Sábado, 28 Setembro 2024
As pessoas ligadas às atividades aduaneiras, marítimas, portuárias e ao Comércio Exterior, mesmo com o advento do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), por razões diversas dessas atividades, precisam algumas vezes ir ao prédio da Alfândega do Porto de Santos, situado na Praça da República.


Postal panorâmico do Centro e do cais. Trecho do Valongo ao Paquetá,
por volta de 1929. O prédio da antiga Alfândega é o primeiro à esquerda,
no meio do cartão-postal. Acervo: L.J.Giraud.]

Muitos desses profissionais desconhecem que nesse local havia uma outra construção, que abrigava a antiga sede da repartição.

A edificação anterior teve as obras concluídas em 16 de julho de 1880, segundo conta o jornalista Olao Rodrigues (já falecido), de A Tribuna, no Dicionário de Curiosidades, edição de 1973.

O Tesouro Nacional firmou contrato em 7 de julho de 1876, para a construção do edifício da Alfândega local. As obras foram comandadas pelos engenheiros Rafael Arcanjo Galvão e Luiz Manoel de Albuquerque Galvão, sob a inspeção do engenheiro Manoel Ferreira Garcia Redondo, que construiu o Teatro Guarani.

O antigo prédio da Alfândega, em imagem retratada por volta de 1905. 
Foi demolido em 1928, para dar lugar ao atual. Acervo: L.J. Giraud

Dois anos depois de inaugurado o novo edifício, a Alfândega de Santos foi elevada à categoria de primeira classe, em 30 de dezembro de 1882.

Os cartões-postais que ilustram este artigo mostram a antiga Alfândega, vista pela Praça da República e do lado do estuário, com vários detalhes da época. Um desses detalhes é o armazém de bagagem, que ficava próximo da Alfândega, em razão dos navios de passageiros atracarem entre os armazéns 1 e o 6, nas primeiras décadas do século passado, o XX.

A estátua de Braz Cubas, o primeiro inspetor de Alfândega,
e a 
fachada do velho prédio. Acervo: L.J. Giraud

Depois de algumas décadas de atividades prestadas à Nação, a antiga construção começou apresentar todos os tipos de problemas próprios do envelhecimento, como goteiras, cupins, fiação elétrica, encanamentos, e o pior, ameaçou desabar em 1924. O que fez necessária sua demolição para no local surgir um novo e funcional edifício. Em 1928, iniciou negociação para a construção do prédio atual. As obras tiveram início em 1931, e foram concluídas em 1934.

Enquanto os trabalhos de construção se desenvolviam, a Alfândega foi instalada provisoriamente no Armazém XIV-Externo da Companhia Docas, cedido gratuitamente, de acordo com Olao Rodrigues, pela concessionária do Porto de Santos, na época – Companhia Docas de Santos, a legendária CDS.

A Alfândega vista pelo lado do estuário. Os armazéns portuários que
aparecem na imagem eram os armazéns de bagagens, que funcionaram
nas primeiras décadas do século passado. Acervo :L.J. Giraud

O atual Edifício Alfândega (área de 12.350 metros quadrados), com linhas clássicas e forte influência art decó, foi inaugurado em 19 de novembro de 1934, com a presença dos ministros da Fazenda, Artur de Souza Costa; e da Viação (atual transporte), Marques dos Reis; do diretor da Companhia Docas de Santos, Guilherme Weinschensck; e do inspetor alfandegário, Manuel Tavares Guerreiro. Vale recordar que todos os projetos de construção foram supervisionados e executados pelos engenheiros das Docas.

Não fugindo ao tema, transcrevo trecho de um artigo, do falecido jornalista Hamleto Rosato, publicado em A Tribuna, no domingo, 12/07/1953, com o título – Quando Surgiram As Praças, Desapareceram os jardins, no qual Rosato dizia que a cidade estava com a fisionomia modificada. Em certo ponto, ele escreveu: “Praça da República –Se em Londres os ingleses têm a St. James Park para fazer livremente o uso da palavra, aqui os santistas têm a Praça da República. É claro que não há a liberdade que os ingleses possuem, porque a Cidade para usar tal direito, aqui terá de conseguir autorização das autoridades competentes. Mas, de qualquer maneira quando surgem as eleições, é ali na Praça da República, junto à estátua de Braz Cubas, que se realizam os meetings políticos. Em última análise, é a nossa St. James Park”.

Imagem de 1910, na qual são vistas pessoas com trajes da
época, passando pela antiga Alfândega. Acervo: L.J.Giraud.

Realmente, Hamleto Rosato, tinha razão ao fazer essa observação sobre a praça que abriga a Alfândega do Porto de Santos (líder em arrecadação aduaneira). Ela tinha um belo jardim que deixava o local simpático. Ali era um reduto político, onde todos os candidatos faziam seus comícios.

Finalizando, o atual edifício da Alfândega está entre as mais belas construções do Centro Histórico de Santos. Como despachante aduaneiro, fico orgulhoso ao poder galgar, quase que diariamente sua bela escadaria, e poder andar pelo seu belo interior. Uma das atrações é a sala dos afrescos, que foram recuperados depois de ter recebido camadas de pinturas. Esse resgate aconteceu durante a grande reforma que teve início em 1998.

 

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