A partir do Carnaval de 1950, levado por meus pais, comecei a participar dos animados bailes infantis do Clube Internacional de Regatas, sempre nos domingos e nas terças-feiras. O piso ficava repleto de confetes e serpentinas. A segunda-feira era dia reservado para exibir a fantasia para tia Januária, e receber seus sinceros elogios. (a matriarca da família), na verdade tia de meu pai. Ela residia na Av. Gen. Francisco Glicério, 610. Para chegar até lá, fazíamos uma baldeação (na praça da Independência) do bonde 42 para o bonde Y. Este último subia a Av. Pinheiro Machado, até às proximidades da Rua João Caetano.
Anúncio no jornal A Tribuna do baile de carnaval do Clube XV,
no final da década de 1960.
Nos anos da década de 1950, quase todos se fantasiavam, inclusive os adultos, das mais variadas fantasias, no estilo pirata, sheik, palhaço, tirolês, índio, pierrô, bailarina, baiana, odalisca, havaiana, colombina, entre outras. O colorido dessas fantasias dava um espetáculo à parte, sem contar a alegria reinante no salão. Não esquecendo das decorações temáticas dos salões nos clubes, que eram verdadeiras obras de arte, como também, das marchinhas carnavalescas, que eram muito animadas, e fazia de qualquer pessoa, um verdadeiro folião.Dentre essas marchinhas: Chiquita Bacana, General da Banda, Allá-Lá–Ô, Balance, Linda Lourinha, Linda Morena, O teu cabelo, Jardineira, Quem Sabe, sabe, Sassaricando, Aurora, Maria Candelária. Sendo a minha preferida a Marcha do Pirata, que era mais ou menos assim: Eu sou o pirata da perna de pau, de olho de vidro, da cara de mal. Minha galera navega de vento em popa. Em verto trecho dizia, Entre as mulheres sou o maioral. – Era tudo nas vozes de Emilinha Borba, Marlene, Black-Out, Jorge Goulart, entre vários famosos.
Aliás, minha fantasia preferida era a de pirata, diga-se de passagem, era que saia todos os anos, isto é, cada ano uma nova. Os tecido de cetim, nas cores vermelha e branca eram comprados na Casa Buri. Já os acessórios, como espada, cinto, chapéu, polainas, tapa-olho, eram adquiridos, no Bazar da China, que ficava na Av. João Pessoa.
Um alegre corso na década de 1920. Reprodução.
Uma frustração carnavalesca foi a de nunca ter saído fantasiado de encapuzado, que era mais usada, nas festas de rua. Essa fantasia era toda preta, com um capuz, capa (era quente para a época) e polainas brancas. Era mais própria para os que brincavam nas ruas, geralmente no Centro e Gonzaga.
O Carnaval de rua tinha de tudo, onde desfilavam escolas de samba blocos, cordões. Nos dias que antecediam o Carnaval tinha as famosas batalhas de confete, em diversos bairros. Hoje não se escuta falar nessa animação.
O famoso bonde Y, que o autor tomava nas segundas-feiras de
Carnaval para chegar à casa da sua tia Januária. Acervo: L. J.Giraud.
Na faixa dos 16 anos comecei a freqüentar os bailes noturnos do Clube Internacional, que eram animados pela famosa orquestra de Zézinho e Luiz Arruda Paes, da Tv. Tupi de São Paulo. Muitas personalidades da época freqüentavam, o clube vermelhinho, da Ponta da Praia, como o casal Lolita e Ayrton Rodrigues, que eram os apresentadores do programa Almoço com as Estrelas. Vale dizer, que santista Lolita Rodrigues, foi muito bem lembrada, no artigo da jornalista Elcira Nuñez Y Nuñez, em A Tribuna do último dia 18.
Fica difícil escrever sobre o Carnaval, pois são tantas as coisas para se contar, sobre a maior festa do Planeta que muitas delas vão ficar para uma próxima vez, como o corso pelas avenidas das praias, Carnaval nos salões de clubes e hotéis de Santos.
Foto tirada durante baile de Carnaval no Teatro Municipal do Rio de
Janeiro - 1971. Reprodução
Depois de vários carnavais, alguns fora de Santos, atualmente prefiro assistir os dias do reinado de Momo através da tevê. Sendo o que mais aprecio é o desfile das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí.
Para fins de um maior esclarecimento sobre o surgimento do Carnaval, repasso interessante informação, encontrada num antigo Guia de Santos. Eis o texto:
O CARNAVAL E SUA HISTÓRIA
As origens mais remotas do carnaval, dizem os estudiosos, devem ser procuradas na veneração a APIS e ISIS do Egito dos Faraós, nas festas gregas em honra a Dionísi para celebrar as colheitas e até nos bacanais de Roma. Mas, o verdadeiro pai do carnaval brasileiro é o entrudo português. Festa orginária dos Açores empolgou Portugal nos séculos XV e XVI e também no Brasil. Desde os tempos coloniais até a Primeira República. O entrudo acontecia nos três dias que antecediam a Quaresma e todos participavam do escravo ao imperador.
Desfile das escolas de samba no Sambódromo do Rio de Janeiro, considerada a maior festa do mundo. Acervo: Mocidade Independente
A grande diversão era jogar “limões-de-cheiro” nas pessoas, um recipiente de cera que continha água de cheiro nem sempre agradável. Com o tempo, o entrudo tornou-se uma comemoração violenta e acabou proibida pela polícia. Os foliões recolheram-se então aos salões, organizando os primeiros bailes de máscaras. Em 1840, as máscarar eram vistas num baile da grande sociedade carioca. Daí a classe média reunia-se nos clubes e bailes, e acabou introduzindo o préstito e o corso na folia carnavalesca. O préstito era o desfile de carros alegóricos e começou a ser organizado no Brasil em 1855 pelo primeiro carnavalesco do Rio de Janeiro, o Congresso de Sumidades Carnavalescas. Já o corso era apenas um ruidoso desfile de carros particulares, sendo a maioria com capotas abaixadas, onde promoviam batalhas de confetes e serpentinas, além do jato dos lança-perfumes.
Foliões da velha guarda durante o Carnaval de 2004. L.J. Giraud
O carnaval através dos tempos, já passou por muitas transformações e apesar de todos os esforços para defini-lo, continua um fenômeno misterioso, envolto em uma aura de magia. Da folia antiga para o carnaval de hoje, com seus clubes fechados e luxuosas escolas de samba, há uma grande diferença. Mas o carnaval se renova e se transforma, e não pede explicações; é um momento para ser sentido, vivido, confundindo ainda em sonho, fantasia e realidade. Contagiante transforma todos que dele se aproxima em verdadeiros foliões. È uma festa de luz, de cor e de muita música, sendo um extraordinário, único no mundo.
Capa da agenda cultural, distribuída pela Prefeitura Municipal de Santos, com a programação dos desfiles das escolas de samba - 2009.