Segunda, 06 Janeiro 2025

Presente em muitos momentos, ele se mistura, se destaca, inspira, dá o tom.

É quase um amigo inseparável.

Do que estou falando?  - Do café.

(citado no blog Rio que Mora no Mar)

 

Fomos e sempre seremos a terra do café. Por esta razão, vamos recordar uma velha tradição brasileira, a de tomar uma xícara dessa bebida. Para isso, vamos lembrar rapidamente de algumas situações ligadas a esse agradável hábito.

 

Belissimo cartaz da década de 1930, com

propaganda do Café Excelsior.

Reprodução do livro Propaganda no Brasil.

 

O café foi descoberto por pastores árabes, veio para o Brasil através da tenacidade de Francisco de Mello Palheta, que contrabandeou mudas do chamado “ouro verde” da Guiana Francesa. Antes de ser cultivado no Brasil, já era saboreado por turcos, depois consumido na Europa. Tendo seu início em Viena, na Áustria, onde era bebido com adição de leite e mel para tirar o gosto amargo, surgindo assim o conhecido café vienense.

 

Muitos consideravam tomar café um terrível vício, principalmente os ingleses habituados ao chá, achavam horrível o seu gosto. Mesmo com muitos entraves, o café saiu vencedor e conquistou os quatro cantos do mundo.

 

Mesmo antes de chegar ao Rio de Janeiro e ao interior paulista, o café já era sucesso absoluto no Velho Continente.

 

No passado, o Centro de Santos possuiu cafés famosos, frequentados

por todas as classes profissionais, que conversavam sobre os mais

variados assuntos. A foto mostra a Rua General Câmara nas proximi-

dades da Praça Ruy Barbosa. Final da década de 1930. Acervo: FAMS.

 

No Brasil, era moda copiar tudo que acontecia na França. Era uma mania que atingia todos os setores do dia-a-dia, como bebidas, alimentos, modas, engenharia, educação, medicina, arte e hotelaria.

 

Dentre essas manias de copiar, surgiram os cafés, que retornaram com a denominação de cafeterias, local onde as pessoas iam para saborear a deliciosa rubiácea. Primeiro surgiram no Rio de Janeiro, em São Paulo e, certamente, em Santos, que era e continua sendo o Porto do Café. Surgiram assim as casas de café ou simplesmente cafés.

 

A cidade de Santos teve cafés que marcaram época, não se sabe as datas exatas que surgiram, com exceção dos conhecidos Café Paulista, fundado em 1911, e do Café Carioca (1939). Estes são os únicos remanescentes de um pujante passado.

 

A foto mostra o interior do Café Paulista por volta de 1915,

vendo-se cavalheiros da época. Acervo: L.J. Giraud (presente

do inesquecível Jaime Caldas).

 

Dentre esses cafés, podemos lembrar de alguns do Centro de Santos, como Café Java, O Nacional Bar (Praça Ruy Barbosa, 32), O Paris, A Leoneza, Café e Restaurante Marreiro, Café D’Oeste (que além de um bom café, tinha a melhor coxinha de galinha que Santos já conheceu), Café Caravela (Rua João Pessoa), A Paulista, Casa Hespéria, Confeitaria Rosário, Café Mundial, Ao Campo Belo e Café Florença, entre muitos outros.

 

No Gonzaga, existiu o famoso Café Atlântico, que acredito ter sido onde degustei o melhor café da minha vida. O Café Atlântico ficava colado ao mais charmoso restaurante que a Cidade já possuiu, melhor dizendo, ficava embaixo do prédio do Atlântico Hotel.

 

A famosa e agitada Rua XV de Novembro, a Wall Street santista,

reduto das casas comissárias de café (exportadoras), agências

marítimas, bancos, telégrafos internacionais e da Bolsa Oficial de Café. Imagem de meados da década de 1920. Acervo: L.J. Giraud.

