Li o último exemplar (dezembro/janeiro) da excelente Revista de Marinha, Lisboa-Portugal, da qual é diretor o comandante Gabriel Lobo Fialho, que esteve na nossa Cidade por duas vezes, em 1954, quando veio para os festejos do IV Centenário da Cidade São Paulo, a bordo do aviso Gonçalves Zarco, da Marinha de Portugal, e retornou em 2002 na companhia de sua esposa Sra. Luísa Fialho. Na oportunidade conheceu vários locais de Santos, como Monte Serrat, o porto através de convite da Praticagem de Santos, onde foi ciceroneado por Fábio Melo Fontes, seu presidente. Além de terem participado de um jantar no Rotary Porto.
O luxuoso Queen Elizabeth 2, no cartão-postal oficial da
Cunard. Acervo: L.J.Giraud.
Durante a leitura, deparei com um artigo com o título - Queen Elizabeth II A Última Visita a Lisboa, que tem como ilustração uma foto do famoso transatlântico clicada pelo escritor português Luis Miguel Correia, autor de obras sobre o tema navios
Por achar a matéria interessante e informativa, peço licença para transcrevê-la.
“QUEEN ELIZABETH II – A ÚLTIMA VISITA A LISBOA”
O mítico transatlântico “Queen Elizabeth II” escalou o porto de Lisboa, pela última vez, no passado dia 13 de Novembro, transportando a bordo cerca de 1.700 passageiros. O QE2, como é normalmente conhecido na gíria marítima, foi recentemente vendido a uma firma do Dubai, a Dubai World, por 62 milhões de euros, e será em breve transformado num hotel de luxo, recuperando o “glamour” do fim dos anos sessenta, quando foi construído.
O Queen Elizabeth 2, o mais importante transatlântico que passou
por Santos, chegando pela primeira vez, no dia 4 de abril de 1.985. Acervo: L.J.Giraud.
Aquela que será a última viagem do QE2 como navio de cruzeiros que começou em Southampton, no dia 11 de Novembro, com as despedidas presididas pelo Duque de Edimburgo, e terminará a 27, quando fundear no Dubai, em Palm Jumeirah, a maior ilha artificial do mundo, em forma de palmeira, visível mesmo do espaço.
O QE2 visitou Lisboa mais de quinhentas vezes, sendo a nossa capital o terceiro porto mais importante para este navio, logo atrás de Southampton, o porto de armamento, e de Nova Iorque. Nas suas numerosas viagens participaram muitos milhares de passageiros, entre os quais os famosos Nelson Mandela, Elizabeth Taylor e Richard Burton, e a própria Rainha Isabel II. Em 1.982, quando da guerra das Malvinas, ou Falklands, conforme a perspectiva, conflito que, como se sabe, o QE2 foi mobilizado e rapidamente transformado em transporte de tropas, tendo-lhe então sido montada uma pista para helicópteros.
No exato momento, em que o "casco real" passava na altua do
Clube Internacional de Regatas, surgiu uma draga da Portobras,
que reduziu a visão do perfil do belo navio britânico. Foto: L.J.Giraud.
O QE2 foi construído nos estaleiros de John Brown &Co, no Rio Clyde, perto de Glasgow, na Escócia, tendo sido lançado à água em 20 de Setembro de 1967, na presença da rainha Isabel II, que lhe deu o nome, e entrou ao serviço da Cunard Line ” a partir de 2 de Maio de 1969. Com um comprimento de 294 metros e cerca de 70.500 tons de deslocamento, tem uma velocidade máxima de 32,5 nós, uma tripulação de cerca de 1.000 elementos e pode transportar até 1.900 passageiros.
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Após ler o artigo, que conta muitas coisas do navio mais famoso dos últimos tempos, me veio à lembrança as quatro passagens do magistral transatlântico por Santos, das quais destaco as de 1985 e 1989, por serem as que vivenciei.
Na primeira escala que foi em 4 de abril de 1.985, a Cidade ficou alvoroçada pela honra de receber o transatlântico mais famoso do mundo. Os jornais deram amplo destaque ao acontecimento.
Pouco antes de atracar no armazém 33 da Codesp, o QE2 navegava
pelo Estuário do Porto de Santos. Acervo: L.J.Giraud.
Por volta das 7 horas lá estava eu num dos ícones de Santos, a amurada da Ponta Praia para assistir o grande desfile naquela passarela natural de navios. Antes entrou o Eugenio C , depois surgiu um cargueiro, e por um período nada do tão esperado navio. De repente aparece o Enrico Costa (ex-Provence), quando por volta das 8 horas aparece o maravilhoso Queen Elizabeth 2.
Acredite, os populares presentes se emocionaram com aproximação do verdadeiro monstro sagrado. Eu não sabia se ficava olhando ou fotografando o navio. Fiz as duas coisas. Consegui fotografá-lo pela proa, mas quando fui fotografá-lo pelo través (de lado), eis que surge uma draga da Portobras, que fica entre o calçadão e o casco do QE2, impedindo uma total visão da grande embarcação.
