Segunda, 06 Janeiro 2025

A Fita Azul já foi um símbolo da majestade dos transatlânticos, dos velozes navios de passageiros, em uma época bastante anterior á criação do avião. O prêmio era conquistado pela embarcação que fizesse em menor tempo a travessia do Oceano Atlântico, entre a Europa e Estados Unidos.

 

Cartão-postal do Norddeutscher Lloyd (North German Lloyd), do início

do século 20, mostrando dois transatlânticos germânicos, sendo o de

casco escuro, provavelmente o Kaiser Wilhelm der Grosse, lançado

em 1897, dentro da Fita Azul nesse mesmo ano. Acervo: L.J. Giraud

 

A travessia, no lado britânico, não começa em Londres, a capital da Grã-Bretanha, nem no Porto de Southampton, na Inglaterra, mas em Bishop Rock, nas Ilhas Scilly. Nos Estados Unidos, o marco é o navio-farol Ambrose.

 

A distância entre os dois pontos é de 2.903 milhas (5.376 quilômetros). Percorrida à velocidade média de 15 nós (27,7 quilômetros horários), o trajeto é feito em oito dias e uma hora. Mas os navios, principalmente os do século 20, atingiram velocidades maiores.

 

Imaginação 

Para os americanos, ela se chama Blue Ribbon. Para os franceses, Ruban Bleu. Para os alemães, Blau Band. Os britânicos a chamavam de a Fita Azul do Atlântico. Seja em que língua for pronunciada, sempre acende a imaginação daqueles que amam o mar. O grande orgulho das nações marítimas era conquistar a fita. Grandes fortunas foram investidas, ganhas e perdidas e famosas linhas marítimas foram criadas e destruídas na luta pela flâmula, que só podia ser desfraldada pelo navio de passageiros mais rápido do mundo.

 

Os britânicos, em 1907, pegaram de

volta, dos germânicos a Fita Azul, que

estava em poder do Deutschland,

através do Mauretania, que ficou com o

título durante 22 anos. – Reprodução do

livro da Cunard Line  - Triumph Of A

Great Tradition – 1840 – 1990.

            

Recordes

Durante a primeira metade do século 19, os recordes de velocidade da travessia do Atlântico estiveram nas mãos dos navios britânicos e americanos, construídos com madeira e impulsionados por rodas de pás.

 

O mais rápido dos navios daquela época romântica era o Adriatic, da Collins Liner, que mantinha a velocidade de cruzeiros de 13,5 nós (24 quilômetros horários).

 

O fabuloso transatlântico alemão Bremen, gêmeo do Europa, pegou o

título de volta em 1929 e ficou com a fita até 1932. Acervo: L.J. Giraud.

 

A segunda metade do século 19 foi uma era de transição das velozes embarcações de passageiros. Navios de ferro de hélice única, como o Scotia, da Cunard (da Grã-Bretanha), de 1862, como o Britannia, da White Star, e o Oregon, da Guion Line, aumentaram o limite dos vencedores da Fita Azul para 18 nós (33,3 quilômetros horários) e até para mais ainda.

 

Casco de Aço 

Em 1889, com a chegada do City of Paris, da Inman Line, o primeiro dos navios de carreira de casco de aço a hélice dupla, a velocidade vencedora deu um salto para cima, subindo para 20nós (37 quilômetros horários).

 

A partir de então e até os últimos anos do século 19, a Fita Azul tornou-se um virtual monopólio dos navios britânicos: o Teutonic, da White Star Line, fez média de 20.35 nós (37,6 quilômetros horários) para conseguir um tempo de travessia de cinco dias, 16 horas e 31 minutos, em agosto de 1.891. O navio Campania, da Cunard, teve a média de 21,12 nós (39,1 quilômetros horários), em sua mais rápida travessia, em junho de 1893.

 

O Europa, conseguiu tirar a legendária fita do Bremen, que por sua

vez foi buscá-la de volta. Uma curiosidade, o postal foi enviado de

bordo do dirigível Zeppelin, confome selo e carimbo do mesmo.

Acervo: L.J. Giraud.

 

Um navio-irmão do Campania, o Lucania, aumentou a média para 22 nós (40,7 quilômetros horários), em maio de 1895, mantendo consigo a Fita Azul por mais de dois anos.

