Quarta, 01 Janeiro 2025

A tragédia ocorrida com o transatlântico italiano Andrea Doria completou 52 anos. Nesses anos todos, sempre atraiu caçadores de tesouros, aventureiros, e fascinam estudiosos e pesquisadores (leia Naufrágio do ‘Andrea Doria’ completa 50 anos).

 

O Andrea Doria era o mais luxuoso transatlântico italiano da época.

Aqui ele deixando Nova Iorque, Estados Unidos por volta de1954.

Acervo de William Miller.

 

O abalroamento aconteceu na noite de 25 de julho de 1956, em pleno Atlântico Norte, procedente da Itália e rumo aos Estados Unidos, ele chocou-se com o navio de passageiros sueco Stockholm, que deixava o Porto de Nova Iorque rumo à Europa. - A colisão foi um assunto bastante comentado em Santos, onde teve ampla repercussão.

 

Envolvimento

Naquela época, como já disse em outro artigo, não havia o bombardeio de informações de hoje, permitindo um maior envolvimento das pessoas em fatos distantes como um choque de navios na costa dos Estados Unidos.

 

Por isso o caso Andrea Doria X Stockholm não consegue cair no esquecimento de quem viveu a romântica época.

 

O transatlântico sueco Stockholm da Swedshi American Line,

que atingiu o Andrea Doria, com sua proa reforçada para

romper gelo, na noite de 25 de julho de 56. Acervo: L. J. Giraud.

 

O pesquisador brasileiro José Carlos Rossini foi também contagiado pelo fascínio do episódio. Ele morou em Santos e hoje reside em Genebra, Suíça. É autor de várias obras sobre o tema navios, e foi colaborador de A tribuna, na coluna Rota de Ouro e Prata.

 

No 20º aniversário do acidente, em 25 de julho de 1976 , A tribuna publicou uma ampla reportagem do jornalista José Carlos Silvares (na época editor do Porto & Mar), em duas páginas, com base em pesquisa de Rossini.

 

Resgate

Um destaque no naufrágio do Andrea Doria: a operação de resgate dos tripulantes e passageiros do Transatlântico foi a mais bem sucedida da história da navegação marítima.

 

Algumas fontes dizem que 52 pessoas foram ao fundo do mar junto com o navio. Outras dão como 54 o número de vítimas fatais. E há quem conte 43. O que há de certo é o número de tripulantes e passageiros: 1.706.

 

No cartão-postal da década de 50, estão atracados em Genova-Italia,

os transatlânticos gêmeos Cristoforo Colombo, que nos anos 70 vinha

para a América do Sul e o fatídico Andrea Doria. Acervo: L. J. Giraud.

 

Na operação de resgate teve decisivo papel o transatlântico francês Ile de France, mas não se pode esquecer também na importância do navio-transporte de tropas Private William H. Thomas, que levava soldados estadunidenses e suas famílias de regresso, aos Estados Unidos, após servirem em bases americanas na Europa.

 

A armadora do Andrea Doria, a Itália Societa di Navegazione, era proprietária de transatlânticos que vinham para o Brasil, como o Conte Grande, Conte Biancamano, Augusto e Giulio Cesare.

 

Sem responsabilidade

O comandante do Andrea Doria, Piero Calamai, segundo pesquisa, declarou, ao chegar à Nova Iorque, a bordo de um destróier (contratorpedeiro) norte-americano, que o transatlântico fora atingido no flanco e não tinha a menor responsabilidade na colisão. Vale lembrar, que o Comandante Piero Calamai, comandou na rota da América do Sul, o sempre lembrado Conte Grande e navios da série “navegadores” completados entre 1947 e 1949. Eram eles: Paolo Toscanelli, Ugolino Vivaldi, Sebastiano Caboto, Marco Pólo, Américo Vespucci e Antoniotto Usodimare. Piero Calamai foi o comandante do Ugolino Vivaldi, que escalou Santos pela primeira vez em 1948.

 

O Stockholm abalroou o Andrea Doria por boreste (lado direito) e abriu um grande rombo. A proa (frente) do navio sueco invadiu o casco do transatlântico por nove metros, atingindo grande número de cabines.

 

O transatlântico italiano Conte Grande, passando pela Ponta da Praia,

no início dos anos 50. Piero Calamai foi um de seus comandantes.

Acervo: L. J. Giraud.

 

O Andrea Doria sofreu um impacto tão violento, que adernou (inclinou-se), impedindo o uso dos escaleres salva-vidas. Se o Stockholm não tivesse proa quebra-gelos (reforçada), provavelmente o transatlântico não naufragaria e nem o choque seria tão violento.

 

O Stockholm, da armadora Svenska Amerika Linjen, de Gotemburgo - Suécia foi lançado ao mar em 1948 e salvou 425 passageiros do Andréa Doria. O navio sueco era comandado pelo capitão Gunnar Nordenson.

 

A colisão do Andrea Doria e Stockholm causou também grande controvérsia entre navegantes experientes. Alguns chegaram afirmar que o acidente ocorreu em razão da grande velocidade dos navios e do excesso de confiança no radar, durante o forte nevoeiro.

