Quarta, 01 Janeiro 2025

Neste artigo não há a pretensão de contar a bela história da imigração japonesa, nem de lembrar que foi o imperador japonês Meiji, que rompeu o isolamento secular do Japão com o Ocidente, mas sim contar alguns fatos isolados ocorridos desde a assinatura do contrato de imigrantes, em 8 de novembro de 1907, pelo Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Carlos Botelho e pelo diretor da Companhia Japonesa de Imigração Kokoku, sr. Ryu Misuno, por força do  Tratado de Amizade Nipo-Brasileira, até os dias de hoje.

 

Como é do conhecimento da grande maioria, a imigração japonesa no Brasil teve início no ano de 1908, com a chegada de 781 pessoas pertencentes 165 famílias, que viajaram durante 52 dias, partindo de Kobe com destino a Santos.

 

O navio pioneiro foi o Kasato Maru, que atracou no cais do armazém 14 da Companhia Docas de Santos, às 17 horas do dia 18 de junho daquele longínquo 1908.

 

O Teatro Coliseu, exibe um grande cartaz da peça

no estilo teatro Kabuki  Kasato Maru - Uma Viagem

de Sonhos e esperanças, que lembra a chegada do

célebre navio no Porto de Santos em 1908.
Foto: L. J. Giraud.

 

Nas décadas seguintes à escala do Kasato Maru, numerosas embarcações do Japão trouxeram cerca de 260 mil emigrantes. Hoje a comunidade japonesa está estimada em 1.500.000 pessoas. É a maior população fora do Japão, que já está sexta geração: Issei, Nissei, Sansei, Yonsey e Gosey e Rokusey.

 

Os imigrantes do Kasato Maru, seguiram no dia seguinte para a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo. Posteriormente seguiram para as fazendas de café da Alta Sorocabana. Vale aqui lembrar que os dirigentes da Hospedaria, fizeram um honroso comentário sobre os recém chegados japoneses, ao escreverem que por lá nunca tinha passado um povo tão asseado, ordeiro e respeitador como os nipônicos.

 

Cartão-postal festivo da armadora NYK,

mostrando a partida de um de seus navios

de um porto do Japão. Década de 1930.

Acervo: L.J.Giraud.

 

A vida nas fazendas não foi o eldorado prometido. No início foi tudo muito penoso, tiveram que morar em casa sem tatami, deixaram de usar o kimono, trocaram o chá pelo café, deixaram de usar as tigelas e os hashis, tudo isso sem deixar de mencionar a dificuldade de comunicação entre eles com os capatazes, caipiras e caboclos das fazendas

 

Nas décadas que precederam a Segunda Guerra Mundial, existiam inúmeras chácaras cuidadas por japoneses. Essas chácaras se estendiam por todo o bairro do Macuco, o maior de Santos nos anos no passado. Ali vários tipos de frutas, verduras, hortaliças eram cultivados. Era o estômago de Santos, que não dependia de quase nada em termos de alimentação. Esses japoneses eram trabalhadores na concepção da palavra. Com a eclosão da guerra essas pessoas foram encaminhadas para o interior do Estado,. A grande maioria não retornou. Se esse fato não tivesse ocorrido, Santos com certeza seria uma grande cidade nipo-brasileira. Acho que com isso a  Cidade de Santos perdeu um pouco. 

 

Cartão-postal japonês mostrando cena de uma aldeia no século XIX.

Acervo: L.J.Giraud.

 

Hoje,  muitas das coisas que consumimos no dia-a-dia  têm uma pitada japonesa, como o molho shoyu, laranja ponkan, kiwi, sushis, sashimis, yakisoba, tempura, Além dos televisores, equipamentos de som, automóveis, computadores, relógios e tudo mais que necessitamos tem a mão nipo-brasileira., ou uma pitada japonesa. Todos conhecem as marcas Orient, Seiko, Panasonic, Sony, Honda, Toyota. E muitas outras.

 

Gostaria de ressaltar, que ao longo dos últimos 35 anos, sou despachante aduaneiro. Pela minha profissão conheci grande número de  japoneses e seus descendentes, diretores e funcionários  de empresas japonesas, que sempre me deram uma ótima impressão principalmente pelo seu caráter honesto, reto e fiel. Com eles aprendi que a determinação está acima de tudo quando há um intuito de atingir um objetivo. Poderia citar inúmeras dessas pessoas a quem sou grato, dentre elas Haruo Hayata, já falecido, grande pessoa que me aproximou de inúmeras empresas japonesas.