 

Era costume naqueles tempos as pessoas sentarem-se às mesas para conversarem e saborear um delicioso cafezinho. Nessas mesas eram fechados grandes negócios, falava-se da vida alheia, discutia-se futebol e ouvia-se engraçadas anedotas. Seus frequentadores eram das mais variadas profissões, dentre elas, fiscais da Alfândega, despachantes aduaneiros, jornalistas, corretores e comissários de café, agentes marítimos, advogados, médicos e até boêmios. Os garçons com muita tranquilidade serviam o café em mesas de fregueses habituais. Era comum depois do cafezinho saborear um licor.

 

Uma curiosidade: quando vários amigos se reuniam para um cafezinho, geralmente jogavam, com perdão da má palavra, “porrinha” (jogo com palitos de fósforo), como é conhecido em Portugal. A regra era acertar o número de palitos (com punhos fechados) em cada rodada. Quem perdesse pagava o café. Não era de bom tom mulheres frequentarem os cafés sem a devida companhia masculina. Coisas do passado.

 

O cartão-postal de 1951 mostra o conhecido Atlântico Hotel, local

onde funcionava o Restaurante Atlântico e o Café Atlântico, que

ficavam situados onde aparecem colunas no lado direito do hotel,

ao lado da Avenida Ana Costa.

 

Vale ressaltar que o café mais famoso do Brasil em todos os tempos foi o Café Nice, inaugurado em 1928. Ficava na Galeria Cruzeiro, no prédio do Hotel Avenida (Av. Rio Branco, 174), na antiga Capital Federal, Rio de Janeiro. O Café Nice foi símbolo de uma época de ouro da música popular brasileira. Ponto de encontro de compositores e músicos do Rio de Janeiro.

 

Quando menino, por algumas vezes cheguei a tomar taças de sorvetes no Nice, na companhia de meu tio Fédro Mesquita, após assistirmos matinê no Cineac (cinema conhecido na época). O Nice encerrou suas atividades em 1956.

 

Foto de um trecho do pujante Porto de

Santos (1955), o porto do café, por onde

embarcaram milhões de sacas do ouro verde

com destino à vários países do mundo.

Os guindastes que parecem na foto

conhecidos como palmeiras, devido à sua

altura sumiram do cais santista, com a

chegada dos contêineres. Acervo: L.J.Giraud.

 

Na década de 1960, os cafés foram sumindo, primeiro foram retiradas as mesas, Também os fregueses já não eram os mesmos. Com as mudanças de hábitos, as despesas desses cafés não permitiam esse tipo de serviço. Assim, no lugar surgiram as lanchonetes, que apresentavam melhor lucro aos seus proprietários.

 

Hoje, os cafés são na grande maioria do tipo expresso (italiano), alguns de boa qualidade, como os encontrados em algumas cafeterias da Cidade e na cafeteria do Museu dos Cafés. Vale lembrar que o primeiro café de máquina ou italiano que tomei foi no Café Torino (1956), que ainda funciona na Praça Mauá.

 

A curadora dos Museus dos Cafés do Brasil, Marjorie C. F. Medeiros,

cercada por Eduardo Carvalhaes Filho e Pedro Troncoso, numa das dependências do Museu. Foto: L.J. Giraud.

 

Felizmente, o café de fato, feito no coador, com aquele sabor do passado ainda pode ser saboreado nos tradicionais Café Paulista, Carioca e Florença, situados no Centro Histórico de Santos. Aos leitores da coluna Recordar deste PortoGente, na forma de um brinde, esta coluna simbolicamente oferece, uma deliciosa xícara de café tipo exportação, passado em coador.

 

Este artigo vai para Marjorie C. F. Medeiros, curadora do Museu dos Cafés do Brasil (Bolsa Oficial de Café) e para os irmãos Manolo e Antonio Rodriguez, proprietários do quase centenário Café Paulista.

 

Foto noturna da Rua XV de Novembro, tendo ao fundo o majestoso

prédio do Museus dos Cafés do Brasil. Foto: Tadeu Nascimento.

 

Capa do cardápio do tradicional Café Carioca,

inaugurado em 1939. Fica na rainha das praças

de Santos, a Mauá – Centro Histórico de Santos.

 

Realmente o cafezinho já é uma tradição confirmada dos brasileiros. Reprodução de um anúncio para aumento do consumo do café.

Década de 1960.

 

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