Segunda, 06 Janeiro 2025

Nos dourados anos dos transatlânticos, a travessia da Europa para a costa leste da América do Sul era considerada uma rota importante, tanto para os armadores, quanto para os passageiros e imigrantes que buscavam uma nova vida no Brasil e em outros países do continente.


Capa do folder publicitário da Royal Mail Line, informando o que o ’’Andes’’
tinha de
interessante – década de 1950. (Acervo: Laire José Giraud)

Diante dessa importância, Brasil, Uruguai e Argentina foram bafejados pela sorte de ter recebido grandes transatlânticos, até hoje lembrados, como os italianos ‘Conte Grande’, ‘Conte Biancamano’, ‘Giulio Cesare’, ‘Augustus’, os franceses ‘Provence’, ‘Bretagne’, ‘Pasteur’, os americanos ‘Brazil’, ‘Argentina’ e ‘Uruguay’, os portugueses ‘Serpa Pinto’, ‘Vera Cruz’ e ‘Santa Maria’, os britânicos ‘Alcantara’ e ‘Andes’. A lista de transatlânticos é extensa e, por essa razão, muitos deixam de ser aqui citados.

* O Conte Grande
* A primeira escala do Augustus em Santos
* A era dos navios de passageiros não terminou

E, em vista da concorrência entre os armadores, estes não poupavam esforços em encomendar navios magníficos, o que permitiu aos brasileiros testemunharem a passagem de majestosos navios. Santos foi um dos mais privilegiados portos onde aqueles monumentais transatlânticos fizeram escala.

Dentre muitas companhias de navegação, a britânica Royal Mail Line (Mala Real Inglesa), de Londres, por ser muito conceituada devido aos longos anos de serviços prestados, gozava de grande respeito entre os viajantes do Atlântico.


O navio de passageiros ’’Andes’’, navegando pelo estuário do Porto de Santos,

em 1953. (Foto: José Dias Herrera - Acervo: Laire José Giraud)

 

Vamos nos deter mais especificamente nos navios da Royal Mail nos anos 50. Além dos mencionados ‘Alcantara’ e ‘Andes’, navegavam na rota navios do mesmo armador, como os consagrados ‘Highland Brigade’, ‘Highland Chieftain’, ‘Highland Monarch’ e ‘Highland Princess’. Eram navios de 14.000 toneladas.

Os navios partiam de Southampton, sul da Inglaterra, com escalas em Cherburgo (França), Vigo (Espanha), Leixões e Lisboa (Portugal), Ilha da Madeira (Portugal, no Atlântico), Las Palmas (Espanha, no Atlântico), Recife (PE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Santos (SP), Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina).

Vale lembrar que a Mala Real Inglesa - como era mais conhecida no Brasil - perdeu um grande navio em viagem inaugural, em 1949: o ‘Magdalena’, que teve o casco quebrado em duas partes após passar por cima de pedras submersas na Barra da Tijuca, no litoral do Rio de Janeiro. O piloto de quarto confundiu a Barra da Tijuca com a entrada da Baía de Guanabara.

 

Cartão-postal de editora independente, não oficial do armador, mostrando

as cores do belo ’’Andes’’. (Acervo: Laire José Giraud)

 

O protagonista deste texto, o navio de passageiros ‘Andes’, foi construído pelo estaleiro Harland Wolff Limited, de Belfast, na Irlanda. Media 204 metros de comprimento por 25,45 metros de boca (largura) e deslocava 25.676 toneladas.

Transportava 324 passageiros na primeira classe e 204 passageiros na segunda. Tinha estabilizador Denny-Brown, equipamento para diminuir o balanço.

Foi entregue em 1939, ano em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial, e de imediato requisitado pelo Almirantado Britânico para servir como navio-transporte de tropas.


