Para iniciar esta homenagem aos imigrantes japoneses e seus descendentes, transcrevo o texto Centenário da Imigração Japonesa no Brasil de Shigeru Taniguti Junior no seu blog que sintetiza esse grande capítulo da História do Brasil, como segue:
Atraídos por um sonho de uma vida melhor, e com o apoio dos governos do Japão e do Estado de São Paulo, vários japoneses abriram mão de sua pátria, e em 18 de junho de 1908 aportava em Santos o primeiro navio com esses imigrantes, o Kasato Maru.
Por volta de 17 horas, do dia 18 de junho de 1908, o navio Kasato
Maru atracou no cais de Santos nas proximidades do Armazém 14, de
onde desceram 781 japoneses, que serão lembrados na comemoração
dos 100 Anos da Imigração Japonesa ao Brasil. Acervo: L. J. Giraud
A bordo do navio estava um povo que trazia, além da bagagem, uma cultura milenar. Baseadas nos relatos de japoneses que haviam sido enviados ao Brasil antes do início da imigração, esses imigrantes esperavam enriquecer em pouco tempo e voltar para sua terra, já que as oportunidades oferecidas nas lavouras de café pareciam promissoras.
Porém, logo ao desembarcarem, encontraram uma outra realidade. Haviam sido enviados não para ter seu próprio pedaço de terra, mas para serem simples trabalhadores nos cafezais paulistas.
Além disso, conheceram todos os tipos de preconceitos, assim como os negros.
Depois do choque inicial, como de seu feitio, os japoneses se dedicaram muito ao seu trabalho, trazendo inclusive muitas inovações, novas culturas e plantas, etc.
Imigrantes japoneses a bordo do Santos Maru por volta de 1935, navio
que trouxe grande número de japoneses que hoje estão nos quatro cantos
do País. Acervo: Museu dos Cafés do Brasil
Hoje, os japoneses se espalham por todo o Brasil e são reconhecidos como pessoas honestas e trabalhadores, e conquistaram seu espaço na sociedade brasileira.
Qual paulistano não conhece o bairro da Liberdade, que antes concentrava muitos japoneses, e hoje divide seu espaço com chineses e coreanos?
Quem nunca ouviu falar de kimono, sushi, sashimi, hashi e etc.?
Para celebrar toda essa integração e o centenário da imigração japonesa, teremos comemorações em várias cidades, como Curitiba, Marília, Maringá e, claro, São Paulo, entre outras.
Desde 2006 foram formados diversos comitês para a organização dessa grandiosa festa. As maiorias desses comitês já estruturou até mesmo construções de memoriais para deixar marcada na História mais uma etapa da integração do povo japonês com o povo brasileiro!
Kasato Maru – O Primeiro da Imigração Japonesa
Neste ano em que vamos comemorar o tão esperado 100 Anos da Imigração Japonesa para o Brasil haverá incontáveis homenagens e celebrações, além de lançamentos de livros comemorativos ao acontecimento, por parte dos brasileiros descendentes de todas as raças e povos.
Cartão-postal alegórico do Santos Maru, construído em 1925, servia
linha Volta ao Mundo, do Japão à América do Sul, via África do Sul e no
retorno, via Canal do Panamá. Foi ao fundo durante a Segunda Guerra
Mundial. Acervo: L. J. Giraud
Vale recordar que Santos saiu na frente com a exposição A Trajetória dos Primeiros Imigrantes Japoneses no Brasil e o Café Brasileiro Hoje no Japão, que é exibida no Museu dos Cafés do Brasil.
Como é do conhecimento da grande maioria das pessoas, as primeiras famílias que aqui chegaram do Japão vieram a bordo do Kasato Maru que chegou em Santos no dia 18 de junho de 1908. Posteriormente, esse navio fez outras viagens para o nosso país, trazendo em seu bojo outras famílias e no retorno levando café para o Japão.
Entretanto, poucas pessoas sabem alguma coisa sobre o Kasato Maru, que vale ressaltar, era agenciado pela conhecida empresa Wilson, Sons. Assim vamos ver um pouco da sua história.
