Domingo, 19 Mai 2024

Como disse em artigo anterior, muitas são as lembranças do tempo em que trabalhei na firma suíça Volkart Irmãos Ltda., no início da década de 1960. Um dos meus serviços de rua era o de ir às inúmeras agências marítimas existentes na Cidade, entre elas lembro das seguintes: Johnson Ltda., Dickinson & Cia Ltda., Hamburg-Sud, Agência de Vapores Grieg S/A, Cia. Comercial e Marítima Ltda., Olav Mossige Ltd., Royal Mail Agencies Ltda., Linha C  Agencia Comercial e Marítimo Ltda., Agencia Brasileira das Linhas Dodero Ltda., S/A Martinelli., Moore McCormack Nav. Ltda., Wilson, Sons & Co. Ltda., A Gracioso & Filho Ltda., Agência Marítima Laurits Lachmann S/A., mas uma delas tinha uma especial preferência para embarques das sacas de café com destino ao Reino Unido, era a Companhia Expresso Mercantil, agente da Lamport & Holt Line, cuja história aqui será contada de uma forma sucinta.


A bandeira com a logomarca da Lamport & Holt Line Ltd.,

ficou famosa pelos portos onde seus navios escalaram.

 

A Lamport & Holt Line foi fundada em 1845 por Williams James Lamport & George Holt. Com sede em Liverpool, iniciou suas atividades com uma respeitável frota de navios de madeira do tipo Clipper, suas principais linhas ligavam a Inglaterra com a Índia, Sul da África e Costa Oeste da América do Sul. Com o decorrer do tempo, William James Lamport tornou-se um dos maiores armadores da Grã-Bretanha.

 

Em 1873 em razão do aumento do comércio com a América Latina, foi lançada uma linha entre Liverpool, Portugal, Brasil, Uruguai e Argentina, que funcionou até 1986.


Em 1845, ano em que surgiu a Lamport & Holt, seus navios

eram do tipo Clipper, no estilo do que vemos na maquete.

Eram navios rápidos, sendo o que ficou mais famoso, foi o Cutty

SarkImagem: Internet

 

O pioneiro foi o Kepler, depois vieram para essa movimentada linha de navegação, o Galileo, Huschel, Newton, Tycho Brae, Pto Lemy, Hiparchus, e com a absorção da Malcolmson Line a Companhia tornou-se a primeira linha da América do Sul.

 

Voltando a 1865 a Companhia começou a operar entre os portos de Nova York e Buenos Aires, com escalas nos portos intermediários como Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. Foi também assinado um contrato com o Governo Brasileiro, para o transporte de passageiros ao longo da costa brasileira, continuando a operando até o Brasil decidir usar seus próprios navios nesse comércio.


O Tennyson, que fazia linha Nova York – Brasil, Uruguai e

Argentina, foi adquirido em 1902 pela L&H. Acervo: L. J. Giraud

 

Vale lembrar que o navio Halley levou o primeiro carregamento de café do Rio de Janeiro para Nova York em 1869. Nessa época houve comentários contra o carregamento de café em navios de aço, supondo-se que no contato com o metal o paladar sofria grandes alterações. Esse fator foi logo superado, e por muitos anos, milhões de sacas foram transportadas para Nova York e Nova Orleans pelos navios da Lamport & Holt Line.

 

Um dos fatos marcantes da armadora britânica. Foi a de um dos seus navios, o Nasmyth ter inaugurado as novas instalações do cais linear de Santos, construídas pela Cia. Docas de Santos, quando atracou em 2 de fevereiro de 1892.



O Voltaire, da Lamport & Holt Line, com 13.248 toneladas e acomo-

dações para 680 passageiros. Lançado ao mar em 14 de agosto de 1923,

passou a servir a linha de Nova York ao Brasil e Rio da Prata, na qual

permaneceu até 1930. Em 1932, junto ao Vandyck, inaugurou o serviço

de cruzeiros turísticos da companhia. Foi afundado pelo cruzador-

auxiliar-armado alemão Thor em 4 de abril de 1941, com a perda de

75 vidas. (Informações do livro “Navios e Portos do Brasil” de João

Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo). Acervo: L. J. Giraud

 

Foram utilizados na linha entre a América do Sul e os Estados Unidos, navios de passageiros de alta classe, incluindo os famosos navios tipo V, Voltaire, Vandyck, Vauban e Vestris. Imediatamente após o término da segunda guerra mundial, foi colocada em serviço uma frota de 17 navios, totalizando aproximadamente 100.000 toneladas, a maior parte dos quais trafegavam no comércio do Brasil e Argentina.

 

A classe R, Raphael, Romney, Ronsard, Rossetti, Roscoe e Ribens, junto com a classe D, Debrett, Defoe, Devis e Delius, foram bem conhecidos nos portos brasileiros. O Siddons e Spenser mantinham um serviço regular entre o Norte do Brasil e os Estados Unidos. As últimas aquisições da frota foram os navios refrigerados Constable e Chatham. Todos eram equipados para transportar ampla variedade de carga como carne, frutas, algodão, madeira e principalmente o café, que era o produto mais cobiçado não só pela Lamport & Holt, como também por outros armadores.



O vapor Vauban, de 10.660 toneladas, construído em 1913, tinha

capacidade para 610 passageiros. Afretado pela RMSP para a linha

Southampton ao Rio da Prata, em 1922, de volta à Lamport & Holt Line

continuou a servir a mesma linha, com escala em portos brasileiros, na

qual se manteve até 1930. . (Informações do livro “Navios e Portos do

Brasil” de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo). Acervo: L. J. Giraud

 

Vale recordar um fato marcante que aconteceu com o navio Velasquez, que teve a viagem inaugural em 1906. Após escalar Santos em 15 de outubro de 1908, onde recebeu passageiros e 2.133 sacas de café, despachadas para Nova York pela firma Hard Rand. No dia seguinte, após deixar Santos, por volta das 22h00, se chocou na Ilhabela, mais precisamente com as rochas da localidade de Bustamante, entre a Ponta da Sela e a Ponta da Figueira, nas proximidades da entrada sul do canal de São Sebastião.

 

Quando do acidente, o mar estava agitado e fazia cerração. Foi declarada perda total do navio, assim como sua carga de café. O Velasquez, ou o que dele sobrou foi lentamente sendo quebrado pelas ondas, com seus últimos restos sendo pilhados pelos habitantes locais antes de ser definitivamente tragado pelo mar. Esse triste acontecimento é contado em pormenores no livro Sinistros Marítimos na Costa do Estado de São Paulo (1900-1999) de autoria de José Carlos Rossini.


Anúncio da Companhia Expresso Mercantil, representante da Lamport & Holt

Line Ltd., publicada na Revista Docas de Santos nos anos 50.

 

Em 1944, a companhia foi Adquirida pela Vestey Group, que incluía e Blue Star Line, do mesmo grupo em que foi acrescentada a Booth Line em 1946. Em 1991, o último navio da Lamport & Holt Line foi transferido para a Blue Star Line, passando a ser o Argentina Star.


O Velásquez preso às rochas da costa sul da Ilhabela. Acervo: J. C.

Rossini, do livro “Sinistros Marítimos na Costa do Estado de  São Paulo”

(1900 – 1999) de J. C. Rossini

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