Quarta, 01 Janeiro 2025

No último dia 18 de junho, ao ler o jornal A Tribuna de Santos, deparei com um suplemento comemorativo aos 100 anos da vinda dos primeiros imigrantes japoneses, que escreveram páginas marcantes de sacrifício, luta e muito trabalho na História do Brasil.

 

Nesse encarte estavam vários depoimentos, e passagens contadas por descendentes desses pioneiros, historiadores, pessoas conhecedoras de acontecimentos quando da chegada dos japoneses, como o relato das irmãs Jacyrema e Jurema, filhas de João Lyra Chaves, Inspetor da Imigração do Estado de São Paulo, quando da chegada do navio Kasato Maru em Santos, no dia 18 de junho de 1908. Além de outros fatos que merecem ser lidos pelos que gostam do assunto.

 

Capa do livro reeditado, mostrando embarque de café por

volta de 1904, e o centro santista. Na obra foram criados

textos pelo autor e colaboradores da obra, o que transformou

o álbum pictórico em livro.

 

Numa das colunas do bem elaborado encarte, deparei com uma matéria com o título – Japoneses Antes do Kasato Maru? Na verdade trata-se de uma tese sustentada pelo historiador Waldir Rueda, autor do livro Braz Cubas, lançado no início deste ano. Rueda argumenta que já havia orientais em Santos, de acordo com um censo realizado pela Prefeitura em 1872.

 

Inclusive, uma das evidências apontadas pelo historiador é a foto de uma locomotiva a vapor, da Companhia Docas de Santos, onde o maquinista tem traços orientais. Essa imagem publicada no portal Novo Milênio, foi extraída do livro por mim reeditado em 2000, “Santos e a Cia. das Docas-1904”. Vale recordar que o lançamento dessa obra comemorativa aos 500 anos do Descobrimento do Brasil, foi nas dependências do Complexo Cultural do Porto de Santos. Mais precisamente na Pinacoteca Grafeé e Guinle. Compareceram na solenidade várias pessoas conhecidas na Cidade e interessados no tema. Na oportunidade o amigo e vereador Jama proferiu palavras enaltecendo o conteúdo fotográfico do livro. 

 

A capa do álbum original do álbum fotográfico, ’’Santos e a Cia. das

Docas - 1904’’ e que não tinha textos, apenas fotos com legendas.

 

O livro tem 40 imagens espetaculares do cais santista no início do século passado, isto é do primeiro trecho já construído, do Valongo ao Paquetá, e do segundo trecho em construção (Paquetá aos Outeirinhos). Além de três fotografias panorâmicas da Cidade. Essa lembrança me veio à mente em razão da citação da obra feita no encarte de A Tribuna.

 

Mas só as imagens não bastaram. Por isso convidei amigos e pessoas com quem na época trocava idéias para que escrevessem algo que fosse além das histórias que todo mundo já conhecia. Nessa tarefa contei com a colaboração de Narciso de Andrade, que fez a apresentação e tem a sua poesia Cais, publicada no final do livro, José Carlos Silvares, João Emilio Gerodetti, Nelson Salasar Marques, Jaime Caldas, José Carlos Rossini, Hélio Schiavon, João Emilio Gerodetti, Helena Maria Gomes e Viviane Pereira e Antonio Ernesto Papa. Infelizmente algumas dessas pessoas amigas já não estão entre nós.

 

Vista panorâmica do centro da Cidade de Santos no início do século 20.

 

Tudo do livro original foi mantido, a ordem das imagens, a ortografia nas legendas ficaram como se escrevia antigamente, por exemplo “caes”. Assim o passado histórico ficou intacto.

 

Os que gostam do passado e das coisas de Santos  se encantaram. Muitos sequer imaginavam que no Macuco, próximo ao estuário havia dois outeirinhos (dois pequenos montes), e que a água chegava até ao muro do cemitério do Paquetá. O Livro mostra ainda a pedreira do Jabaquara, local de onde foram extraídos os blocos de pedras que formaram a muralha do cais de pedra. Modéstia à parte, o álbum é fora de série. Não sei quem foi o fotógrafo idealizador das imagens, mas desconfio que foi encomendado pela própria CDS – Companhia Docas de Santos para fins de propaganda. Esse álbum foi encontrado na França por um marchando.