Foto do Queen Elizabeth 2, atracado no armazém 33, visto do
lado do mar. Acervo: L.J.Giraud.
A multidão pasmada, gritou, assobiou e xingou até a quinta geração do mestre da draga, como mostra a terceira ilustração. Foi uma pena. Muitas fotos foram perdidas por inúmeras pessoas que lá estavam com suas câmeras fotográficas. Hoje até acho graça do ocorrido, mas na ocasião a frustração foi total.
Ao anoitecer do mesmo dia, deveria ser por volta de 19 horas, avistei o Queen Elizabeth 2. de bordo da lancha 25 de Janeiro, da Praticagem que retornava após ter deixado o prático João Acioly Nogueira num navio de carga árabe. Na altura do Clube Saldanha da Gama, vi o gigantesco navio pelo lado de bombordo (lado esquerdo do transatlântico). Uma cena inesquecível ver o segundo maior navio de passageiros do mundo, na época passando a pouco mais cem metros da embarcação. A bordo vinham três práticos, a saber, Pedro Pholio, Federico Bento e Édio Portugal Marinho, os dois últimos já falecidos. O prático responsável era Portugal Marinho.
Populares observando o QE2, atracado no entre os armazéns 33 e 34. Janeiro/1989. Foto: L.J.Giraud
No entanto, a mais marcante, foi a terceira escala feita, no sábado, 28 de janeiro de 1989. Sua entrada no porto santista se deu às 6h30. No dia seguinte, domingo que precedia o Carnaval, era dia do Banho da Dona Dorotéia,, na companhia de meus familiares fomos ao armazém 33, para vermos o célebre transatlântico. Como fazia muito calor fomos embora. Por volta das 18 horas, fomos na Ponta da Praia, verdadeiro mirante para nos despedirmos do luxuoso Queen. A orla das praias estava lotada de populares, que foram assistir a famosa patuscada da Dona Dorotéia, bem como a saída do navio mais importante que passou por Santos, isto é, no meu ponto de vista.
Sobre essa majestosa passagem do QE2, o inesquecível jornalista Hélio Schiavon, que passou para outra dimensão no início do ano passado, conta o seguinte: O povo dançava nas ruas, quando o Queen Elizabeth2, o mais luxuoso e imponente navio inglês, deixou o porto. Ele saia mansamente pelo estuário. Anoitecia e, após a primeira curva, os passageiros avistaram a multidão. Eram milhares de homens vestidos de mulher, dançando na Ponta da Praia. “It´s the Dorothea”, explicou o comandante, orgulhoso de mostrar que conhecia as coisas do Brasil. O coquete era servido nos salões e os turistas se espremiam contra as vidraças do salão para ver o show inusitado. “It´s Dorothea Bath, festa típica de Santos, realizada há um século, no Carnaval”.
No porto de Lisboa o magistral Queen Elizabeth, em foto do
comandante Gabriel Lobo Fialho.
No dia 30 de janeiro de 1989 A Tribuna publicava a manchete “Queen Elizabeth 2 deixa Santos em clima de festa”.
A matéria iniciava assim: Quem viu o filme Amarcord (1973), do diretor italiano Federico Felini, poderá sentir a emoção que os personagens experimentaram quando um transatlântico passa ao largo da cidade de infância do cineasta da Itália.Os habitantes do pequeno povoado em botes e outras embarcações, foram avistar o navio de passageiros de perto, admirar a sua grandiosidade, exprimir e manifestar doces ilusões de um dia viajarem a bordo, numa viagem inesquecível.
Esse cruzeiro de volta ao mundo teve início no porto de Nova Iorque, e recebeu o título de Odisséia à América do Sul, Pacífico e Oriente. Logicamente seus participantes eram milionários, na maioria estadunidenses.
Na fotografia, vemos o chefe da hotelaria diante de delícias
que eram oferecidas aos passageiros. Acervo: L.J.Giraud.
Vale recordar que a prefeita de Santos, na época, Telma de Souza fez a entrega da chave da Cidade ao comandante do transatlântico Allan Bennel. Houve também uma série de eventos para recepcionar os turistas por parte da Secretaria Municipal de Turismo, da qual fazia parte a conhecida jornalista santista Madô Martins.
Depois da majestosa saída do transatlântico britânico, o cais deixou transparecer uma imagem de triste fim de festa. Muitas coisas poderiam aqui ser ditas sobre o QE2, mas a relação é imensa, ficando assim o faltante para uma próxima oportunidade.
Quem sabe se um dia seremos hospedes, em Dubai, a bordo do magistral Queen Elizabeth 2? - LA NAVE VA.
A homenageada, a Rainha Eliizabeth 2,
quando batizava o navio que leva seu nome,
no dia 20 de setembro de 1967. Reprodução.
A Rainha Mãe sendo recebida a bordo pelos diretores da Cunard
pelo Sir Nigel Broaks e Mr. Eric Parker. 1983. Reprodução.