Desde a minha tenra infância tenho grande fascínio pela Praça Mauá a ”rainha das praças” de Santos, denominação dada pelo falecido Prof. Nelson Salasar Marques, num de seus interessantes artigos escritos para os leitores de A Tribuna.
Na charmosa praça está situado o Paço Municipal, o Marco Zero da Cidade, o ponto do bondinho turístico, o tradicional Café Carioca, conhecido por seus deliciosos pasteis, e muitas coisas interessantes.
Cartão-postal de 46 mostrando a famosa Praça Mauá com o Paço
Municipal e automóveis da época estacionados. Acervo: L.J.Giraud
Esse fascínio, deve-se em parte a situações que vivenciei quando menino, e era levado por minha mãe, ao Centro, a bordo de um dos ônibus mais simpáticos que a Cidade já teve, o Coach GM (leia), que ficou conhecido como “Gostosão, cujo ponto final era próximo da Prefeitura. Dali seguíamos para as Lojas Americanas, onde saboreávamos o mais delicioso cachorro-quente de todos os tempos, acompanhado de uma laranjada, que só perdia para a do Café Atlântico (Gonzaga). Depois para minha alegria seguíamos para a seção de brinquedos. A única coisa de que não gostava era ficar aguardando minha mãe na parte de bijuterias da loja.
Já por volta de 1959, aos 14 anos, meu pai matriculou-me na famosa escola de datilografia Remington, por onde muitas gerações passaram. Ela ficava, no alto do Bar Chic, onde hoje funciona o Restaurante Jamblam. Pois bem, eu costumava faltar às aulas do referido curso, meu pai descobriu isso quando foi me esperar no final da aula (16 horas), a bronca foi grande. A partir desse dia, lá estava meu pai de segunda a sexta-feira me esperando na saída. A gozação era grande por parte dos colegas.
A rara imagem da "rainha das praças" mostra em primeiro plano o
local onde hoje está situada a Prefeitura de Santos. A praça ia até a
Rua Augusto Severo. 1931. Acervo: L.J.Giraud
Uma outra recordação da praça foi quando fui pela primeira vez sozinho ao Centro, de bonde. Grande aspiração dos meninos da década de 1950. A chegada no abrigo do bonde (o mesmo do atual bondinho) foi triunfal.
Por essas e inúmeras lembranças, resolvi escrever coisas referentes à querida Praça Mauá.
Ao começar lembrei de um belo artigo do amigo José Carlos Silvares, publicado em A Tribuna, de domingo, 5 de outubro de 1997, com o título – Praça Mauá, o Charme Resistindo ao Tempo. Antes de iniciar a matéria, Silvares disse: “A área, que hoje esta em reforma, é o coração da Cidade e sede dos poderes que norteiam os rumos do Município”. Eis o texto:
Alguns a consideram “a mais santista das praças”. Mas a Praça Mauá não abriga apenas edifícios onde funcionam a Prefeitura e a Câmara Municipal. Ela é realmente o coração de Santos. É a partir dela que a Cidade passa a existir de fato, já que na praça está implantado o Marco Distrital, um pequeno monumento piramidal de 1940. É o marco zero das coordenadas geográficas de Santos e o ponto de partida para a marcação dos serviços topográficos.
Postal do dia 26 de janeiro de 1939, dia do aniversário da Cidade, e
da inauguração do novo Paço Municipal. Acervo: L.J.Giraud
Mas a Praça Visconde de Mauá é também um local cheio de memória. Cada uma das suas esquinas guarda muita história, como mostram os cartões-postais desta página, das coleções do autor e do pesquisador Laire José Giraud.
A Praça surgiu em 1801, como Largo da Misericórdia, logo passou a chamar-se Largo da Coroação, em homenagem a Dom Pedro II, que na companhia da Imperatriz Tereza Cristina, inaugurou um chafariz que ficava no Centro da Praça e que era servido pelas águas da Fonte do Itororó. O local também ficou conhecido como Largo do Chafariz.
E finalmente, a 6 de outubro de 1887, há exatamente 110 anos (Nota: na época em que foi escrito o artigo) passou a chamar-se Praça Mauá, homenagem da Cidade ao Visconde de Mauá, empresário gaúcho considerado o pai dos empreendedores do Brasil. Ele foi o primeiro em tudo o que era importante no Rio de Janeiro: indústria de navios, ferrovia, rodovia e instalou cabos telegráficos submarinos entre o Brasil e Europa. Foi eleito deputado liberal, abolicionista e entrou em atrito com as autoridades imperiais, quando seus negócios foram abalados e ele foi à falência, morrendo em 1889 tentando pagar suas dividas.
Muitas árvores e um coreto no canto esquerdo da imagem, em tempos bucólicos do início do século XX. Acervo: L.J.Giraud
REFORMA
Em 1938 a Praça foi remodelada, para ficar em harmonia com o novo Paço Municipal, que começava a ser construído ali, em estilo Luiz XVI. As sedes da Prefeitura e Câmara transferiram-se oficialmente em janeiro de 1939. A remodelação custou a retirada das linhas de bonde e o fim de um imenso jardim arborizado. Mas a praça ganhou o Paço.
Até os anos 60 era a praça mais fina da Cidade e passarela feminina da moda. Nas suas imediações existia o que havia de melhor no comércio, como a Casa dos Dois Mil Réis (Lojas Americanas), Tipografia Minerva, Banco de Boston, Café Adelino, Casa Slopper, Casa Lemck, Escola Remington, Bar Chic, Café Carioca, Banco Novo Mundo, entre outros, e os terminais de ônibus para São Paulo, além das linhas de bondes.
O cartão-postal de 1952 mostra uma cena diária daquela época,
com o bonde, ponto de táxi em frente ao Paço, e ao fundo o famoso
Monte Serrat, com seu antigo cassino. Acervo: L.J.Giraud
Agora a praça está novamente sendo remodelada, após o abandono a que esteve relegada nos últimos anos. Pelo projeto da Prefeitura, deverá retomar as formas que teve no seu período de glória, nos anos 60, mas modernizada, como exige a proximidade do novo milênio.
Devo ressaltar que esse artigo sobre a Praça Mauá, foi escrito por Silvares em razão da minha grande admiração pela nossa “rainha das praças”, o que sempre me deixou grato ao grande amigo.
O imperador D. Pedro II, acompanhado da
imperatriz Tereza Cristina, esteve em Santos
no dia 18 de setembro de 1846 e na
oportunidade inaugurou o chafariz que ficava
bem no Centro da Praça Mauá.
Acervo: L.J.Giraud