Sábado, 04 Janeiro 2025

Nos anos de 1990 tive a grata satisfação de conhecer uma pessoa muito interessada em navios da nossa Marinha Mercante, e que mostrava grande conhecimento dos antigos navios do Lloyd Brasileiro, Lloyd Nacional e da Cia. Nacional de Navegação Costeira. Durante algumas conversas mantidas em meu escritório, e no Café Paulista, fiquei sabendo que o mesmo era um emérito membro da magistratura Federal do Trabalho.

 

O Porto de Santos por volta de 1950, época em que o juiz Bernardino Azevedo de Carvalho viajava nacompanhia de seus pais em navios

nacionais da Costeira e do Lloyd. Cartão-postal do acervo de L.J.Giraud.

 

Após o lançamento do livro Transatlânticos em Santos 1901/2001, não o vi mais, mas sempre lembrando da sua simpática pessoa, o Dr. Bernardino Azevedo de Carvalho.

 

Pois bem, dia desses ao mexer numa pasta de arquivo pessoal, deparei com um boletim informativo do Centro de Capitães da Marinha Mercante, conhecido como Diário de Bordo, e comecei a lê-lo, quando deparei  na seção Correio de Bordo, uma carta enviada pelo Dr. Bernardino. Cujo texto segue abaixo:

 

Ilmo. Cmte. Álvaro de Almeida, Presidente do Centro de Capitães da Marinha Mercante.

 

Na foto dos anos de 1940 são vistos dois navios do Lloyd Brasileiro (chaminés branco/preto) um atracado e outro fundeado, este último lembrando o Barão de Jaceguay.  Acervo: L.J.Giraud.

      

No tempo em que os deslocamentos no Brasil eram feitos basicamente por via marítima, tive oportunidade de percorrer centenas de milhas náuticas. Filho de um funcionário da União, ainda criança, 3 ou 4 anos, já estava eu viajando a bordo de navios do Lloyd e da Costeira.

 

Foi natural assim que eu me voltasse efetivamente para a Marinha Mercante.

 

Em 62 – terminado o ginasial – prestei exame á Escola de Marinha Mercante e ainda á Escola Preparatória de Cadetes de Barbacena. Logrei êxito somente na segunda, mas não segui adiante por motivo de miopia. Posteriormente, vim a seguir carreira no Judiciário.

 

O cartão-postal do Itassuce da Companhia Nacional de Navegação Costeira, mostra um Ita dos pequenos, navios muito conhecidos

pelos viajantes marítimos de outrora. Foi a bordo de um Ita (eram

vários todos começando com esse prefixo, ex: Itanagé, Itaberá ) que nasceu o presidente Itamar Franco. Acervo: L.J.Giraud.

 

Ao longo daquelas mudanças, residi em cidades como Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Recife.

 

Das embarcações em que viajei, recordo-me dos seguintes nomes: Itaité,  Itaquera,  Itaquatiá,  Araranguá,  Itapuí,  (que afundou em Abrolhos) e Raul Soares. Os percursos foram feitos na década de 50 até meados da década de 60. Alguns até no final dos anos 40, mas aí, só por informações dos meus pais. A título de informação e para maior precisão, o percurso de Recife a Porto Alegre foi realizado entre dezembro de 57 e janeiro de 58.

 

O que motivou a escrever esta carta foi o desejo de rever algumas das pessoas que por acaso estivessem embarcadas naquela época, naqueles navios e que tanto me marcaram. É uma proposta que exige persistência, sei disso. Animou-me, contudo, a boa vontade do Cte. Mário que me atendeu em telefonema que dei para o Centro dos Capitães no Rio de Janeiro.

 

Qualquer colaboração que possa me ajudar a conseguir esse intento, será  bem-vinda. Estou mesmo disposto a viajar ao Rio de Janeiro, cidade aonde não vou desde 64. Acredito que eu talvez possa ter viajado com um ou mais integrantes do Centro dos Capitães.

 

Os paquetes (navios de passageiros) do Lloyd Nacional (não confundir

com Lloyd Brasileiro), eram muito procurados pelos passageiros do

mar, pelo conforto e boa alimentação oferecida. Esses navios foram construídos na Itália no final da década de 1920. Acervo: L.J.Giraud.

 

Quero colocar-me ao seu dispor caso venha a São Paulo. Aliás, seria uma grata satisfação conhecê-lo pessoalmente.

 

Sou sinceramente grato pela gentil deferência e subscrevo-me atenciosamente.

 

Bernardino Azevedo carvalho – SP – Capital.

 

O Correio do Mar responde.

 

Saudosismo, Nostalgia, Ternura. Todos nós precisamos um pouco disso. O Dr. Bernardino nos fez reviver, com sua carta, uma Marinha Mercante que já não existe e cujas perspectivas de renascimento são cada vez mais remotas.

 

Sempre resta, no entanto uma esperança. Quem sabe não surge uma autoridade que alie os sentimentos do Dr. Bernardino, com a vontade de ver o Brasil novamente inserido no contexto de uma grande potência marítima?

 

Graças ao exemplar do Diário de Bordo (1997), fiquei sabendo

um pouco mais do grande admirador de  navios nacionais do passado,

o juiz Bernardino.

 

Não vale relembrar aquele ex-presidente que nasceu em um Ita no mar. Este nada fez pela Marinha Mercante. Apenas abriu um pouco mais a válvula de fundo do navio que continua indo a pique.Mas outros surgirão, não temos dúvida. A insanidade e falta de visão podem prevalecer em um breve período, mas certamente não são eternos.

 

O Dr. Bernardino, Juiz do Trabalho na Cidade de São Paulo, foi convidado e gentilmente compareceu ao almoço mensal do Centro dos Capitães no dia 19 de março (1997) no Hotel Guanabara. Lá, em clima de alegre confraternização, ele reencontrou alguns Capitães que tripulavam os navios citados na carta acima transcrita.

 

Cartão-postal de Boas Festas com a

imagem de uma Santos de 1957, que

reitera os votos de um Feliz 2009.

 

Este primeiro artigo de 2009 é uma homenagem ao Juiz Bernardino Azevedo Carvalho e ao Comandante Álvaro de Almeida, que comandou vários navios da Cia. Aliança, que foi armadora de navios que ficaram famosos na nossa Marinha Mercante, entre eles o Maringá.

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