Quinta, 25 Abril 2024

Em novembro recebi vários e-mails com imagens do Carl Hoepcke encalhado na Ponta da Praia nas proximidades do Canal 6. Essas imagens vieram de vários amigos como o jornalista José Carlos Silvares, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, Paulo Monteiro, entre outros.

 

Ponte Hercílio Luz e, no detalhe, o navio

Carl Hoepcke (anos 30). Acrílico sobre tela

do artista plástico Cipriano, de Florianópolis.

 

Assim, resolvi contar um pouco do navio que ficou muito conhecido na navegação de cabotagem através da reprise do artigo publicado em A Tribuna em 25 de maio de 1997 que foi feito em parceria com o conhecido jornalista Armando Akio. Eis o texto:

 

O transatlântico brasileiro Carl Hoepcke inscreveu o nome na História, não apenas do porto, mas de Santos, onde encerrou os dias com o batismo de Recreio, como boate flutuante.

 

A primeira escala do Carl Hoepcke na Cidade ocorreu em 4 de setembro de 1927, sob o comando do comandante Luís Antonio Gouveia.

 

O Carl Hoepcke deslocava 1248 toneladas, tinha

capacidade para transportar 720 ton. de carga geral

e recebia até 210 passageiros. Acervo: Edson Lucas.

 

A passagem pelo porto não foi em branco. Houve recepção a bordo e no próprio dia da primeira escala o navio seguiu viagem rumo ao Rio de Janeiro.

 

O roteiro

A linha regular do transatlântico abrangia os portos de Florianópolis e Itajaí (Santa Catarina), Santos, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba (São Paulo) e Rio de Janeiro. O trajeto era cumprido juntamente com outro navio gêmeo, o Anna.

 

A embarcação era da armadora Carl Hoepcke S/A Comércio e Indústria, de Florianópolis, que tinha filial em Santos, na Praça da República, 87 – 3º andar. O gerente era Poly Serpa Pinto.

 

O Carl Hoepcke e o gêmeo Anna deslocavam 1.220 toneladas. Cada um desenvolvia a velocidade máxima de 14 nós (26 quilômetros horários) e tinha acomodações para 150 passageiros em primeira e terceira classes.

 

O celebre navio atracado em Santos em julho de 1953,

nas proximidades do Armazém 4, da antiga Companhia

Docas de Santos. Reprodução de A Tribuna.

 

O comprimento do Carl Hoepcke era de 66 metros por 11 de boca (largura). Ele foi construído na Alemanha e lançado ao mar em 1926, assim como o Anna. As viagens dos dois navios na linha eram semanais.

 

Colisão em pedra

Durante 12 anos, o Carl Hoepcke navegou no roteiro sem grandes acontecimentos. Até que, em 19 de setembro de 1939, bateu em uma pedra na Ponta da Amarração, em Santa Catarina.

 

Os passageiros foram recolhidos pelo navio Pedro I , da companhia de navegação estatal Lloyd Brasileiro, que os transportou para Santos e para o Rio de Janeiro.

 

O Pedro I era semelhante ao Pedro II, também do Lloyd. Ambos eram utilizados na cabotagem (navegação doméstica). Construídos na Grã-Bretanha, pertenciam a uma companhia de navegação australiana, a Australian United, e foram adquiridos pela estatal brasileira em 1935.

 

Anúncio da armadora Carl Hoepcke S/A, Comercio

e Industria, posicionando a entrada e saída dos seus

navios Carl Hoepcke, Anna e Max. Agosto 1953

 

O pintor Antonio Giacomelli, do Rio de Janeiro, fez um retrato do Pedro II, utilizado em um cartão-postal.

 

Incêndio a bordo

Passaram-se 17 anos até que novo fato tirou o Carl Hoepcke da rotina. Em 27 de setembro de 1956, a 15 milhas (28 quilômetros) de Santos, sofreu incêndio na parte central. A bordo havia 134 passageiros (76 vinham para a Cidade) e 34 tripulantes.