 

Alemanha quebra hegemonia em 1897

No ano de 1897, a Alemanha avisou a europeus e americanos que estava entrando na competição.

 

A Alemanha, emergindo como poderosa nação marítima, ainda não conseguia competir com os velozes navios de carreira das armadoras britânicas e americanas, mas sem alarde as linhas alemãs vinham melhorando seus navios e seus serviços, enquanto a Cunard, a Inman e a White Star ganhavam manchetes com seus velozes vencedores da Fita Azul.

 

Assim, no crepúsculo do século 19, o transatlântico alemão Kaiser Wilhelm der Grosse, da armadora North German Lloyd, conseguiu a Fita Azul em 1897, fazendo a travessia em cinco dias e 20 horas, com a velocidade média de 22.29 nós (41,2 quilômetros horários).

 

O mais glamoroso transatlântico de todos os tempos, o Normandie,

disputou com o britânico Queen Mary, a almejada faixa. A primeira

conquista foi em maio de 1935. – Acervo: L.J. Giraud.

 

O Kaiser Wilhelm der Grosse foi construído pelo Estaleiro Vulkan Shipyards, de Stettin, na Alemanha, em 1897. Ele tinha 216 metros de comprimento por 21,5 metros de boca (largura), deslocava 14.439 toneladas, contava com duas máquinas  a vapor de tripla expansão, com duas hélices.  A velocidade de cruzeiro era de 22 nós. A capacidade de passageiros era de 1.970, divididos em três classes.

 

Audácia 

No verão de 1990, o transatlântico Deutschland, da Hapag, ficou com a Fita Azul, mantida até 1907.

 

O Deutschland foi construído pela iniciativa de um dos maiores e mais audaciosos armadores do século 20. Albert Ballin, que antes da Primeira Guerra Mundial lançava navios como o Imperador, Vaterland e Bismak, que surpreenderam os britânicos pelas dimensões.

 

O Deustschland foi construído no Estaleiro Vulkan em 1900, com 225 metros de comprimento por 22 de boca, deslocamento de 16.500 toneladas, máquinas a vapor de quádrupla expansão, com duas hélices. A velocidade de cruzeiro era 22 nós e a capacidade de passageiros, 2.050.

 

Preocupação 

O governo britânico, preocupado com a supremacia alemã, resolveu financiar dois transatlânticos gêmeos, o Mauretania e o Lusitania, encomendados pela Cunard.

 

O Mauretania, em seu primeiro ano de viagem, 1907, conquistou a Fita Azul, com a velocidade de 24,7 nós (45,7 quilômetros horários), e ficou com o primeiro prêmio durante 22 anos.

 

O orgulho da marinha mercante estadunidense, S/S United States,

obteve o título de transatlântico mais rápido do mundo em 07 de julho

de 1952. Foi o último dos grandes navios a conquistar a Fita Azul.

 

O novo Fita Azul tinha quatro chaminés e era imponente. O Mauretania foi construído no Estaleiro Swan Hunter&Wigham Richardson Ltd., de Newcastle, Inglaterra, em, 1907.

 

As principais características do Mauretania eram: 260 metros de comprimento por 29 de boca, deslocamento de 31.939 toneladas, turbinas a vapor com quatro hélices, velocidade de cruzeiro de 24 nós (44,4 quilômetros horários) e capacidade de 2.335 passageiros.

 

De volta 

Em julho de 1929, a Fita Azul volta para as mãos dos alemães, através do transatlântico Bremen e do navio – irmão Europa, que entraram na luta.

 

Os dois navios conseguiram a legendária Fita Azul, mas o Bremen provou ser o mais rápido e ficou com o título até 1932. A armadora do Bremen era a  North  German Lloyd.

 

O majestoso Queen Elizabeth (o primeiro) na sexta travessia

atlântica, em 1936 obteve de volta para os britânicos a Fita Azul,

com a velocidade 32 nós (59,2 quilômetros horários). Atualmente, o

Queen Mary é um hotel e centro de convenções, na cidade de Long

Beach, na California. Acervo: L.J. Giraud.

 

No meio da grande competição pela Fita Azul, a Italian Line lançou na rota do Atlântico dois belos transatlânticos, divulgados através de grande campanha publicitária: o Rex e o Conte di Savoia, que navegaram com enorme sucesso.