Aquarela de Julio Augusto Rocha Paes, retratando o ’’Andes’’ durante
manobra de desatracação em junho de 1953. Ao fundo, notam-se as
torres de alta tensão do Porto de Santos. (Reprodução)

No final da Segunda Guerra, em 1945, o ‘Andes’ foi devolvido ao armador e reformado para a primeira viagem comercial rumo à América do Sul, em 1948, a serviço da Royal Mail.

Diga-se de passagem que o ‘Andes’ foi o primeiro navio que me lembro de ter visto na minha vida. A última viagem do ‘Andes’ como navio de passageiros foi em novembro de 1959, com a chegada dos transatlânticos ‘Amazon’, ‘Aragon’ e ‘Arlanza’, que substituíram o ‘Alcantara’ e os quatro ‘Highlands’.


O requinte e o luxo do salão nobre de primeira classe do belo ’’Andes’’.
(Acervo: Laire José Giraud)

Posteriormente, o ‘Andes’ foi transformado em navio de cruzeiro. Veio ao Rio de Janeiro nos anos 60, com turistas de várias nacionalidades. A pintura foi alterada para a cor branca, perdendo um pouco do charme que ostentava – antes era de preto carvão.

O ‘Andes’ foi o maior capitânea da Mala Real e mantinha a reputação de ser um dos navios mais belos que passaram pelo Brasil e por Santos, especificamente.


A imagem diz tudo sobre o aconchegante salão de fumar. Acervo: Laire J. Giraud

O interior era luxuoso, principalmente os salões nobre, de fumar, de coquetel e de jantar de primeira classe, além do foyer. Quanto aos camarotes, eram incomparáveis. Apenas o milagre da fotografia pode mostrar o brilho e a pujança deles. Os conveses de passeio (promenades) eram muitos espaçosos.


O majestoso e amplo salão de jantar de primeira classe do navio, que foi
considerado um dos reis da rota sul-americana. (Acervo: Laire José Giraud)

Sem dúvida, uma das instalações de maior destaque era a sedutora e elegante piscina, com o amplo Lido ao redor, que fazia do local um ambiente alegre e colorido, onde era servido um belo bufê com variados pratos e sobremesas dignas dos deuses, segundo Gerson da Costa Fonseca, que já foi prático preferencial da Mala Real Inglesa e praticou o ‘Andes’, bem como outros navios desse armador, incontáveis vezes.

O ‘Andes’ foi planejado e construído para transportar somente passageiros em primeira e segunda classe. Por tal razão, a maior preocupação foi providenciar acomodações espaçosas.

Mas vamos às belas ilustrações, que, com certeza, nos levarão ao passado do belo transatlântico, para que façamos uma viagem de volta ao passado desse inesquecível e inefável navio.


Uma das instalações de maior destaque do transatlântico era a suntuosa
e elegante piscina, com ambiente alegre e colorido. No local, era servido um
excelente bufê. (Acervo: Laire José Giraud)

Antes, porém, devo dizer que este texto surgiu em razão de um e-mail enviado pelo amigo Silvio Roberto Smera, acompanhado de uma bela imagem do porta-contêineres ‘Aliança Andes’, que, em vista do segundo nome, me trouxe à lembrança a imagem do ‘Andes’ e a ideia de escrever este artigo.


Um dos destaques do ’’Andes’’ eram os camarotes, que mostravam o
aconchego e o requinte desses ambientes, como essa cabine de primeira
classe. (Acervo: Laire José Giraud)

Dedico também este texto para o amigo Smera, como agradecimento por – diaria e incansavelmente - nos brindar e nos presentear com fotos de navios e da cidade de Santos, todas de rara beleza, além de textos sobre assuntos muito interessantes.

Finalizando, convido os amigos leitores para imaginariamente embarcarem no ‘Andes’ e fazer uma viagem até onde nossas mentes nos levarem...


Foto do ’’Aliança Andes’’, clicada pelo amigo Smera em 8 de outubro
de 2006, que me trouxe a ideia de escrever este artigo.

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