Segunda, 06 Janeiro 2025

Ao longo das últimas décadas, temos assistido a uma invasão de transatlânticos de outras bandeiras participando das temporadas de cruzeiros no Brasil. E não vemos nenhum de bandeira brasileira, como ocorria nos tempos dos saudosos Cisnes Brancos, da Companhia Nacional de Navegação Costeira. Posteriormente, esses transatlânticos passaram para o comando da estatal Lloyd Brasileiro. São os sempre lembrados Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Leopoldina e Princesa Isabel, que por sua alvura ficaram conhecidos como Cisnes Brancos.


O transatlântico Salamis Glory (ex-Anna Nery) é o único
sobrevivente dos Cisnes Brancos. Acervo: José Carlos Silvares.

Será que não temos mesmo vocação para explorarmos os cruzeiros marítimos? Como ficou confirmado com a venda desses transatlânticos, que afirmavam não darem lucro, mas navegaram em outros países como navios de turismo por muitos anos. Aliás, o Anna Nery ainda navega com o nome da Salamis Glory, da Salamis Cruise Lines, de Chipre.

 

Para uma melhor compreensão do que realmente aconteceu com os Cisnes Brancos, precisamos voltar ao início dos anos 1960, época em que a grande maioria dos passageiros já havia trocado as viagens marítimas pela aéreas e rodoviárias. Na ocasião, a Companhia Nacional de Navegação Costeira resolveu encomendar quatro navios de passageiros: Rosa da Fonseca e Anna Nery, na Espanha; Princesa Leopoldina e Princesa Isabel, na Iugoslávia.

 

Foi um grande erro. Nessa época, várias armadoras já estavam começando a retirar seus transatlânticos das linhas que faziam. Algumas já pensavam em mandar seus navios para estaleiros sucateiros, ou tentando usá-los em cruzeiros. Por essa razão, muitos foram reformados para navios de cruzeiros.

 


O Anna Nery, com o emblema do Lloyd Brasileiro na chaminé.
Óleo sobre tela de Antonio Giacomelli – 1976.

 

Poucos anos depois, com a passagem do patrimônio da Cia. Costeira para o Lloyd Brasileiro, a estatal brasileira ficou com os quatro transatlânticos, que ficaram propriamente dito em segundo plano, pois os olhos do Lloyd estavam direcionados para cargas gerais, que geravam grandes lucros à empresa.

 

Assim, no final dos anos 1960 e início dos 1970, grande parte do tempo os Cisnes Brancos ficavam fundeados (ancorados) na Baía da Guanabara, com 150 tripulantes em média.

 

Só no verão eram afretados para companhias de turismo por preços bem abaixo do mercado. Para tentar reduzir essa ociosidade, foi criada a Ponte Marítima Santos-Rio, utilizando dois transatlânticos, enquanto os outros dois faziam viagens esporádicas ao Amazonas e Rio da Prata.

 


Uma alegre despedida do Rosa da Fonseca, no Porto de Santos, no
final dos anos 1960. O navio teve diversos nomes, entre o quais Nippon
Maru. Foto: A Tribuna; acervo: L.J.Giraud.

 

Nessa altura, final dos anos 1960, a nossa falta de competência e vocação para operarmos com navios de lazer, estava confirmada, segundo o ex-presidente do Lloyd Brasileiro, Ney Garcia Sotello, em matéria do inesquecível jornalista Hélio Schiavon para A Tribuna do dia 25 de junho de 1998, estava confirmada.

 

Realmente, alguma coisa grave e errada deve ter acontecido, desde a falta de profissionais especializados até oportunismo e negligências, pois os navios depois de vendidos deram lucros consideráveis aos seus armadores. Tanto que, do quarteto, três navegaram por quase 40 anos.

 

O ex-presidente do Lloyd Brasileiro não vendeu os Cisnes Brancos, mas deixou bem claro ao sucessor que deveriam ser vendidos, porque não havia a menor condição econômica de operá-los no Brasil.

 


O grego Odysseus, em manobra de desatracação, quando de uma
de suas passagens por Santos, em abril de 1998. Foto: L. J . Giraud.

 

O Lloyd não era uma empresa de turismo. As tripulações eram excessivas, desestimuladas e, às vezes, mal preparadas. E mais: havia passagens de favores.

 

O ideal, tudo indicava na ocasião, era que os navios fossem explorados profissionalmente, por operadoras exclusivas, navegando o ano inteiro, em todo o mundo, acompanhando sempre o verão nos hemisférios Sul e Norte.

 

O Brasil deveria se preparar para adquirir um transatlântico destinado a cruzeiros no País e no exterior. Seria maravilhoso depois de tantos anos vermos tremulando a Bandeira Nacional, no transatlântico brasileiro dos nossos sonhos.


O Anna Nery atracado em Santos no início dos anos 1970. Como
seria maravilhoso voltarmos a ver a bandeira do Brasil hasteada em
um transatlântico brasileiro. Foto: Julio Augusto Rocha Paes.

 

Essa possibilidade não é sonho, pois somos capazes e inteligentes para tantas coisas, por que não podemos ter e administrar um transatlântico?

 

Tudo isso sem deixar de dizer que temos uma excelente Escola de Marinha Mercante, onde os formandos, quando não seguem carreira, são recebidos em várias atividades profissionais da indústria e do comércio. E mais, o Brasil é um país rico, apenas nossas riquezas não estão sendo direcionadas para onde deveria ser encaminhadas.

 

Vamos pensar nessa ideia, que na verdade foi levantada pelo amigo Julio Augusto Rocha Paes, anos atrás, quando os cruzeiros ainda estavam se encorpando, longe do tamanho que são hoje. O bolo é grande e merecemos uma bela fatia desse mercado.

 


O N/M  Princesa Isabel, depois Odysseus (teve outros nomes), com
o belo emblema da Companhia Nacional de Navegação Costeira. Óleo
sobre tela de Antonio Giacomelli.

 

Uma grande recordação é a passagem por Santos do Princesa Isabel, com o nome de Odysseus, em abril de 1998. Foi uma grande emoção rever aquele navio em que fiz na companhia de amigos, um cruzeiro de fim de semana rumo ao Rio de janeiro, naquele longínquo fevereiro de 1968.

 

Finalizando, os Cisnes Brancos foram motivo de grande orgulho para o Brasil, pois eram bem vistos no mundo marítimo internacional. Pena que por pouco tempo.

 

Cartão-postal do Coral Princess, ex-Princesa Leopoldina, da
coleção de Dimas Almada (Funchal – Ilha da Madeira).

 


O inesquecível Princesa Isabel, destracando no Porto de
Santos, na tarde de 29/07/1967, há  42 anos.
Reprodução: Jornal A Tribuna de Santos.

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