 

O Rex obteve a Fita Azul em agosto de 1932. O título ficou com ele até 1935, quando foi conquistado por um dos mais célebres navios do século 20, o Normandie, de bandeira francesa.

 

“Normandie” conquista o prêmio na 1º viagem

O mais glamouroso transatlântico de todos os tempos, o francês Normandie, capturou a Faixa Azul em sua primeira viagem, com a velocidade de 32 nós (59,2 quilômetros horários), em maio de 1935. Ele fez o percurso em quatro dias, três horas e 14 minutos.

 

O Normandie foi construído no Estaleiro Chantiers de L´Atlantique, em Saint Nazaire, França, com 339 metros de comprimento por 38 de boca, deslocamento de 82.799 toneladas. A velocidade de cruzeiro era de 29 nós (53,7 quilômetros horários) e a capacidade de passageiros, 1.972.

 

Na década de 30, o inglês Harold Hales doou um troféu de prata para acompanhar a Fita Azul, prêmio que ficou conhecido como Troféu Hales.

 

Queen Mary” 

Na sexta travessia atlântica, em 1936, o majestoso transatlântico britânico Queen Mary conseguiu trazer de volta para a Grã – Bretanha a almejada Fita Azul, com o tempo de três dias 21 horas, com a velocidade de 31 nós (57,4 quilômetros horários).

 

Um ano depois, o Normandie reconquistou a liderança. A partir daí, cada um foi tirando minutos de tempo do outro.

 

Mapa mostrando a rota  - 2.903 milhas (5.376 quilômetros) e os

pontos de partida e chegada para obtenção do título que foi símbolo

da majestade dos transatlânticos, nos anos dourados.

 

Quando rompeu a Segunda Guerra Mundial, o Queen Mary detinha o título. A disputa entre os dois só não continuou porque o Normandie foi destruído por um grande incêndio a bordo (1942), em Nova Iorque, quando passava por reformas para ser transformado em navio-transporte de tropas.

 

O Queen Mary foi construído no Estaleiro John Brow, de Glasgow, na Escócia. Ele foi lançado ao mar em 1934. As suas principais características eram: 310 metros de comprimento por 39 de largura e deslocamento de 81.235 toneladas. A velocidade de cruzeiro era de 29 nós e a capacidade de passageiros, 2.139.

 

Estados Unidos 

Em 7 de julho de 1952, transatlântico United States, da armadora U. S. Lines, o orgulho da marinha mercante, ficou com a Fita Azul, ao completar a travessia no tempo de três dias, 10 horas e 40 minutos, dez horas a menos e cinco nós (9,2 quilômetros horários) a mais que o Queen Mary.

 

O United States foi construído no Estaleiro Newport News, de Newport News, de Virgínia, em 1952, com 326 metros comprimento por 33 de boca e deslocamento de 53.329 toneladas. A velocidade de cruzeiro era de 30 a 33 nós (55,5 a 61,1 quilômetros horários) e a capacidade de passageiros, 1.928.

 

Totalmente desigual 

Em junho de 1990, uma embarcação ferry e catamarã, de bandeira das Bahamas, Hovespeed Great Britain, bateu o recorde da travessia mais rápida do Atlântico Norte, com a velocidade de 36,6 nós (67,7 quilômetros horários).

 

A competição, porém foi desigual, pois o United States deslocava mais de 50 mil toneladas de peso, media de 300 metros de comprimento e levava 3 mil pessoas, enquanto o catamarã é relativamente leve e estava sem carga.

 

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Este artigo foi escrito em parceria com o jornalista Armando Akio, e foi publicado no Porto & Mar do jornal A Tribuna, na quinta-feira – 19 de janeiro de 1995. 

 

Vale lembrar, que já tive a honra de escrever artigos na companhia de outros amigos, como José Carlos Silvares (jornalista), José Carlos Rossini (escritor e pesquisador marítimo), e os já falecidos Hélio Schiavon (jornalista) e Jaime Caldas (militar e historiador). Escrever junto com esses amigos, em muito aumentou meus horizontes sobre meus temas prediletos: porto, navios e fatos da Santos antiga. Não podendo aqui deixar de expressar a minha gratidão a eles.

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