 

"Vista do cais e escriptório da Cia." (primeiro trecho do cais santista).

 

Para explicar como chegou em minhas mãos, ninguém melhor do que João Emilio Gerodetti, autor de inúmeras obas pictóricas, que escreveu na reedição da obra o texto que segue..

 

O álbum

Com meu amigo Laire, há tempos trocávamos figurinhas. Explico: postais de navios iam e vinham de Santos para São Paulo e vice-versa. Além desses, volta e meia, também postais de Santos, que ambos curtimos.

 

Eu, particularmente, coleciono também São Paulo e não poucas vezes o Laire me forneceu algum material relativo a essa cidade.

 

Pedreira do Jabaquara, local de onde foram extraídos os

blocos de pedra para construção do porto.

 

Não é que um belo dia me aparece um “marchand” de postais e livros, com muito material de São Paulo e Santos. Coisa espetacular, que atiçou minha ganância de colecionador, a ponto de eu fazer uma loucura financeira e comprar tudo. No momento, a  gente fica inseguro, ante o estrago com nossa conta bancária, mas algum tempo depois, a gente fica feliz em ter feito a compra, pois, geralmente, o material nunca mais aparece no mercado.

 

Naquele dia, entretanto, eu tive um arrependimento de última hora e voltei atrás, deixando de comprar o belíssimo álbum “Santos e a Companhia das Docas – 1904”. Mas recomendei ao “marchand” que oferecesse o mesmo ao Laire, afirmando com convicção que o meu amigo iria sem dúvida adquiri-lo.

 

Não sei por que, mas naquele momento algo me dizia que o Laire ia comprar o livro e que eu jamais me arrependeria de não tê-lo feito.

 

O guindaste Titan erguendo um bloco para formação da muralha 

de pedra. Foi um dos grandes colaboradores da construção do cais

da Cidade de Santos.

 

E foi assim que aconteceu. Dias depois, o Laire me liga, feliz pela aquisição.

 

O tempo passou e volta e meia eu me lembrava do álbum, com alguma saudade. Mas algo me soprava no ouvido: você não vai se arrepender!

 

Dito e feito: eis que o  Laire anuncia: vou fazer um fac-símile do álbum!

 

Isso é uma coisa que eu acho altamente meritória: divulgar nossos objetos de coleção para o público, compartilhá-los com outros. Senão, qual o sentido da coleção  É o que me levou a publicar o meu livro “Lembranças de São Paulo”. No fundo, é o mesmo prazer que a gente tinha, quando criança, de mostrar o nosso álbum de figurinhas para os amigos!

 

Laire,  parabéns pelas suas diversas publicações, sejam livros, sejam artigos, em alguns dos quais tive a satisfação de colaborar. Definitivamente a voz que me soprava no ouvido estava certa: o álbum, em melhores  mãos não poderia estar!

 

Doação

O Original do livro foi doado para a magistral Fundação Arquivo e Memória de Santos. Não poderia estar em melhor lugar. Foram reeditados 500 exemplares, comemorativos aos 500 anos.

 

Blocos da pedreira do Jabaquara enfileirados no aguardo do

assentamento da muralha do cais. Os blocos eram posicionados no

estuário com auxílio do guindaste Titan, que aparece carregando

um desses blocos. Na foto aparece próximo a água um dos Outeirinhos (pequeno monte que foi desmantelado para aterro do cais). Inclusive

a barriga d´água na frente do outeirinho foi aterrada.

 

Ficam aqui, os sinceros agradecimentos ao amigo Gerodetti, um dos maiores colecionadores de cartões-postais do Brasil, que gentilmente me cedeu o direito da compra do álbum “Santos e a Cia. das Docas – 1904”.

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