Desembarque de imigrantes japoneses
vindos pelo navio Buenos Aires Maru,
na década de 1930.
No final de 1889, a companhia britânica Pacific Steam Navigaton Company (PSNC) com a intenção de aumentarlias e no retorno levando cafs famns para o nosso pameiras fam a sua frota, encomendou alguns navios, junto aos estaleiros Wugham Richardson, situado no Ro Tyme próximo ao porto de Newcastle, dentre os quais o Potosi e o Galicia, navios gêmeos de construção tipicamente inglesa, com a superestrutura central separada da casa de comando (passadiço) e onde ficava as acomodações dos oficiais de náutica, bem como o de comandante. Esses navios eram mistos (carga e passageiros) e podiam transportar 200 passageiros em segunda classe e 780 emigrantes acomodados em grandes espaços comuns de terceira classe. O primeiro a ser lançado ao mar foi o Potosi em junho de 1900. Um ano depois foi a vez do Galicia, que não possuía instalações para passageiros.
De desenho tradicionalmente britânico, com casa de comando separada da superestrutura central, eram navios destinados a ter capacidade mista.
Possuíam casco de aço, seis porões de carga, três conveses, duas hélices, única chaminé e maquinário de expansão tríplice.
O Galicia, porém, não foi dotado de instalações para passageiros, ao contrário do Potosi, que podia transportar duas dezenas de pessoas em segunda classe e cerca de 780 emigrantes alojados em grandes espaços comuns de terceira classe.
O Buenos Aires Maru da OSK Line começou a fazer a rota Japão América
do Sul em 1929. Juntando-se aos outros navios da frota, Santos Maru, La
Plata Maru, Montevidéu Maru e Rio de Janeiro Maru.
Foto Acervo: L. J, Giraud
O Potosi nunca chegou a navegar com esse nome. Quando se encontrava em fase de aprestamento, foi visitado por responsáveis da organização denominada Frota de Voluntários Russos (RVF), os quais procuraram na Inglaterra navios para comprar. O Potosi foi um dos escolhidos e a oferta da RVF foi aceita pela PSNC.
Os novos proprietários ordenaram então ao estaleiro construir uma série de modificações estruturais para adapta-lo como transporte de tropas.
Rebatizado Kazan, o vapor saiu, em setembro de 1900, de Newcastle para Odessa. Podia transportar cerca de 2 mil homens e logo após a sua chegada ao porto russo foi integrado como navio auxiliar da Frota do Extremo Oriente.
Em 1904, com a eclosão do conflito com o Japão, o Kazan foi transformado em navio-hospital e nessa condição foi afundado nas águas pouco profundas de Porto Arthur por ocasião do ataque conduzido pelos cinco contratorpedeiros nipônicos.
Após a captura desse porto pelos japoneses (em 1905), o vapor foi recuperado do fundo do mar e restaurado, passando ao serviço da Marinha Imperial do Japão, como transporte auxiliar, com o nome de Kasato Maru.
O moderno Argentina Maru que fazia par com o Brasil Maru, era um navio confortável. A partir de 1960, transportava mais turistas do que imigrantes.
Acervo: L. J. Giraud
No ano seguinte, o navio foi afretado à armadora Tokyo Kisen, e por esta, utilizado na inauguração da nova linha entre o Japão e a Costa Oeste da América do Sul.
Em 1908, quando a Companhia Kokoku necessitava de um vapor para expedir seus primeiros emigrantes ao Brasil, é o Kasato Maru o navio escolhido.
Esta leva de imigrantes nipônicos chegando a terras brasileiras era a conseqüência da assinatura, em 1906, de um acordo entre o Japão e o Brasil, estabelecendo um tratado de amizade entre as duas nações.
Em novembro do ano seguinte, o então secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Carlos Botelho, e Ryu Misuno, representando a Companhia Japonesa de Imigração Kokoku, firmaram contrato, autorizando a chegada de 15 mil imigrantes.
Em 28 de abril de 1908, o Kasato Maru zarpou de Kobe, tendo a bordo 781 emigrantes destinados à lavoura paulista.
