Sexta, 20 Setembro 2024

Deverá entrar no porto de Santos, no dia 17 corrente, em viagem inaugural, o novo paquete italiano “Augustus”, que como o ”Giulio Cesare”, constitui a última palavra em matéria de navegação transatlântica para passageiros.

 

Cartão-postal em pintura do transatlântico italiano Augustus. 

O postal tinha como finalidade a propaganda do navio, mostrando

a potência e a dimensão do navio. Acervo do autor.

 

Conta, agora, a “Societá Itália”, com deis navios-motor moderníssimos, que são uma prova do progresso avançado pela construção naval italiana, marchando na vanguarda das mais bem aparelhadas do mundo. Duas características assinalam os novos paquetes lançados na linha Genova-América do Sul, e que dão ao “Augustus” um motivo particular de preferência por parte dos que desejam viajar a conforto. São elas o ar condicionado, para todas as classes, que proporciona uma temperatura uniforme e agradável em todos os ambientes, e uma poderosa estação radiotelefônica, pela qual os passageiros se podem comunicar com qualquer parte do mundo, de dentro do próprio camarote.

 

Os ambientes em todas as classes são agradáveis, reunindo ao conforto o bom gosto artístico, com largueza de espaço.

 

A primeira classe dispõe, alem grandes salões, apartamentos de um e dois lugares, com banho e telefone pelo qual se podem os passageiros comunicar com a terra firme.

 

Cartão-postal oficial da Italia di Navigazione, que representava

os transatlânticos gêmeos Augustus e Giulio Cesare, que mediam

207 metros de comprimento e tinham velocidade de 21,5 nós (40 km/h).

 

A terceira classe não tem os grandes dormitórios coletivos, constando de cômodas cabines de dois e quatro lugares, algumas delas com chuveiro próprio, água doce corrente, quente e fria.

 

As três piscinas, colocadas em degraus sobre três tombadilhos, com praia, jardim de inverno, bar, etc., oferecem um curiosíssimo aspecto, com grandes espaços livres para banho de sol.

 

Tem o navio quatro cinemas, um dos quais ao ar livre. Escritórios para informações turísticas, bancárias, etc., lojas de arte, atelier fotográfico, sala de ginástica com todos os aparelhos desportivos, modernas instalações para curas fisioterápicas, e muitos outros serviços se encontram á disposição dos passageiros. Cada classe é servida por modernas cozinhas elétricas, havendo grande garagem com entrada direta para as docas.

 

Uma capela para todos os passageiros, um pequeno hospital, etc., completam todas as condições de segurança, de bem estar e de tranqüilidade.

 

O cartão-postal mostra o Augustus em uma da inúmeras passagens

pela Cidade, passando pela Ponta da Praia, na altura do Iate Clube

de Santos no início da década de 1970. Acervo do autor.

 

O “Augustus” está dotado de todo o aparelhamento moderno de navegação, tal como radar, ecómetro, piloto automático, bússola giroscópica, alarma automático, apagamento de incêndios, etc.

 

Tanto o “Augustus” como o “Giulio Cezare” deslocam 25 mil toneladas, tendo o comprimento de 192 metros, largura de 27 metros.

 

Podem alojar 1.100 passageiros, e sua população, com os tripulantes, pode ser de 1.700 pessoas”.

 

A notícia acima foi publicada no jornal A Tribuna do dia 16 de março de 1952, véspera da chegada do Augustus no Porto de Santos, na viagem inaugural, cujo início foi em 4 de março daquele ano, a partir de Genova.    

 

     

A bordo do Augustus, João Fraccaroli e sra. Leontina Sarti Fraccaroli, proprietários do antigo Parque Balneário Hotel foto tirada durante

festa de gala. Acervo de Lena Penteado Caldas.

 

Recordar é viver: como contei em artigo anterior, por volta de 1956 os navios de passageiros gozavam do maior prestígio entre os viajantes, mesmo com o crescimento da aviação comercial. Os mais apressados já utilizavam os aviões nas viagens para o exterior.

 

Foi por volta daquele ano, quando ainda cursava o primário, que passei a prestar maior atenção no transatlântico italiano Augustus, que tinha como gêmeo o famoso Giulio Cesare, que fez viagem inaugural para América do Sul no ano anterior à do Augustus, ou seja, em 1951.

