Sábado, 28 Dezembro 2024

Desde 1997, venho fazendo artigos abordando os feitos heróicos dos pracinhas da gloriosa Força Expedicionária Brasileira (FEB), na Segunda Guerra Mundial em várias localidades da Itália. Nesses artigos, eu sempre solicitava uma estátua ou monumento que engrandecesse e homenageasse os nossos ex-combatentes, esquecidos no decorrer do tempo. Hoje poucos sabem da nossa participação no maior conflito entre nações da história do mundo.

 


O pedestal que homenageia os pracinhas da FEB, fica no Jardim

Rádio Clube, na Zona Noroeste. Mas não há identificação, pois ele

teve a placa furtada. Foto: L. J. Giraud

 

Recentemente, foi publicado aqui nesta coluna de PortoGente o artigo Um monumento aos ex-combatentes das Forças Armadas que lutaram contra as forças nazi-fascistas. Após a publicação, recebi a informação de que havia uma praça no Jardim Rádio Clube com o nome de Praça dos Ex-Combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Imediatamente me dirigi ao local para tomar conhecimento desta homenagem aos ex-combatentes. Assim, fiquei sabendo que a praça foi inaugurada no dia 28/08/2004. Por essa razão, peço publicamente desculpas por reclamar da falta de homenagem aos nossos heróis. No entanto, estranhei que não houvesse grande divulgação sobre esse fato.

 

Contudo, confesso que fiquei um tanto decepcionado pelo que foi oferecido, pois se trata de uma praça em local distante, onde só quem tem a oportunidade de ver é quem mora naquele bairro da Cidade.

 


Reprodução de foto de soldados da FEB que

bravamente atuaram nos campos de batalha da Itália.

 

Na verdade, há um pedestal em alvenaria, e no local havia uma placa em homenagem aos ex-combatentes da FEB. Acreditem, a placa já não está mais lá. Foi furtada por elementos desclassificados, que certamente venderam o metal para receptadores do material. No meu entender, os ex-combatentes das três Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), mereciam coisa melhor, em num local mais acessível pela importância que tiveram.

 

É bom lembrar que a ação do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi importante e até mesmo determinante para a vitória dos Aliados, além do Brasil ter retornado da guerra bem diferente do que partiu. Tivemos reconhecimento mundial por nossa participação. Aliás, fomos a única nação da América do Sul presente na mais sangrenta das guerras de todos os tempos.

 


Soldados brasileiros enfrentando o frio

do rigoroso inverno italiano de 1945.

Reprodução.

 

Tive a oportunidade de conhecer vários ex-combatentes da FEB, entre eles José Batista, Ary Esteves, pai do prático Paulo Gonçalves Esteves, e os que ainda vivem como: Athaide Ferreira, presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB da Baixada Santista e organizador do Museu da FEB que fica nas dependências do 2º Batalhão de Caçadores. Diga-se de passagem, o museu merece ser visitado, pois o Sr. Athaide Ferreira tem muitas coisas para contar da campanha brasileira na Itália.

 

Para mostrar um pouco da importância da FEB, aqui reproduzo um texto que encontrei no Diário Oficial de Santos do dia 9 de maio de 1989 (tenho mania de guardar coisas interessantes), escrito pelo jornalista Carlos Mauri Alexandrino, de quem sou admirador das coisas que escreve no caderno Porto Cidade do Jornal da Orla, e a quem peço licença.

 

Uma vitória especial para Santos

* por Carlos Mauri Alexandrino

- D.O. URGENTE – 9 de maio de 1989

 

Há 44 anos (hoje seriam 62 anos) havia uma enorme festa nas ruas de Santos e do mundo inteiro, comemorando a rendição da Alemanha às forças aliadas, no dia anterior, 8 de maio de 1945, pondo fim à guerra na Europa e ao nazismo. No dia 2 daquele mês, Berlim fora ocupada pelos soviéticos e os brasileiros marcharam sobre Turim, na Itália. Para as tropas da Força Expedicionária Brasileira – FEB – a guerra havia acabado, a rigor, no dia 28 de abril, em Fornuovo, com a rendição da 148ª. Divisão de Infantaria alemã – totalizava-se, ali, 14.552 prisioneiros feitos pela FEB.

