Como já contei em artigos anteriores, nas primeiras sete décadas do século, Santos era cenário de um verdadeiro desfile de transatlânticos. Em alguns dias, registrava-se a escala de até cinco navios de passageiros de linha regular. O Porto de Santos era porta de entrada e saída de viajantes de todas as partes do Brasil e do mundo. Como são os aeroportos na atualidade.
A imagem que deu origem a este artigo, um verdadeiro desfile de transatlânticos, visto do Canal 5. O Conte Verde, seguido pelo germânico Sierra Morena, ou pelo italiano Pincipe di Udine -1926.
Acervo: L.J.Giraud.
Quando os navios estavam no porto, os passageiros aproveitavam para conhecer as praias ou fazer compras no Centro. Era fato corriqueiro ver estrangeiros em nossos restaurantes e confeitarias, e o mais importante, sem que fossem molestados.
Pesquisadores comentam que o número de transatlânticos que frequentaram Santos chegou à casa dos 1.200, mas há outros que ampliam para 1.500.
O transatlântico italiano Conte Verde, passando pela Ponta da
Praia, em 1926. O navio está encobrindo a Fortaleza da Barra Velha.
Foto de João Gabriel Sanches Camacho. - Acervo: L.J.Giraud.
Da imensa frota de navios de passageiros que passaram pela Cidade, destacaram-se: Alcantara, Andes, Araguaya, Asturias, Avon, Arlanza, Cap Polonio, Cap Arcona (provavelmente o maior destaque do século 20), Massilia, Lutetia, Conte Rosso, Conte Verde, Conte Grande, Conte Biancamano, Serpa Pinto e Vera Cruz, Santa Maria, Giulio Cesare, Augustus, Provence, entre muitos.
Além desses Transatlânticos, outros menos célebres também vieram a Santos, inclusive modestos navios mistos – de cargas e de passageiros. Muitos trouxeram imigrantes, que criaram raízes e tiveram descendentes nascidos no Brasil. Os nossos antepassados. Eis alguns navios da longa lista: Les Alpes, Desna, Cap Roca, Monte Olívia, Reina Vitória Eugenia, Ligúria, Tomaso di Savoia, Duca D´Aosta, Re Vittorio, Adelaide Lavarello, Buenos Ayres Maru.
Cartão-postal do Lloyd Sabaudo, mostando o salão de chá do
Conte Verde. Acervo: L.J.Giraud.
A primeira imagem, que ilustra esta matéria é de um cartão-postal mostrando dois transatlânticos, entrando em Santos no final da década de 20. O canal que aparece é o 5, da Av. Almirante Cochrane.
Em relação à identificação dos dois navios, há dúvida sobre qual seria o segundo transatlântico.
Interessante imagem mostrando o italiano Principesa Maria,
gêmeo do Principesa Giovanna, navegando pelo Estuário do Porto
de Santos, no início da década de 1930. Ao fundo vemos as torres
de eletrificação da Cia. Docas de Santos. Acervo: L.J. Giraud.
O transatlântico que estava entrando em primeiro lugar, com certeza o Conte Verde, de bandeira italiana, da companhia de navegação Lloyd Sabaudo, que começou a navegar em 1923.
Já o segundo navio de passageiros poderia ser o Sierra Morena, do NordDeutscher Lloyd, de Bremen, Alemanha, que fez viagem inaugural para a América do Sul em outubro de 1924.
O Highland Chieftain, desfilou incontáveis vezes pelo cais santista,
pertenceu à Royal Mail Lines. Foi lançado ao mar em junho de 1928. Naufragou em 1960 no Rio da Prata. A bordo havia um grande
carregamento de carne. Acervo: L.J.Giraud.
Em relação ao segundo transatlântico, outra possibilidade é de que talvez fosse o Príncipe di Udine, que entrou em serviço a 31 de março de 1908, pertencia á mesma armadora do Conte Verde, o Lloyd Sabaudo, que foi demolido em Gênova, Itália, em 1929.
Santos já alguns anos voltou a ser porto base (de partida e de retorno) de navios de cruzeiros. Na próxima temporada e nos anos seguintes, a Cidade poderá assistir novos desfiles de transatlânticos.
Talvez o mais conhecido transatlântico italiano que fazia a linha Itália/Brasil/Uruguai e Argentina, nos anos dourados, foi o
Giulio Cesare da Italia di Navigazione, lançado em 1951 e navegou
até 1973,quando foi demolido em La Spezia. Aqui atracado no
Armazém de Bagagem do Porto de Santos em 1952.
Foto: José Dias Herrera. Acervo: L.J.Giraud.
Nesta última temporada de verão - 2008/2009, participaram vários navios como: Costa Magica, Costa Mediterranea, MSC Musica, MSC Opera, Zenith, Grand Mistral, Celebration, Splendour of the Seas, Island Escape, entre muitos outros em trânsito, Que movimentaram milhões de reais na região, mais de 600.000 passageiros passaram pelo Terminal Giusfredo Santini do Grupo Concais. Só a MSC Cruzeiros deu um movimento de embarque e desembarque de 193.500 turistas.
Alguém duvida de que Santos é a Capital dos Cruzeiros Marítimos em toda América do Sul?
O belíssimo transatlântico português Vera Cruz, da Companhia
Colonia de Navegação, entrando em Santos pela primeira vez,
em 1952, tendo a bordo o prático Gerson da Costa Fonseca (91 anos).
Foto: Boris Kauffmann - Acervo: L.J.Giraud.
Tudo isso está em sintonia com o que escreveu num dos seus famosos escritos para o jornal A Tribuna o inesquecível poeta Narciso de Andrade: Navios, transatlânticos, o mar, o porto, quanta vida, quanta história, quanta beleza, privilegiada Cidade de Santos.
Despedida do CTE. GABRIEL LOBO FIALHO
No último 30 de janeiro, no Clube Militar Naval (Lisboa-Portugal), houve um coquetel de despedida, oferecido pela nova administração da ENN – Editora Náutica Nacional, ao Cte. Gabriel Lobo Fialho e sua esposa Sra. Luísa Sanches da Gama Fialho, proprietários anteriores da Revista de Marinha. Compareceram numerosos colaboradores da conhecida revista, familiares e amigos do casal.
Foto clicada no interior do antigo Armazém de Bagagem, quando da
entrega de dois painéis com imagens de transatlânticos que marcaram
época no Porto de Santos. Na fotografia estão autoridades da
Alfândega e do Porto de Santos, além do autor, do pesquisador marítimo José Carlos Rossini, Prof. Reinaldo Costa, e do despachante
José Luiz de Oliveira Martins, falecido no úlltimo mês de março. 1996.
Na oportunidade, o atual sócio-gerente da Revista de Marinha, Vice-Almirante Alexandre da Fonseca, enalteceu a profícua atividade do Cte. Gabriel junto a RM, nesses últimos 33 anos.
Os sinceros parabéns da coluna Recordar do PortoGente ao casal Fialho, e votos de grandes sucessos para a nova diretoria da Revista de Marinha.
Um cartão-postal de 1960, mostrando a Praia de Santos, que vem ao encontro das belezas da cidade portuária e praiana, descritas pelo poeta Narciso de Andrade. Foto Postal Colombo. Acervo: L.J.Giraud.