 

Explicando melhor, na minha classe, no Instituto Andradas, estudava uma menina italiana muito inteligente e simpática, que havia mudado no ano anterior para o Brasil. Em pouco tempo já dominava o Português. Tanto que se formou em primeiro lugar.  Essa menina e seus familiares vieram para o Brasil no legendário Augustus. A partir das coisas que ela contava da viagem, comecei a prestar mais atenção nesse navio de passageiros, no qual muitas pessoas famosas viajaram.

 

A elegante sala de estar de primeira classe do

Augustus. Acervo de Emerson Franco da Silva.

 

Da nossa Cidade, viajaram a bordo desse inesquecível navio, o casal Giovanni (João) Fraccaroli e sua esposa Leonilda Sarti Fraccaroli. João Fraccaroli foi proprietário do mais famoso hotel de Santos, em todos os tempos, o antigo Parque Balneário Hotel. Ficava situado onde hoje é shopping e hotel com o mesmo nome. Ver artigo, O Inesquecível Parque Balneário, publicado nesta coluna, em 29/01/2008.

 

Roberto Xande, pessoa conhecida na Cidade, viajou no Augustus rumo ao Velho Continente. Ele recorda que nas partidas do navio nos portos de escala, ouvia-se a voz do comissário de bordo dizendo, “la nave partenza”. Seguido da solicitação do pedido de desembarque dos visitantes que estavam a bordo. Pois o navio estava prestes a zarpar.

 

No ano de 1952, a Itália Soc. Per Azioni Di Navigazione, representada em Santos pela Italmar S/A Brasileira de Empresas Marítimas, com escritório na Praça da República, 52, fone 2-8026, mantinha os seguintes navios na rota sul-americana: Conte Grande, Conte Biancamano, Marco Polo, Sebastiano Caboto, Paolo Toscaneli, Ugolino Vivaldi e Giulio Cesare e Augustus.

 

O Augustus em manobra de atracação no armazém de bagagem

por volta de 1953. Note que a faixa do cais na época era recuada.

Foto de José Dias Herrera. Acervo do autor.

 

Alguns, entre muitos outros transatlânticos que freqüentavam a Cidade, naquele ano: Surriento, Provence, Claude Bernard, Laenec, Cabo de Buena Esperanza, Serpa Pinto, Andes, Highlalnd Princess, Alcantara, Juan de Garay, Anna C, Andrea C, Yapeyu, Alberto Dodero, Corrientes, Rio Tunuyan, Salta e Rio de La Plata.

 

Na minha lembrança, recordo ter visto esse navio por cinco vezes, uma delas já contei em artigo anterior, foi no dia 22 de dezembro de 1956, quando fui na companhia de minha família para o Rio de Janeiro, onde passamos o Natal daquele ano, na companhia de meu avô materno. Nesse dia a movimentação foi grande no armazém de bagagem. Lá estavam atracados mais três transatlânticos: o Augustus, da Itália Soc. Per Azioni di Navigazione, o Brazil (com “z”), da estadunidense Moore-McCormack Lines; e o francês Bretagne, da Société Générale de Transports Maritimes. Cheguei a visitá-lo, na década de 1960, e fiquei impressionado com tudo que vi a bordo desde as pessoas emocionadas com as despedidas de seus parentes e amigos, passando por pessoas elegantes, e chegando no luxo de bordo.

 

Vale ressaltar, que os gêmeos Augustus e Giulio Cesare, chamavam atenção das pessoas quando passavam pela Ponta da Praia. Não havia quem não parasse para vê-los, navegando. Eram muito belos.

 

Por volta de 1970, o Giulio Cesare atracado no cais da Praça Mauá

do Rio de Janeiro, no mesmo local onde hoje atracam os navios de

cruzeiros. Acervo do autor.

 

O Giulio Cesare escalou Santos pela primeira vez em 11 de novembro de 1951, e sua última passagem foi em janeiro de 1972. O Augustus fez sua primeira escala em 17 de março de 1952 (atracou às 6h30, no armazém 15 da CDS – O movimento de pessoas foi assombroso), sob o comando do capitão-de-longo-curso Luigi Bulinelli. Na oportunidade houve um coquetel a bordo, onde compareceram personalidades da época. A última passagem do Augustus aconteceu em janeiro de 1976. O Augustus resistiu ao tempo, foi vendido, teve outros nomes como, Great Sea. Atualmente é hotel flutuante e cassino nas Filipinas.

 

Fica aqui um rastro da lembrança do Augustus, que deixou seu nome imortalizado em letras de ouro, no livro do Porto e da Cidade de Santos.

 

A foto de José Dias Herrera retrata a

emoção de uma das despedidas do transa-

tlântico Augustus. Final da década de 1960.

Acervo do autor.

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