico, Lloyd Estrada, e tantos outros, que com garbo levaram a bandeira do Brasil pelos sete mares.

 

Não podem aqui ser esquecidos, os célebres Nações (essa série era escrita em português), foram construídos nos Estados Unidos e Canadá, eram excelentes, foram construídos após a Segunda Guerra Mundial. Esses cargueiros homenageavam as nações das Américas. Alguns deles: Lóide Argentina, Lóide Bolívia, Lóide Chile, Lóide Haiti, Lóide Cuba, Lóide América, Lóide Canadá, que foram substituídos pelos novos Itas.

 

O Lloyd Bagé, um dos navios frigoríficos, da armadora. 

Acervo: L.J. Giraud.

 

Vale lembra que o Lloyd, até antes da Segunda Guerra Mundial, mantinha linha de navios de passageiros para a Europa e Estados Unidos e cabotagem. A linha de cabotagem veio até a venda dos Cisnes Brancos (ver artigo da semana anterior).

 

Retornando à pretensa nova sede do Lloyd, infelizmente, o projeto não se concretizou, devido a vários problemas, que vão desde má administração, inflação, contratos mal feitos, número elevado de funcionários, abertura criada para outras empresas de navegação para operarem no Brasil, com fretes bem mais baixos do que os oferecidos pelas tradicionais armadoras que já operavam no transporte marítimo.

 

No porto da bela cidade de Vitória, no Espírito Santo, vemos dois famosos cargueiros do Lloyd, o Presidente Kennedy e o Londrina.

Início dos anos 1970. Acervo: L.J. Giraud.

 

Resumindo, foi mais ou menos como a atual crise financeira mundial. – Estava tudo bem, quando repentinamente o mundo do Lloyd Brasileiro desabou, trazendo grande consternação para seus empregados e para a Nação que tanto se orgulhava de ser a proprietária do famoso Lloyd Brasileiro. Só que com uma grande diferença, a crise do Lloyd não teve retorno.

 

Depois de 12 anos, fica ainda difícil aceitar a idéia de que o Lloyd Brasileiro não existe mais, a não ser nas lembranças dos que vivenciaram o seu apogeu.

 

O sempre majestoso Anna Nery, um dos quatro Cisnes Brancos,

em plena navegação. Atualmente é o Salamis Glory, da Salamis

Cruises - Chipre.

 

Numa tarde de outono, estava do janelão do meu escritório, observando o Lloyd Liverpool fazendo o giro para atracar no Armazém 4 da antiga concessionária do Porto de Santos, a Cia. Docas de Santos. Foi uma bela atracação por sinal, mas sequer imaginava, que aquela seria a última vez, que via um navio do Lloyd atracado nas proximidades da Praça Barão do Rio Branco. A crise estava bem próxima.

 

Quem sabe se um dia teremos um novo Lloyd Brasileiro. Só Deus sabe!

 

No passadiço do Barbacena em 1926, no

Porto de Nova York, o piloto Edmar Boto de

Melo, que foi prático do Porto de Santos,

por vários anos. Falecido em 1972.

Acervo da família.


A última imagem do Lloyd Liverpool, em Santos, clicada do

escritório do autor, final da década de 1990. Foto: L.J. Giraud.


Aquarela do navio de passageiros Cantuária, pintada por Julio

Augusto Rocha Paes. O Cantuária ex-Scan State, da Moore-McCormack

Line, foi o primeiro navio em que o autor viajou, no final de 1949.

 

Foto tiradada no Centro dos Capitães da Marinha Mercante, no Rio de Janeiro, durante o lançamento do livro Bandeiras nos Oceanos, que

conta a história do Lloyd Brasileiro, de José Carlos Rossini. Em 2003. Presentes vários ex-comandantes do Lloyd. Foto: L. J. Giraud.

 

O Itaité, um dos mais belos cargueiros que o Lloyd possuiu. Fez

parte de 14 outros encomendados. Ficaram conhecidos como Liners. Aquarela de Julio Augusto Rocha Paes.

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