 

Imagem reproduzida da belissima Exposição Comemorativa do

Centenário da Imigração Japonesa - Japão Em Cada Um de Nós,

promovida pelo Banco Real, na Capital Paulista. A imagem  mostra

jovens nisseis durante um concurso promovido pela colônia japonesa.

 

A partir dessas felizes apresentações há 30 anos sou despachante aduaneiro, da Fiação de Seda Bratac S/A, que possui fábricas em três cidades brasileiras, isto sem deixar de dizer que seus fios estão presentes nos mais afamados quimonos de luxo, nas mais belas camisas e gravatas do mundo. A Bratac foi fundada em 1940, com 67 funcionários. Seus sócios eram Carlos Y. Kato, Tokuya Koseki e Senjiro Hatanak. Nessa época os pais dos atuais diretores Antonio Takao Amano e Shigueru Taniguti eram gerentes de matéria prima e comercial. O Brasil ó terceiro maior produtor de fio de seda do mundo. A história da Bratac tem episódios superinteressantes e merece um capítulo à parte.

 

Fachada da fábrica de fio de seda - Fiação de Seda Bratac S/A,  na

cidade paulista de Bastos, que contribui para que o Brasil seja o terceiro exportador desse produto do mundo. Acervo: Bratac.

 

Neste mês em que o Brasil comemora os 100 anos da chegada dos primeiros imigrantes japonese, que escreveram na nossa história episódios de grandes lutas e conquista, esta coluna presta uma homenagem aos nikkeis do Brasil, através de seus descendentes, dentre eles: Shigueru Taniguti, Antonio Takao Amano, Noyuki Suzuki, Shigueeru Taniguti Jr., Jorge Miura, Armando Akio, Francisco Noriuki Sato e muitos outros amigos de uma longa lista.

 

Um grande orgulho, para os santistas é a de terem sido contemplados com a visita  do Príncipe herdeiro Naruhito em nossa Cidade, no próximo 21 de junho. O Príncipe vem ao País especialmente para participar dos grandes festejos oficiais do centenário da imigração japonesa. As cidades que também serão visitadas são: Brasília, São Paulo, Santos, Londrina, Maringá, Rolândia, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

 

No pitoresco Monte Serrat, vemos no centro da fotografia dois

importadores japoneses de fio de seda, que estiveram na Cidade

para conhecer as instalações portuárias e o processo de embarque.

Estão ladeados pelo diretor Naoyuki Suzuki e pelo despachante aduaneiro Gustavo Giraud. Foto: L.J.Giraud.

 

Finalizando este artigo, que não pode contar tudo sobre a imigração japonesa, quero contar que na última sexta-feira fui visitar a Exposição Japonesa no Banco Real da Av. Paulista, em São Paulo, na companhia do Sr. Shigueru Taniguti, uma maravilha , onde tomei conhecimento de muitas coisas, sendo uma delas, que antes da chegada dos japoneses, nossa alimentação no que tange a frutas e legumes era bem limitada a

Mandioquinha, alguns tubérculos e frutas silvestres. Fomos muito bem ciceroneados pela Sra. Vera Barros da equipe de guias da referida exposição. Vale a pena ser visitada.

 

Banzai Santos! Banzai São Paulo! Banzai Brasil!

 

O America Maru, da armadora NYK Line, reponsável por trazer do Japão

para o Brasil, grande número de imigrantes japoneses. Acervo: L.J.Giraud.

 

Na exposição do Banco Real - JAPÃO EM CADA UM DE NÓS, ao centro

o vice-presidente da Fiação de Seda Bratac, Sr. Shigueru Taniguti, o

autor e coordenadora Vera Barros.

 

O Príncipe herdeiro Naruhito de 47 anos, que passsará por Santos,

onde fará a inauguração de um monumento comemorativo aos cem

anos da imigração japonesa, no Emissário Submarino, além de

participar de outras solenidades. Reprodução.

 

Modelo japonesa usa kimono com tecido

feito com fio de seda brasileiro, fabricado

pela Fiação de Seda Bratac S/A

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