Nos acontecimento da cidade de Santos, um dos fatos mais marcantes é sem dúvida a era dos navios de passageiros. A época deles foi do início do século 20 até a década de 1970, quando então a preferência dos viajantes intercontinentais já estava em poder da aviação comercial. O seu romântico fim começou quando o primeiro jato comercial atravessou o Atlântico Norte em 1958.
Belíssimo cartão-postal da Royal Mail Line do início
dos anos 50, mostrando um dos navios britânicos que
ficou muito conhecido no Brasil, o Alcantara, que
navegou de 1927 a 1958. Na imagem o transatlântico
no Rio de Janeiro. Acervo: L.J.Giraud.
Vale recordar mais uma vez que em 1952, quando as companhias marítimas já sentiam a demanda de passageiros para os aviões, o jornalista Francisco de Azevedo, de A Tribuna, entrevistou para a recém-criada seção de Porto&Mar (publicada pela primeira vez em 3 de setembro daquele ano), comandantes de transatlânticos e de gerentes de agencias marítimas que representavam grandes armadoras.
Nos depoimentos colhidos, eles foram unânimes em afirmar que os transatlânticos não teriam fim.
Acertaram na mosca, pois os transatlânticos continuam navegando, sob a forma de navios de lazer, como os que brindam a Cidade durante as temporadas anuais de cruzeiros marítimos. Diga-se de passagem, Santos fica com um brilho todo especial.
O luxuoso salão de jantar de primeira classe do Alcantara,
exibindo luxo e esplendor. Acervo: L.J.Giraud.
O que teve fim foi a era dos navios de passageiros de linhas regulares de navegação, como exemplo Hamburgo-Buenos Aires, e portos intermediários.
Abaixo, depoimento do comandante do transatlântico Giulio Cesare, Filipo Rando, em 1952:
“Para o futuro, acho que a sorte do transatlântico de luxo não se modificará. Se se modificar, será para que os navios deste tipo sejam superiores aos de hoje.
O Anna C, da armadora Linea C, fez viagaem inaugural em 1948,
era muito conhecido pelos portos por onde passava. A fotografia
mostra o transatlântico desatracando em Santos - 1953. Foto: José
Dias Herrera, acervo L.J.Giraud.
Com efeito, tendo todos os requisitos de modernismo, conforto e luxo, mantendo as três classes, estes transatlânticos são e serão cada vez mais um sedutor convite às viagens.
Nem se lhes queira opor o avião, pois este meio de transporte será sempre para os apressados, não para os que desejam viajar para fugir de preocupações e descansar.
Entretanto por mais que viaje por via aérea, haverá sempre um passageiro para os transatlânticos, como para todos os meios de transporte do homem.
O Porto de Santos nos anos 60, década em que
ainda recebia vários transatlânticos de linha
regular. No cartão-postal é visto o paquete italiano
Augustus atracado no Armazém de Bagagem.
Imagem do livro Photografias & Fotografias do
Porto de Santos (1996).
Hoje se viaja muito mais do que antes da última guerra (Segunda Guerra Mundial), e o fato é auspicioso, não só para comprovar o que disse, como também para levar os povos a uma aproximação cada vez maior e em favor da paz mundial”.
Vale lembrar, a despedida de um desses navios que marcou presença no porto de Santos, o Alcântara, numa recordação do falecido Carlos Alfredo Hablitzel, que foi proprietário do Museu Marítimo de São Vicente, com quem tive a honra de conversar algumas vezes, sobre as coisas do mar.
Talvez o mais célebre transatlântico italiano em todos os tempos
tenha sido o Conte Grande, que fazia par com o Conte Biancamano.
Cartão Postal do início da década de 1950. Local: Ponta da Praia-Santos. Acervo: L.J.Giraud.
Num de seus artigos para o jornal A Tribuna, Hablitzel disse o seguinte:
“Acaba de passar pelo porto em sua derradeira viagem, o transatlântico inglês Alcântara, por ter recebido baixa do serviço por parte de sua armadora.
Vale a pena registrar para a história dos navios no Porto, que nessa viagem o Alcântara esteve entre nós no dia 20 de maio de 1958, saindo com destino a Southampton.
O Federico C, em manobra de atracação, em 1958 - Foto: José Dias Herrera, acervo: L.J.Giraud
Na despedida, o belo paquete (navio de passageiros) completamente iluminado, e todos que assistiram a sua partida, sentiram que ela não significava apenas o encerramento da longa e gloriosa carreira (1927-1958) de bons serviços prestados pela unidade da Mala Real Inglesa, na sua ligação da Europa com a América do Sul. Significava, também, o desaparecimento de um dos últimos representantes de uma época da navegação de passageiros, uma época em que ainda não se falava na aviação comercial, e quando os navios como o Alcântara eram os senhores absolutos das ligações entre continentes”.
De acordo com o texto de Hablitzel, o Porto de Santos aos poucos ia perdendo paquetes e passageiros para os aeroportos e aviões.
Quatro paquetes portugueses ficaram muito conhecidos no Brasil:
Serpa Pinto, Santa Maria, North King (luso-panamenho) e Vera Cruz.
Este último é o mais lembrado de todos. Fez viagem inaugural
em 1952. As cidades do Rio de Janeiro e Santos foram muito
calorosas na sua primeira escala.
Vale lembrar alguns nomes de alguns dos mais de 1.500 navios de passageiros que passaram pelo porto de Santos: Cap Norte, Monte Olívia, Cap Arcona, Conte Grande, Conte Biancamano, Vulcania, Brazil, Argentina, Avon, Alcântara, Andes, Groix, Aurigny, Serpa Pinto, Salta, Yapeyu, Rio de La Plata. Vera Cruz, Santa Maria, Provence Bretagne, Anna C, Andréa C, Enrico C, Eugenio C.
Foram muitos que contribuíram para que a Cidade ficasse mundialmente conhecida. E os transatlânticos continuam navegando pelos sete mares.
A britânica Blue Star Line, possuia um quarteto fabuloso de
transatlânticos (mistos de carga/passageiros), Brazil Star, Argentina
Star, Paraguay Star e Uruguay Star. Começaram a navegar a partir de 1947/48.Transportavam somente 68 passageiros. O serviço de
passageiros Europa/America do Sul findou em 1972. Acervo:L.J.Giraud.