O Monumento da Imigração Japonesa,
situado no jardim da Praia do Boqueirão foi
escolhido para ilustrar o relacionamento
Brasil / Japão, através de uma moeda
comemorativa de 500 Ienes.
Na foto, visitantes do Japão junto ao
monumento. Foto: L. J. Giraud
Após 50 dias de viagem, o vapor atraca em Santos, em 18 de junho, marcando o início do fluxo de imigração japonesa no Brasil, fluxo esse que em 70 anos traria quase 800 mil indivíduos de um povo portador de milenar cultura formada por conhecimentos de ordem prática e sabedoria filosófica.
À viagem primeira do Kasato Maru, seguiram-se entre 1908 e 1914, outras nove, feitas por vapores diferentes, que desembarcaram em Santos um total de 133.200 imigrantes.
Além dessas viagens extraordinárias, feitas exclusivamente para o transporte de imigrantes, nenhum outro navio japonês aportava em portos brasileiros, não existindo ainda qualquer linha regular entre os dois países, tal fato só acontecendo em finais de 1916, por iniciativa da Osaka Shosen Kaisha (OSK).
A armadora Osaka Shosen Kaisha, em 1910, afretou o Kasato Maru pra sua linha comercial entre Kobe e Keelung.
O cargueiro Sapporo Maru da armadora Nippon Yusen Kaisha, ficou muito
conhecido no porto de Santos quando fazia a rota Brasil / Japão. Esse navio transportava pequeno número de passageiros; Década de 60 / 70.
Acervo: L. J. Giraud
Dois anos mais tarde, a OSK decide comprar o navio e reforma-lo. Após alguns meses de trabalho, o Kasato Maru volta a serviço, podendo acomodar um total de 520 passageiros em três classes diferentes.
Em dezembro de 1916, estando o Japão neutro no conflito que se desenrolava na Europa, a OSK decide inaugurar uma nova linha entre portos japoneses e portos da costa leste da América do Sul, via Oceano Índico, e o Kasato Maru é escolhido para inaugura-la, realizando viagem de Kobe a Buenos Aires, via inúmeros portos de escala intermediária.
No entretempo, o Galicia, navio-irmão do ex-Potosi, após permanecer durante 16 anos a serviço da armadora PSNC como navio de carga, empregado sobretudo na rota entre Liverpool e Valparaíso (Chile), foi vitima dos acontecimentos bélicos, sendo perdido em maio de 1917 ao largo da localidade de Teignmouth devido à explosão de uma mina naval.
Fechando o artigo com chave de ouro, imagem do cartão-postal do navio
Yeiko Maru da Nippon Yusen Kaisha do início do século XX. Acervo: L. J. Giraud
A entrada em serviço na rota de ouro e prata de uma nova série de vapores, maiores e mais velozes, a partir do início da década de 20, fez com que a OSK retirasse da mesma os navios mais antigos.
Foi o caso do Kasato Maru, que, após uma substancial reforma, voltou a servir a linha entre o Japão e Taiwan.
Em 1930, foi vendido a uma empresa de pesca japonesa, sendo então convertido em navio-fábrica, função que manteve até seu destino final, sendo afundado em meados de 1945, no Mar de Okhotsk, águas japonesas, durante um violento ataque aéreo estadunidense.
Segundo o livro Navios e Portos do Brasil de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo, as 158 famílias de imigrantes desembarcaram no Brasil segurando bandeirinhas de seda do Brasil e do Japão, e acenando para as pessoas que se encontravam no porto, em sinal de amizade e agradecimento pela acolhida. Segundo o depoimento de Tomoo Handa, artista plástico japonês radicado no Brasil, era época de festas juninas e pela cidade ouvia-se o espocar de fogos de artifício e viam-se numerosos balões no céu.
Esta é a singela homenagem da coluna, ao Centenário da Imigração Japonesa.
Fontes
Rota de Ouro e Prata – J. C. Rossini; Transatlânticos em Santos 1901/2001 – L. J. Giraud; Navios e Portos do Brasil – João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo; Jornal A Tribuna; Blog http://util.typepad.com.