Quarta, 01 Janeiro 2025

Há uns 15 anos, quando ainda garimpava cartões-postais, pelas feiras de antiguidades do bairro do Bexiga, e na que funciona no vão do Masp, na Cidade de São Paulo, adquiri, de um certo marchand dois prospectos de propaganda (hoje chamado de folder), do início dos anos de 1950, da armadora italiana Línea C. Esses prospectos continham rápidas e objetivas informações dos navios de passageiros, Anna C e Andrea C, dois navios de grande sucesso na linha entre Itália, Brasil, Uruguai e Argentina. Eles foram reformados para o serviço de passageiros e entraram em serviço em 1948, há exatamente 60 anos.

 

A capa do folder dos transatlân-

ticos italianos Anna C e Andrea C

mostra uma família no convés

de um dos navios entrando na

Baía da Guanabara, tendo ao

fundo o Pão de Açúcar.

Acervo do autor.

 

Vale lembrar, que o Anna C, era anteriormente o Southern Prince, da Prince Line de 1929. A sua linha era Nova York/Buenos Aires e portos intermediários de escala. Rio de Janeiro e Santos era um desses portos. Meses depois entrou em serviço o Andréa C, o ex-cargueiro inglês Ocean Virtue.

 

Esses dois transatlânticos foram os precursores de outros navios da amadora, que no passar do tempo foram surgindo na Rota de Ouro e Prata (Brasil, Uruguai e Argentina), como Federico C de 20.400 toneladas o primeiro encomendado diretamente para a Línea C, em 1957. Posteriormente veio o navio mais querido dos brasileiros, o Eugenio C (depois Eugenio Costa) cuja viagem inaugural foi em 1966. Ficou aqui até 1996 - 30 anos.

 

O Anna "C" para transporte de passageiros. Foi o primeiro navio

da armadora a fazer a linha Europa/America do Sul. Foto: J. C.

Rossini, ilusstrada no livro Photografias e Fotografias do Porto

de Santos, lançado em 1996.

 

Nessa época outros navios menos conhecidos dos brasileiros faziam a linha do Caribe como o Giovanna C e o Franca C. Este último fez cruzeiros a partir do Porto de Santos no início da década de 1970. O Franca C foi também o navio evangélico Doulos, que esteve duas vezes na Cidade, como biblioteca flutuante. Certamente os mais vividos lembram-se dessa embarcação.

 

Retornando ao prospecto dos protagonistas Anna C e Andrea C, o texto era um pouco confuso devido ter sido escrito por pessoa de origem italiana, que não tinha domínio total do idioma português. Mas era recheado de belas fotografias mostrando os diversos aposentos dos transatlânticos. Ressalto que por volta de 1960, ainda adolescente, estive a bordo do Anna C, na companhia de meu pai, para levar a bordo um de seus amigos, que embarcava para Lisboa, na segunda classe, que na verdade era muito confortável e alegre. O prospecto impresso pela indústria de nome Rognoni –Ancillotti, da cidade de Milão, enaltece as qualidades dos navios, conforme texto que segue:

 

O Andrea C, o segundo navio da Linea C a fazer a Rota de

Ouro e Prata. Aqui entando em Santos em 1969, como navio

de cruzeiros. Foto: J.C. Rossini.

 

Os navios a motor Anna C e Andrea C, foram construídos especialmente com o intuito de proporcionar aos seus passageiros nos climas tórridos dos trópicos.

 

Esses navios de cor branca e de linhas delicadas não têm apenas o aspecto de iates particulares de luxo, mas dispõem de tudo que se apresenta até o momento (anos dourados) em técnicas modernas para tornar tudo a bordo o mais agradável possível.

 

Ambos possuem um sistema perfeito de ar condicionado, que mantém em qualquer latitude e em todos os pontos do navio uma temperatura primaveril.

 

Cartão-postal do Andrea C, pintura a óleo sobre tela de

Stephen J. Card. media 129,57 m de comprimento, transpor-

tava 463 passageiros. Viagem inaugural: 26 de junho de 1948.

Genova/Buenos Aires e portos intermediários. Acervo do autor.

 

Duas piscinas no convés, vários jogos nos decks (convés) que são amplos, salas de estar acolhedoras, orquestras para músicas de câmara e de baile, que oferecem aquela sensação de alegria e repouso, e uma tranqüila travessia oceânica.

 

A segunda classe é na realidade uma primeira classe, como é possível constatar através das fotografias reproduzidas neste prospecto dos navios. Entretanto, na primeira classe os apartamentos são suntuosos, com salas espaçosas e banheiros privativos.

 

Sala de estar de primeira classe - Andrea C

 

Todas essas qualidades fazem com que os navios da Linha C, sejam os preferidos pelos diplomatas, homens de negócios, bem como a alta sociedade cosmopolita.

 

O Anna C que também chegou a fazer a linha da América Central e cruzeiros marítimos foi demolido em 1972, em La Spezia – Itália. Já o Andrea C, com a chegada dos modernos Federico C e Eugenio C ficou ofuscado, assim como, também o Anna C.

 

O Andrea C foi o primeiro navio, da mundialmente conhecida Costa Crociere, a fazer cruzeiros marítimos na costa brasileira, em 1969, quando foi fretado pelo inesquecível Aldo Leone, que dirigiu por muitos anos a Agaxtur Turismo.

 

Salão de jantar de primeira classe - Andrea C

 

Com certeza, as pessoas, como eu, que chegaram a ver o apogeu dos navios de passageiros e suas despedidas do cais de Santos, causadas pela preferência dos viajantes pelo avião, não imaginavam sequer, que a famosa armadora, com o fim da era dos navios de passageiros, continuaria exibindo seus belos navios através da modalidade de cruzeiros, dentre eles: Enrico Costa, Eugenio Costa, Costa Marina, Costa Clássica, Costa Romântica, Costa Tropicale, Costa Victoria, Costa Fortuna, Costa Mágica e a nova atração na temporada de 2008/2009, o Costa Mediterrânea.

 

No Imaginário Livro de Ouro da Cidade de Santos, com toda certeza estão inscritos os nomes Anna C e Andrea C, navios que fazem parte da história santista.

 

A coluna Recordar de PortoGente, aproveita o ensejo para parabenizar a Costa Cruzeiros, na pessoa de Francisco Ancona, pelos 60 anos de atividades no Brasil.

 

Cabine de primeira classe - Anna C

 

Sala de estar de primeira classe - Anna C

 

Bar de primeira classe - Andrea C

 

Deck da piscina do Anna C - La Passeggiata

 

Anúncio de partidas dos navios da Linea C que

mantinha escritório na Rua Itororó, 81 - Centro

de Santos. Nota-se no anúncio a venda de

passagens aéreas da KLM. 

Jornal A Tribuna, 17/04/1955.

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