 

Foto tirada no cemitério militar brasileiro, em Pistóia, Itália,

onde foram sepultados os pracinhas mortos em combate.

Posteriormente, os restos mortais foram transferidos para

o monumento da FEB no Rio de Janeiro. Reprodução.

 

Para Santos tinha sabor especial a vitória. A cidade havia declarado guerra ao nazismo e ao fascismo muito antes do Brasil (a declaração de guerra é de 22 de agosto de 42), em 1937. E isso havia custado muito caro aos santistas.

 

Em 37, Getúlio Vargas via ainda como aliados os regimes de Hitler e de Franco, aliados na Guerra Civil espanhola, tornando a Espanha um campo para testes bélicos. Tentou doar aos franquistas um navio de café, mas os estivadores de Santos, junto com a população, disseram também o seu ‘no passaran’ aos franquistas e o café no cais. As prisões que se seguiram fizeram eclodir na cidade a primeira grande greve do Estado Novo. Repressão violenta, mortes, e a cidade, sob intervenção federal e ocupada pelo Exército, viu os soldados embarcarem o café no navio da Alemanha nazista, que aguardava no porto. Para as brigadas internacionais da luta anti-franquista e a história da Guerra Civil, ficou registrado o exemplo santista da solidariedade entre os trabalhadores de todo o mundo.

 

A cobra fumando, emblema da FEB. Era o

termo usado quando os pracinhas estavam

em combate.

 

Quando a FEB incorporou-se ao 5º Exército Aliado, na Itália, a 5 de agosto de 44, 320 santistas estavam entre os soldados que travaram o primeiro combate, a 15 de setembro, no vale do Rio Pó. A 21 de janeiro de 45, os brasileiros tomam Monte Castelo, a 24 de fevereiro vencem em La Serra, Cota 958 e Bella Vista. A 5 de março, vitória em Castelnuovo, a 14 de abril toma Montese e colhe nova vitória em Collechio a 26 e 27. A 28 obtém a rendição dos alemães e a 2 de maio ocupa Turim em conjunto com as forças aliadas. Muitos de nossos soldados não voltariam a partir de 18 de julho, com os demais. Mas a 29 de outubro cai o Estado Novo, com a exigência civil e militar de democracia, a mesma que os soldados haviam defendido na Europa. A vitória, para Santos, agora estava completa.

 

O administrador do Museu da FEB, Athaide Ferreira (ex-

combatente), nas dependências do 2º BC em São Vicente,

quando recebia o livro O Brasil na Guerra, de autoria de

Kepler Alves Borges das mãos de Gustavo Giraud em 7 de

julho de 2005. Foto: L. J. Giraud

 

Para finalizar, deixo através de um texto, uma lembrança do meu tio Kepler Alves Borges, que aos 83 anos, ainda tem muitas lembranças da história da FEB, que serviu junto com os marechais Castelo Branco e Mascarenhas de Moraes, no QG da FEB.

 

Nápoles, dia 6 de julho de 1945. Há exatamente 62 anos, o navio norte-americano General M.C. Meigs iniciava viagem para o Brasil, transportando de volta as tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutaram na Segunda Guerra Mundial contra as forças nazistas. Eram 18h30 quando a embarcação deixou o cais do porto napolitano, destruído pelas bombas. Encerrava-se ali o último capítulo de uma história de heróis e dedicação, vivido pelos pracinhas. O navio chegou ao Rio de Janeiro depois de 11 dias, 19 horas e 40 minutos.

 

O livro O Brasil na Guerra, de autoria

de Kepler Alves Borges, lançado em

1947, faz parte do acervo do Museu

da FEB em São Vicente.

 

Mais uma vez peço desculpas pela reclamação indevida da falta de homenagem aos ex-combatentes, mas continuo reiterando: a memória dos pracinhas merece coisa melhor, a exemplo de coisas que não tem muito a ver conosco, e são reverenciadas através de estátuas. Espero que nossas autoridades se sensibilizem. Fica aqui a sugestão.

 

O pracinha Kepler Alves Borges na

época da Segunda Guerra Mundial.

Acervo: Kepler Alves Borges

 

O ex-combatente Kepler Alves Borges na companhia da

esposa Sylvia em foto recente na Confeitaria Colombo –

Rio de Janeiro. Foto: L. J. Giraud

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