Postal panorâmico do Centro e do cais. Trecho do Valongo ao Paquetá,
por volta de 1929. O prédio da antiga Alfândega é o primeiro à esquerda,
no meio do cartão-postal. Acervo: L.J.Giraud.]
Muitos desses profissionais desconhecem que nesse local havia uma outra construção, que abrigava a antiga sede da repartição.
A edificação anterior teve as obras concluídas em 16 de julho de 1880, segundo conta o jornalista Olao Rodrigues (já falecido), de A Tribuna, no Dicionário de Curiosidades, edição de 1973.
O Tesouro Nacional firmou contrato em 7 de julho de 1876, para a construção do edifício da Alfândega local. As obras foram comandadas pelos engenheiros Rafael Arcanjo Galvão e Luiz Manoel de Albuquerque Galvão, sob a inspeção do engenheiro Manoel Ferreira Garcia Redondo, que construiu o Teatro Guarani.
O antigo prédio da Alfândega, em imagem retratada por volta de 1905.
Foi demolido em 1928, para dar lugar ao atual. Acervo: L.J. Giraud
Dois anos depois de inaugurado o novo edifício, a Alfândega de Santos foi elevada à categoria de primeira classe, em 30 de dezembro de 1882.
Os cartões-postais que ilustram este artigo mostram a antiga Alfândega, vista pela Praça da República e do lado do estuário, com vários detalhes da época. Um desses detalhes é o armazém de bagagem, que ficava próximo da Alfândega, em razão dos navios de passageiros atracarem entre os armazéns 1 e o 6, nas primeiras décadas do século passado, o XX.
A estátua de Braz Cubas, o primeiro inspetor de Alfândega,
e a fachada do velho prédio. Acervo: L.J. Giraud
Depois de algumas décadas de atividades prestadas à Nação, a antiga construção começou apresentar todos os tipos de problemas próprios do envelhecimento, como goteiras, cupins, fiação elétrica, encanamentos, e o pior, ameaçou desabar em 1924. O que fez necessária sua demolição para no local surgir um novo e funcional edifício. Em 1928, iniciou negociação para a construção do prédio atual. As obras tiveram início em 1931, e foram concluídas em 1934.
Enquanto os trabalhos de construção se desenvolviam, a Alfândega foi instalada provisoriamente no Armazém XIV-Externo da Companhia Docas, cedido gratuitamente, de acordo com Olao Rodrigues, pela concessionária do Porto de Santos, na época – Companhia Docas de Santos, a legendária CDS.
A Alfândega vista pelo lado do estuário. Os armazéns portuários que
aparecem na imagem eram os armazéns de bagagens, que funcionaram
nas primeiras décadas do século passado. Acervo :L.J. Giraud
O atual Edifício Alfândega (área de 12.350 metros quadrados), com linhas clássicas e forte influência art decó, foi inaugurado em 19 de novembro de 1934, com a presença dos ministros da Fazenda, Artur de Souza Costa; e da Viação (atual transporte), Marques dos Reis; do diretor da Companhia Docas de Santos, Guilherme Weinschensck; e do inspetor alfandegário, Manuel Tavares Guerreiro. Vale recordar que todos os projetos de construção foram supervisionados e executados pelos engenheiros das Docas.
Não fugindo ao tema, transcrevo trecho de um artigo, do falecido jornalista Hamleto Rosato, publicado em A Tribuna, no domingo, 12/07/1953, com o título – Quando Surgiram As Praças, Desapareceram os jardins, no qual Rosato dizia que a cidade estava com a fisionomia modificada. Em certo ponto, ele escreveu: “Praça da República –Se em Londres os ingleses têm a St. James Park para fazer livremente o uso da palavra, aqui os santistas têm a Praça da República. É claro que não há a liberdade que os ingleses possuem, porque a Cidade para usar tal direito, aqui terá de conseguir autorização das autoridades competentes. Mas, de qualquer maneira quando surgem as eleições, é ali na Praça da República, junto à estátua de Braz Cubas, que se realizam os meetings políticos. Em última análise, é a nossa St. James Park”.
Imagem de 1910, na qual são vistas pessoas com trajes da
época, passando pela antiga Alfândega. Acervo: L.J.Giraud.
Realmente, Hamleto Rosato, tinha razão ao fazer essa observação sobre a praça que abriga a Alfândega do Porto de Santos (líder em arrecadação aduaneira). Ela tinha um belo jardim que deixava o local simpático. Ali era um reduto político, onde todos os candidatos faziam seus comícios.
Finalizando, o atual edifício da Alfândega está entre as mais belas construções do Centro Histórico de Santos. Como despachante aduaneiro, fico orgulhoso ao poder galgar, quase que diariamente sua bela escadaria, e poder andar pelo seu belo interior. Uma das atrações é a sala dos afrescos, que foram recuperados depois de ter recebido camadas de pinturas. Esse resgate aconteceu durante a grande reforma que teve início em 1998.