 

Neste novo acidente, o primeiro navio a chegar ao local foi o lança-cabos submarino Norfemann, de bandeira britânica, da Western Telegraph, que salvou 74 passageiros. A Western tinha o famoso relógio de torre na Rua Tuiuti com o cais, em Santos.

 

Populares no cais assistindo a saída do legendário Carl

Hoepcke em julho de 1953. Reprodução de A Tribuna.

 

O segundo navio a socorrer o Carl Hoepcke foi o Itaquatiá, que pertencia à Companhia Costeira de Navegação e resgatou os demais passageiros e a tripulação do transatlântico.

 

Os navios de passageiros da série Ita eram conhecidos, na costa nacional, e deram origem aos cargueiros do Lloyd Brasileiro, que nos anos 70 voltaram a usar nomes como Itanagé, Itapagé, Itassucé, Itaité e Itaquatiá, entre outros.

 

O escritor baiano Jorge Amado, no livro Capitão-de-longo-curso, menciona os Itas da Companhia Costeira. Esta, no final dos anos 60, fundiu-se ao Lloyd Brasileiro.

 

Encalhado

O Carl Hoepcke foi puxado para Santos pelo rebocador Sabre, da Wilson Sons. O transatlântico foi encalhado no estuário, na altura onde hoje ficam os terminais de Contêineres (Tecon) e de Fertilizantes (Tefer), em Conceiçãozinha, do lado de Guarujá.

 

Oficiais de bordo entre eles o comandante, e imediato

e pilotos, a saber: Osvaldo Alves Guimarães, João Pio

da Silva, Gervásio Carolino da Silva e  Rubens Silva.

Tendo a esquerda o editor de Porto e Mar, Francisco

Azevedo. Fotografia de Rafael Dias Herrera.

 

Da margem de Santos, o Canal 5 ou o cais dos armazéns 31 e 32 é a melhor referência para localização.

 

Depois, o navio foi vendido e passou a se chamar Pacaembu. Com este nome, também não houve grandes fatos dignos de registro.

 

Boate flutuante

O navio voltou a chamar a atenção no inicio dos anos 70. Sem condições de navegar e sem motores, ele se transformou em boate flutuante, ancorado na barra, na Ponta dos Limões. Mas os empreendedores não tiveram o almejado sucesso.

 

Na madrugada de 28 de fevereiro de 1971, açoitado por fortes ventos, desgarrado, encalhou na Ponta da Praia, perto do Aquário, a 100 metros da Avenida Bartolomeu de Gusmão.

 

Foto aérea do Recreio ex- Carl Hoepcke mostrando como ficou

encalhado após ter sido açoitado por fortes ventos na

madrugada de 28/02/1971.  Foto: Autor desconhecido.

 

Durante meses, o Recreio foi atração turística, visto por milhares de pessoas, entre elas a atriz Leila Diniz e outros artistas, que participavam do Festival de Cinema de Santos, no antigo Parque Balneário Hotel.

 

A Marinha determinou que o navio deveria deixar o local, mas os rebocadores não conseguiam leva-lo de volta para o mar. A solução foi desmontar a embarcação.

 

Foto do Recreio mostrando curiosos nas

proximidades do casco encalhado próximo

ao Canal 6.  Foto: Autor desconhecido.

 

O falecido jornalista Olao Rodrigues, que foi de A Tribuna, no livro Santos nos tempos de nossos avós, declarou: “Foi o fim inglório de um barco que se tornara popular no porto”.

 

Quem quiser saber em profundidade a historia do Carl Hoepcke recomendo que leiam o livro Navios e Portos do Brasil de autoria de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo, que além de ter um belo texto tem imagens inéditas do célebre navio.

 

Os interessados nas obras do artista plástico Cipriano devem entrar em contato pelo telefone (48) 3222-8096 ou celular (48) 9121-7444. A ele agradeço a autorização da publicação da sua obra no presente artigo.

 

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