* colaborou Armando Akio
Não se sabe ao certo quantos navios de passageiros fizeram escalas regularmente em Santos no decorrer do século XX até o fim da era dos paquetes. Há quem afirme que foram em torno de 2 mil. O movimento de embarcações, somando os cargueiros, era impressionante, causando congestionamentos — a média diária de entradas e saídas chegou até a 20.
Cartão-postal da A-Folch y Cia de Barcelona,
que mantinha linhas regulares entre vários
países na época da imigração.
Acervo: L. J. Giraud
Do número aproximado de 2 mil transatlânticos, alguns se destacaram, porque eram soberbos e luxuosos, como os alemães Cap Polonio e Cap Arcona, os italianos Conte Biancamano, Conte Grande, Giulio Cesare, Augustus, Federico C e o famoso Eugenio C (que depois teve o nome alterado para Eugenio Costa).
Outros que brilharam foram os franceses Lutetia, Massilia, Bretagne e Provence, os britânicos Alcantara, Arlanza e Aragon, os norte-americanos Brazil, Argentina e Uruguay.
Houve outros navios de passageiros, porém, que não tiveram brilho e passaram até despercebidos no porto, mas nem por isso deixaram de ter um significado para os imigrantes.
A nossa “Wall Street”, a famosa Rua XV de Novembro, onde ficavam
situadas as agências de navegação como Mala Real Inglesa, Chargeurs
Reunis, Companhia Nacional de Navegação Costeira, principais bancos
e grandes casas exportadoras de café. – Anos 20. Acervo: L. J. Giraud
Entre esses transatlânticos menos célebres, mas não menos importantes, de bandeira italiana, podem ser citados o Sirio, Duca di Galliera, Reina Victoria Eugenia, Principessa Mafalda, Regina D‘Italia, Castel Felice, Paolo Toscanelli, Franca C, Anna C, Andrea C e San Giorgio (ex-Principessa Giovana), em que veio o advogado Enzo Poggiani, em 1947.
Na lista dos navios alemães, podem ser enumerados o Cap Verde, Monte Rosa, Monte Oliva, Sierra Nevada, Sierra Ventana e General Osorio, em que veio José Bento Silvares, em 21 de agosto de 1929 e que completou 13 anos a bordo e é pai do jornalista José Carlos Silvares, autor do livro Príncipe de Asturias.
Entre os transatlânticos britânicos, vinham a Santos o Highland Patriot, Almeda, Arandora Star, Brazil Star, Argentina Star e Uruguay Star.
O Cap Arcona, atracado em Buenos Aires por volta de 1936. Foi o
mais célebre navio da sua época pela sua imponência, velocidade e
conforto, ficou conhecido como Rei da América do Sul. Fez sua viagem
inaugural para a América do Sul em 1927. Sua última viagem foi em
1939 com o início da Segunda Guerra Mundial. Foi posto a pique por um
esquadrão aéreo da RAF na Baía de Lubeck, onde morreram mais de
5.000 pessoas. Media 196,15m de comprimento. Acervo: L. J. Giraud
A relação de navios de passageiros franceses incluía o Ernest Simons, Atlantique, Florida, Campana, Alsina, Claude Bernard, Lavoisier, Louis Lumière, Laennec e Groix, aonde veio para o Brasil o espanhol Manuel Rodrigues Gil, em 1950, hoje proprietário do Restaurante Paulista, no centro de Santos.
Entre os navios de armadoras portuguesas, podem ser citados o Nyassa, Mouzinho, Serpa Pinto e o North King, este último com registro no Panamá. Os transatlânticos de bandeira dos Estados Unidos que vinham a Santos e o País eram o Western Prince, Southern Cross, American Legion, Del Mar e Del Sud. Sob bandeira espanhola, faziam escalas o Cabo San Augustin, Cabo San Antonio, Cabo Buena Esperanza, Cabo de Hornos, Cabo San Vicente e Cabo San Roque.