  

Entre os navios que atenderam ao pedido de SOS do transatlântico Andrea Doria, estava o navio de passageiros francês Ile de France, que terminaria o resgate como um verdadeiro herói.

 

“O Ile de France” recebeu entusiástica recepção ao chegar à Nova Iorque, semelhante aos que recebem os navios em viagem inaugural, devido ao fato heróico, o maior salvamento marítimo da História.

 

O belo navio adernou (inclinou) após ter sido

atingido pelo navio sueco. Reprodução.

 

O presidente dos Estados Unidos, Eisenhower, elogiou a operação de salvamento, declarando que foi realizada “nas mais belas tradições da marinha mercante”.

 

Sem necessidade

O Ile de France estava a 44 milhas (81,5 quilômetros) do local do choque, em viagem a Europa. O comandante do Transatlântico, em principio, considerou que já havia várias embarcações rumando para o Andrea Doria, pensando que não seria necessário gastar mais combustível e atrasar a chegada ao continente europeu.

 

Para a navegação, tempo é dinheiro. Um retardamento na programação de um navio causa prejuízos consideráveis ás companhias de navegação. Mas quando se trata de salvar vidas, o dever está acima dessa necessidade.

 

A bordo do Ile de France, os tripulantes tiveram a informação de que os botes salva-vidas do Andrea Doria não poderiam ser lançados à água.

 

O rápido atendimento aos sobreviventes do naufrágio fez o

transatlântico Ile de France ser recebido como herói, no porto

de Nova Iorque. Reprodução.

 

A decisão de alternar o rumo do Ile de France mudou também o destino das pessoas resgatadas. Às 5 horas da manhã de 1956, apenas o comandante do Andrea Doria e 19 tripulantes estavam a bordo.

 

Abandono

Às 05h30, conseguiram persuadir o comandante a deixar o transatlântico. Por tradição, o capitão de um navio é o ultimo a abandoná-lo – não apenas por motivos sentimentais, mas também práticos. Quando um navio é abandonado, qualquer pessoa tem direito de ir a bordo e rebocá-lo para um porto, se ele estiver flutuando. Em caso de naufrágio, quem recupera a embarcação também conquista direitos. O Andrea Doria afundou ás 10h09. Ele continua no fundo do mar, a 75 quilômetros a sudeste da Ilha de Nantucket, na costa dos Estados Unidos.

              

Atualmente, o custo estimado do Andrea Doria corrigido a inflação a partir da sua viagem inaugural em 14 de janeiro de 1953, seria aproximadamente US$ 300 milhões (R$ 480 milhões).

 

O transatlântico ajudou a marcar o renascimento da marinha italiana, que foi em parte destruída durante a Segunda Guerra Mundial.

 

O gêmeo do Andrea Doria, Cristoforo Colombo, fotografado na

cidade italiana de Veneza, por volta de 1970. Acervo: L. J. Giraud.

 

Houve tentativas para retirá-lo do seu repouso no fundo do mar. Nenhuma delas conseguiu sucesso. Uma tentativa em 1964 resultou no resgate da estátua de bronze do Almirante Andréa Doria, nascido no século XVI, do aparelho de radar e de um holofote de 1.000 watts, cuja lâmpada original ai da funcionava.

 

Seu comprimento era de 214 metros, sua largura era 28 metros, e sua arqueação bruta era de 29.083 toneladas, velocidade: 23 nós. Sua tripulação era composta de 575 pessoas e transportava 1.241 passageiros. Foi construído no estaleiro Ansaldo, em Sestri – Genova. Seu lançamento se deu em 1951.

 

A lembrança deste artigo, feito em parceria com o amigo e jornalista Armando Akio, publicado em A Tribuna, na quinta-feira 24 de novembro de 1994, surgiu durante recente jantar, em minha residência, onde compareceu o escritor de assuntos marítimos José Carlos Rossini.  Na ocasião, ele recordou que seus familiares, de descendência italiana, na época proprietários do Restaurante Bologna de São Paulo, que tinha uma filial em São Vicente próximo à Ponte Pencil, ficaram consternados com o acidente que vitimou o célebre navio. Realmente foi um fato lamentável, a Cidade recebeu, por dias seguidos, notícias do acidente através de A Tribuna, do Diário de Santos, pelas rádios locais e de São Paulo, e pelo Repórter Esso, noticiário transmitido pela TV Tupi.

 

Assim, grande parte dos santistas sentiram muito esse triste acidente, mesmo o Andréa Doria nunca ter passado por Santos, pois estavam acostumados com as escalas periódicas dos transatlânticos da maior armadora italiana, que eram muito conhecidos, dentre eles: Conte Biancamano, Conte Grande, Giulio Cesare e Augustus. Os mais vividos com certeza se recordam desses navios de passageiros.

 

Ressalto que este artigo não é técnico, o seu intuito é recordar rapidamente acontecimentos do naufrágio do mais elegante transatlântico italiano da época.

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