Sábado, 28 Dezembro 2024

Uma das minhas lembranças do local onde funcionou o Cassino Miramar, que ficava na Av. Conselheiro Nébias com a Av. Bartolomeu de Gusmão, era de um quartel militar, onde do bonde 4 eu avistava soldados exercitando os seus cavalos. Era uma bonita visão, que chamava atenção de todos que por ali passavam.

 

Cartão-postal promocional, do Restaurante e Cassino Miramar, que
dá uma idéia do que foi uma das maiores casas de diversão da América
do Sul.
Acervo: L. J. Giraud

 

Vizinho a esse local, existia o famoso Cine Miramar, que exibia dois filmes, dois cine-jornais, um nacional, outro estrangeiro, um desenho e uma comédia. Fui algumas vezes na companhia de minha mãe, quando tinha 6 anos de idade, isso por volta de 1951. Lembro de ter assistido um filme colorido com o ator estadunidense Errol Flyn, no qual fazia o papel de um pirata nas ilhas caribenhas. Mas o cinema era uma pequena parte do que restava do grande complexo de entretenimento do Miramar.

 


Vista aérea do complexo do Miramar, que ocupava um quarteirão

limitado pela Av. Conselheiro Nébias, Av. Epitácio Pessoa, R. Oswaldo

Cruz e Av. Bartolomeu de Gusmão. 

Cartão-postal acervo: José Carlos Silvares

 

Conheci um senhor de nome Irineu Malta, avô do amigo de infância José Augusto Malta Ferrari, que foi sócio da Casa Malta, uma exportadora de Café nos anos 20/30 e 40 do século passado. Pois bem, esse senhor, contava maravilhas do Miramar, como grandes shows com lindas dançarina, artistas com números circenses e grandes cantores da época. Possuía também um bom restaurante, um ringue de patinação freqüentado pelas famílias santistas. Mas a maior atração era o cassino com todos os jogos possíveis e imagináveis.

 

O cassino era freqüentado por pessoas de todas as profissões. Só era vedada a entrada de bancários por razões óbvias. Mas o que mais gastavam eram os passageiros de navios em trânsito estrangeiros e nacionais.

 


Raro cartão-postal dos anos 20, mostrando  o Cassino Miramar à

noite, pronto para receber os seus frequentadores para os mais

diversos entretenimentos oferecidos pelo lendário estabelecimento

santista. Acervo: L. J. Giraud

 

Naquela época só se viajava em navios e o número deles era grande. Um navio misto (carga e passageiros) costumava ficar em média de dois a três dias no porto, em operação de carga e descarga de mercadorias, além de embarque e desembarque dos referidos passageiros. Essa movimentação de passageiros dava um grande movimento ao comércio da Cidade, pois como disse, muitos eram os navios repletos de viajantes.

 

Segundo o Sr. Malta, para os frequentadores assíduos de cassino, caso o mesmo não estivesse satisfeito com os pratos servidos no restaurante do cassino, era oferecido ao cliente, um voucher, que dava direito a jantar no Restaurante Marreiro, que ficava ao lado da Alfândega do Porto de Santos. Inclusive, a corrida do táxi era paga pelo Miramar.

 


Anúncio do Jornal A Tribuna de 07/02/1937 sobre o baile

carnavalesco Hiate Dos Piratas, organizado pela Rádio Atlântica

de Santos, a famosa PRG-5, nas dependências do Cassino Miramar.

 

Segue abaixo: o resultado de uma pesquisa feita junto ao Diário do Município de Santos de 15 de agosto de 2003 na coluna Memória Santista, com informações da Fundação Arquivo e Memória de Santos, que de uma forma clara, sucinta e objetiva, conta muito do que foi o Cassino Miramar. Vale aqui deixar os parabéns aos funcionários e à atual presidente da Fundação Arquivo e Memória de Santos, a jornalista Cristina Guedes pelas brilhantes exposições realizadas, onde são mostradas imagens das coisas interessantes da nossa querida Cidade.

 

Cassino Miramar

Criado em 1896, pelo major Jonacopolus com o apoio da Empresa Viação Paulista, que pretendia ampliar o fluxo de passageiros, o Theatro e Casino Miramar foi um centro de recreação familiar, constituindo-se no grande ponto de encontro da sociedade santista nas décadas de 1920 e 1930.

 

Fotos reproduzidas do Jornal A Tribuna

mostrando grande número de foliões no salão

de festa do Miramar no carnaval de 1937.

 

Palco de grandes festas carnavalescas, o Palácio Dourado do Boqueirão, como também era chamado, tinha inúmeras atrações, dentre as quais se destacavam: teatro, cinema, música ao vivo, cassino e pista de patinação. Artistas de renome, como Enrico Caruso e Carlos Gardel, também se apresentaram lá.

 

Ampliado em 1923, o Miramar, agora sob nova direção, passou a dispor de restaurante, american bar e o novo salão de jogos, sendo apontado como a mais procurada e querida casa de diversão da América do Sul, segundo a Revista Novidade (1923/25). Funcionando na Avenida Conselheiro Nébias, próximo à praia, também abrigou a primeira Rádio Clube de Santos.

 


O grande número de navios em trânsito pelo Porto de Santos,

tanto os de longo curso como os de cabotagem, traziam muitos

passageiros, o que era salutar para as finanças da Cidade. Na foto,

vemos dois navios do Lloyd Brasileiro (chaminé branca / preta) e ao

fundo, a conhecida Ilha Barnabé que armazena até hoje os inflamáveis

do porto santista. Foto: 1931. Foto acervo: L. J. Giraud

 

Porém, com a crise econômica que afetou o mundo em 1929 devido á quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, o Miramar fechou suas portas. Durante a Segunda Guerra Mundial, o que restara do lugar foi transformado em quartel para, mais tarde, ser demolido.

 

Para os mais jovens, que não conheceram o Miramar, informo que o mesmo ficava na quadra da Av. Conselheiro Nébias com a praia, onde hoje estão os edifícios Caiçara e Jangada, o edifício São Domingos, onde havia a famosa Confeitaria Sissi, e prédios adjacentes. Ali funcionou por muitos anos, o famoso Cine Caiçara. Foi nesse cinema, que em 1954, assisti o famoso “O Manto Sagrado”, com Richard Burton, Victor Mature e Jean Simmons.

 


A fachada do Miramar, vista em cartão-postal do ângulo de entrada

de seu famoso restaurante. Foto: 1928. Foto acervo José Carlos Silvares

 

Segundo o jornalista e amigo José Carlos Silvares, ali na Av. Conselheiro Nébias, no local do Miramar, funcionou entre 1965 e 1969 a filial da Mercearia Carioca, inaugurada por seu pai José Bento Silvares, que depois a transformou na primeira lanchonete completa de Santos, a Surf Dog, inaugurada em novembro de 1969. - Boas recordações.

 


Um raro cartão-postal do Miramar de 1905. Mostra o complexo de

entretenimento ainda na sua fase inicial. 

Foto acervo José Carlos Silvares

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