De nacionalidade japonesa, vinham à Cidade o Santos Maru, Buenos Aires Maru, Montevideo Maru, Rio de Janeiro Maru, Brazil Maru e Argentina Maru.
O Cap Polonio da Hamburg-Sud, atracado no porto do Rio de Janeiro,
no final da década de 1920. Foi apreendido pelos ingleses no final da
Segunda Guerra Mundial. Em 1922 passou a ser de bandeira alemã,
quando fez sua primeira viagem para a América do Sul. Deixou de
navegar em 1931, media 194,39m de comprimento. Acervo: L. J. Giraud
Entre os navios argentinos, havia o Yapeyu, Alberto Dodero, Salta, Rio de la Plata, Rio Tunuyan, Rio Jachal e Juan de Garay, em que vieram da Espanha para Santos o alfaiate Ramon da Fonte em 1951, um dos proprietários do Café Carioca, Marcos Gregorio Rodriguez, em 1957, e José Paulino Vasquez Prada, em 1952, que foi proprietário de salão de corte de cabelo na Rua Amador Bueno. Entre os holandeses, havia o Tubantia, Flandria e Ruyz.
Os transatlânticos brasileiros também não podiam ficar de fora: Bagé, Rodrigues Alves, Campos Sales e Siqueira Campos, que faziam a linha para a Europa.
Todos esses navios fizeram história, deixaram marcas em Santos, ainda que sem o brilho de sol dos célebres transatlânticos, e assistir à partida de um deles era um espetáculo inolvidável, no cais apinhado de pessoas.
O britânico Alcantara era gêmeo do Asturias (não confundir com o
transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias), começou a navegar por
volta de 1927, pertencia à Royal Mail Line. Foi um navio muito conhecido
no Brasil. Sua última viagem se deu em 1958. Acervo: L. J. Giraud
O poeta Narciso de Andrade afirma que “quem já viu 100 vezes um navio chegar, fica seduzido pela cena: ver navios!”.
O pesquisador Jaime Caldas comenta que a entrada de um transatlântico era um espetáculo indescritível: centenas de pessoas iam ao cais para esperá-lo, para ver a atracação.
Veja mais imagens:
O transatlântico argentino Juan de Garay, que anteriormente foi o
Orinoco, trouxe vários imigrantes para o Brasil, entre eles, em 1952,
Ramon da Fonte, Marcos Gregório Rodriguez (Café Carioca) e José
Paulino Vasquez Prada. O navio fez um cruzeiro com brasileiros em 1957.
Acervo: José Carlos Silvares, autor do livro Príncipe de AstúriasA belíssima aquarela do transatlântico italiano Santa Cruz, da
Italmar, passando pela Ponta da Praia pelos idos de 1951, de autoria
Julio Augusto Rocha Paes. Acervo: L. J. Giraud
O raro cartão-postal do transatlântico Vera Cruz, que foi um
dos navios portugueses mais conhecidos no Brasil em todos os
tempos. Fez sua viagem inaugural para o Brasil em 1952 e sua
última passagem, por Santos, foi em 1961. Transportava 148
passageiros na primeira classe, 250 na segunda e na classe
turista, 844. Foi demolido em 1973 em Kaohsiung – Taiwan.
Acervo: L. J. Giraud
O navio de passageiros mais conhecido dos brasileiros, isto é, num
passado mais recente, foi o Eugenio C, que navegou por nossas águas
de 1966 até 1996, exatamente 30 anos. Posteriormente, passou a ser
o navio de cruzeiros Eugenio Costa. Acervo: L. J. Giraud
Encerrando a galeria marítima de cartões-postais, o transatlântico
francês Les Andes da Société General de Transports Maritimes,
passando na altura da Fortaleza da Barra. Nota-se que a Ponta da Praia,
era praia literalmente. Acervo: L. J. Giraud