Alguns navios de passageiros ficaram lembrados para sempre, mesmo com o passar do tempo. Volta e meia são rememorados pelos que admiram as coisas de ontem. Dentre os de várias nacionalidades estão o Conte Grande, o Conte Biancamano, o Cap Polônio, o Cap Arcona, o Massilia, o Alcântara, o Andes, o Provence, o Bretagne, o Augustus, o Giulio Cesare, o Anna C., o Serpa Pinto, o Vera Cruz, o Santa Maria, e o mais recente deles, o Eugenio C., que posteriormente passou a ser o Eugenio Costa.
Cartão-postal promocional da Cosulich
Line, década de 1930. Acervo: L. J. Giraud
No entanto, dois navios tiveram enorme sucesso na rota sul-americana, na década de 30, quando vinham muitos paquetes na Rota de Ouro e Prata (Brasil–Uruguai–Argentina). Esses navios ficaram famosos porque trouxeram muitos dos nossos antepassados, os imigrantes: o Oceania e o Neptunia, muito utilizados por pessoas de renome, entre eles a Condessa Matarazzo, a brasileira mais famosa de todos os tempos, Carmen Miranda, entre muitos famosos.
O Oceania da Cosulich Line, fazia par com o Neptunia e também
servia a linha sul-americana de passageiros, ligando Trieste aos portos
de Split, Patras, Nápoles, Gibraltar, Recife, Salvador, Rio de Janeiro,
Santos, Montevidéu e Buenos Aires. Em 1940, foi transformado em
navio-transporte de tropas e, assim como o Neptunia, foi torpedeado
pelo submarino Upholder, afundando a caminho do porto de Trípoli.
Cartão-postal editado na década de 1930, quando os navios da
Cosulich já haviam recebido as cores da Italian Line. – Navios e
Portos do Brasil. Foto: Cantieri Riuniti Dell’Adriatico.
A lembrança desses transatlânticos surgiu em razão de um belo livro recebido de presente do shiplover Leonardo Bloomfield, de Petrópolis – RJ. Esse livro foi editado pelo Cantieri Riuniti Dell’Adriatico – Trieste – Itália, e mostra os principais navios por ele construídos, que são incontáveis, entre eles os conhecidos cargueiros argentinos Rio Cuarto e Rio Quinto, muito conhecidos no porto santista. Os navios do Lloyd Nacional Ararangua, Araraquara, Araçatuba e Aratimbó, e até o famoso Conte Grande.
O Neptunia, da Cosulich Line foi construído no Cantieri Riunite
Dell’Adriatico no porto de Monfalcone. Realizou sua primeira viagem
para a América do Sul em 1932, permanecendo nessa linha até 1940,
quando foi requisitado pela Marinha de Guerra Italiana. No mesmo ano,
depois de zarpar de Taranto com destino à Trípoli, levando em comboio
com o Oceania e o Vulcania, cerca de 10.000 militares italianos, foi
avistado e torpedeado pelo submarino inglês Upholder, do coman-
dante Malcon Wanklyn, o mesmo que havia torpedeado o navio italiano
Conte Rosso. – Navios e Portos do Brasil.
Foto: Cantieri Riuniti Dell’Adriatico.
Sempre tive a grande vontade de escrever algumas coisas sobre esses navios, que já foram descritos por José Carlos Rossini num dos artigos para o Jornal A Tribuna de Santos. Mas resolvi utilizar as informações do livro Navios e Portos do Brasil Nos Cartões-Postais e Álbuns de Lembrança, de autoria de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo.lançado em 2006 por ter seu texto sucinto e objetivo, como segue:
COSULICH
Societá Triestina di Navigazione
No início do século XX, a família Cosulich fundou em Trieste, cidade então sob domínio austríaco, a União Austríaca de Navegação, para estabelecer linhas marítimas entre Trieste e portos do norte e sul-americanos. Durante a Primeira Guerra Mundial, os serviços de navegação dessas companhias foram suspensos, e ao término do conflito, em 1918, quando, devido ao desmembramento do império austro-húngaro, Trieste tornou-se parte do território italiano, a frota da família Cosulich voltou a operar, como Cosulich Societá Triestina di Navigazione, mais tarde mundialmente conhecida como Cosulich Line.
Fotografia de um dos cantos do salão
de jantar do transatlântico italiano
Oceania. Nota-se que realmente era
luxuoso. Foto: Estaleiro Cantieri Riuniti
Dell’Adriatico
Após reiniciar os serviços marítimos com os navios sobreviventes da guerra, entre 1925 e 1927 a Cosulich Lines encomendou ao Cantieri Navale Triestino, de Monfalcone, importante estaleiro criado pelos irmãos Alberto e Callisto Cosulich em 1909, os navios gêmeos Saturnia e Vulcania, os maiores navios já construídos pela armadora, com 24 mil toneladas e capacidade para 2.196 passageiros distribuídos em 4 classes: 279 na primeira, 257 na segunda, 310 na terceira e 1.350 na quarta ou de imigrantes.
O Vulcania junto ao seu par Saturnia, foi empregado na ligação Itália a Nova Iorque e Buenos Aires , a partir de Trieste, navegando pela primeira vez nessa rota em 19 de dezembro de 1928. Ambos os transatlânticos também realizavam cruzeiros para as américas e Índia, eram admirados e seduziam os passageiros pelo conforto que dispunham nos seus salões luxuosamente decorados no estilo Florentino do Século XVII e barroco venesiano. Além disso, alguns dos seus camarotes de primeira classe tinham pequenas varandas privadas, detalhe inusitado para a época.
Cartão-postal da cidade de Buenos Aires mostrando o porto onde
são vistos atracados o Oceania e o Conte Biancamano em meados
da década de 1930. Acervo: L. J. Giraud
Em 1931, o Cantieri Riuniti Dell’Adriatico deu início à construção de outros dois navios para a Cosulich (que são os que nos interessam mais de perto): O Neptunia e o Oceania, destinados a servir a linha de passageiros para a América do Sul, com escalas em: Splt, Patras, Nápoles, Gibraltar, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires. Em 1932, a Cosulich Lines integrou a nova sociedade Itália Flotte Riunite Cosulich – Llodys Sabaudo, NGI, mais tarde chamada de Itália Societá Anônima di Navigazione ou Italian Line.
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Cartão-postal representando o Saturnia e o Vulcania, construídos
no Cantieri Navale Triestina, do Porto de Monfalcone, na Itália, eram
na época de sua entrada em serviço os maiores da Cosulich Line, com
192 metros de comprimento e 24 mil toneladas. Realizavam a ligação
entre Trieste a Nova Iorque e Buenos Aires. Na década de 1930,
ambos foram incorporados à Italian Line. – Navios e Portos do Brasil.
Acervo: L. J. Giraud
Anúncio da Italmar S/A representante da Itália
Sociedade Anônima de Navegação publicado em
A Tribuna em setembro de 1938.