“Um viajante argentino ao passar por aqui, disse aos jornais que nunca tinha visto praias tão formosas como as de Santos. Não disse um despropósito. Não mentiu. Nem, ao menos exagerou. Realmente, as nossas praias são lindas, mais lindas do que as do Rio ou qualquer outra parte das Américas. As praias da cidade. Da ponta da Praia até do Itararé. O mar rendilha, como se fosse um grande, um imenso babado de rendas, manso ou bravo, o oceano não me cansa de adornar a sinuosidade das praias, dando ao espectador uma profunda impressão. Durante os dias da estação balneária, o espetáculo é pomposo e magnífico. Praias coalhadas de gente de toda parte. Banhistas e curiosos.
Cartão-postal clicado do Morro do José Menino, mostrando as
praias santistas até a Ponta da Praia – 1936. Acervo: L. J. Giraud
As sereias, na garridice da sua graça, no milagre da sua mocidade, serpenteiam por ali, a quebrar as ondas do mar. Espalhadas, aqui e ali, barracas em forma de grandes guarda-sóis, E embaixo, a gozar as delícias do sol quente e bemfazejo, casais de namorados a tecer madrigaes, a fazer promessas, a levantar castelos. Os curiosos fazem o resto.
Cartão-postal de São Vicente e Santos a partir da Ilha Porchat.
Nota-se que as cidades eram quase que desprovidas de habitações.
A imagem é por volta de 1935. Acervo: L. J. Giraud
Perambulam de um lado para outro, á procura das encantadoras sereias, a retempearar os nervosos agitados pelo trabalho, a passar algumas horas de lazer despreocupação. Os automóveis formigam, a correr pelas praias. Revelam a fidalguias de dezenas de sereias que deixam sobre as portinholas, em cima das capotas, cobrindo-os os radiadores, e seus roupões de banho, os seus sapatinhos, as bolsas dentro das quais se encontram o “batom” e o esfuminho. A alegria, uma alegria franca por toda parte. Enche as fitas das praias, aparecem a flor dos lábios daquelas nereidas matutinas e no bom humor que se revela nas fisionomias de todos, desde os papais e mamães que se preocupam com a sorte das travessas.
A praia do Guarujá, lembrada pelo autor de As Nossas Praias e por
ele considerada um encanto, mostra ao centro o famoso Hotel do
Guarujá, conhecido também como Hotel De La Plage. – 1928.
Acervo: L. J. Giraud
Nadadoras até os simples curiosos, que ali vão para deleitar. O espírito e os olhos. Á noite antes que às trevas cubram a cidade do sorriso, o borburinho contínuo do banho vespertino. Empregados que, aproveitando mornas e lindas, tomam o seu clássico de todos os dias. Criaturas contemplativos que sonham de olhos sempre abertos, sobre as rochas a olhar para o infinito ou para a beleza natural da Ilha Porchat.
O cartão-postal de 1932 mostra a Praia do Gonzaga com seus
famosos hotéis Avenida Palace, Belvedere, Bandeirantes, Atlântico
Hotel e o famoso Parque Balneário Hotel. Na imagem, são vistos vários
cavalheiros passeando pela areia de terno. Acervo: L. J. Giraud
Quando a noite fecha, tudo desaparece, como por encanto. Lá, de quando em quando um auto misterioso a rodar pela escuridão silenciosa da praia. São, possivelmente, os amantes que se entretêm. A praia do Guarujá é um encanto: areias brancas, águas verdes. A natureza concorre muito para tornar ainda mais belo o espetáculo formidável maravilhoso. Recanto de Santos. Tudo em Santos é belo. Belo e soberbo! Belo é o seu mar, tranqüilo nas tardes de verão. Revoltado nas manhãs de invernos. Belas são as suas praias, beijadas eternamente pelas ondas. Rendilhadas do oceano, esse oceano cheio de mistérios e lendas. E, é por isso que santistas são encantadoras”.
O texto acima, reproduzido no original, foi extraído da famosa revista santista Flama (abril/1933), que circulou na Cidade a partir da década de 1920 até o início de 1950. Vale lembrar que, nessa época, a maioria dos veranistas vinha de São Paulo nos trens da São Paulo Railway, mais conhecida como a Inglesa.
Veranistas desfrutando um domingo de verão, nas proximidades do
Canal 2. No guarda-sol estão algumas bicicletas de aluguel. Eram
muito comuns os passeios pela areia da praia. Por volta de 1938.
Acervo: L. J. Giraud
Esses passageiros desciam na estação do Valongo e se dirigiam para os vários hotéis da Cidade. Dentre eles, citamos alguns como o famoso Parque Balneário Hotel, Atlântico Hotel, Hotel Belvedere, Hotel dos Bandeirantes, Hotel Avenida Palace, Palace Hotel e Hotel Internacional. Outros se hospedavam nas inúmeras pensões que existiam na área do Gonzaga e José Menino.
Foto-postal tirada pelo fotógrafo lambe-lambe Antonio Vieira que
vivia das fotografias que tirava dos turistas e veranistas. Nas praias
existiam muitos desses profissionais (1936). Acervo: L. J.Giraud
Havia, também, os turistas de um dia que alugavam roupas e cabines de banho, as mais conhecidas eram: A Sereia e a Balneária. Antigamente toda a região era conhecida como Santos, inclusive o Guarujá pertenceu a Santos. As demais localidades eram conhecidas como arredores de Santos. A idéia deste artigo é mostrar algumas imagens do passado, de veranistas e da região. Vale lembrar que muitos dos freqüentadores das praias iam trajados de terno e as senhoras de vestidos, como é comum ser visto nas fotos antigas. Finalizando, vamos à praia?
Veja mais imagens
Na praia do Gonzaga, por volta de 1930, uma foto postal familiar,
que era enviada pelos veranistas aos seus familiares, o que era muito
comum naquele tempo. Foto Acervo: L. J. Giraud
O que diria aquele viajante argentino se visse as praias de Santos
com sua orla jardinada, que lhe deu o título de maior jardim à beira-
mar do mundo? Esse belo jardim está no livro de recordes, o Guiness
Book. Foto: Tadeu Nascimento. Acervo: L. J. Giraud