Sábado, 18 Mai 2024

No longínquo ano de 1952, as companhias marítimas já sentiam a sombra que os aviões faziam sobre seus navios, tanto que nesse ano transportaram através do Atlântico Norte 433.000 passageiros, contra 842.000 dos transatlânticos.

 

O nosso velho e conhecido Funchal, passando pela Ponta

da Praia, na temporada de 1996. Foto: Edson Lucas

 

Nesse mesmo ano, o capitão Filippo Rando, que foi comandante do transatlântico italiano Giulio Cesare, declarou durante entrevista ao jornal A Tribuna, ao falecido jornalista Francisco de Azevedo na época editor do Porto & Mar, o seguinte:

 

“Para o futuro, acho que a sorte do transatlântico de luxo não se modificará. Se modificar, será para que os navios deste tipo sejam superiores aos de hoje.

 

Com efeito, tendo todos os requisitos de modernismo, conforto, segurança e  luxo, mantendo as três classes, esses transatlânticos são e serão cada vez mais um sedutor convite às viagens.

 

 

O simpático Montrey da MSC Cruises, sendo acompanhado pela lancha da praticagem, na época, toda pintada de vermelho, bem mais simpática do

que a utilizada atualmente, vermelho e branco. – 1996. Foto: J. C. Rossini

 

Nem se lhes queira opor o avião, pois que este meio de transporte será para os apressados, não para os que desejam viajar para fugir de preocupações e descansar.

 

Entretanto, por mais que viaje por via aérea, haverá sempre passageiros para os transatlânticos, como para todos os meios de transportes do homem.

 

Hoje se viaja muito mais do que antes da última guerra, e o fato é auspicioso, não só para comprovar o que disse, como também para levar os povos a uma aproximação cada vez maior e em favor da paz mundial”.

 

Para que entendamos melhor aquela preocupação, é bom explicar que após o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a aviação comercial começou a se expandir. Muitas fábricas deixaram de produzir aviões militares, por razões óbvias, concentrando suas produções para aviação civil, principalmente pelo surgimento de novas companhias aéreas no cenário internacional. Os aviões se tornaram mais seguros e atraentes para os passageiros, especialmente pela velocidade superior, que reduzia o tempo das viagens em relação aos navios.

 

O Rembrandt, ex-Rotterdam, foi um dos transatlânticos que sobreviveram

à era dos aviões. Aqui visto em Santos, na temporada de 1998. Foto: L. J. Giraud

 

Na década de 1950, o número de passageiros transportado por avião crescia ano a ano, até que em 1957 o avião transportou mais viajantes do que os transatlânticos nas linhas do Atlântico Norte. O demonstrativo abaixo, mostra claramente como a procura pelas viagens aéreas avançava a passos largos:

 

 

 

Essa terrível situação para o mundo marítimo, em particular para as armadoras que possuíam transatlânticos, fez com que vários navios saíssem das suas rotas comerciais, enquanto outros, cujos proprietários não agüentaram a crise, foram para o desmanche antes do tempo.

 

Belíssima fotografia do cruzeiro Rhapsody, clicada por Nelson de

Barros Pereira, em Rhodes, 2000. O transatlântico participou de

algumas temporadas no Brasil, onde deixou ótima impressão aos

seus participantes.

 

Era necessário encontrar uma solução urgente para essa terrível situação que além de grandes prejuízos financeiros causados às companhias de navegação, traziam também o desemprego em massa das tripulações e do pessoal em terra.

 

Felizmente foi encontrada uma solução, ou seja, a da utilização dos navios em viagens de cruzeiros marítimos, a exemplo do que já ocorria na época do rigoroso inverno do Atlântico Norte, onde os grandes navios de passageiros eram remanejados para essas atividades, em locais de temperaturas mais elevadas, como o Caribe e América do Sul. Evitando assim, grande perda financeira para seus proprietários.

 

O Enrico Costa, ex-Provence / Enrico C / Simphony, gozou de grande

prestígio tanto como navio de passageiros e de turismo. – Década de 1990.

Foto: Edson Lucas

 

Navios famosos participaram desses cruzeiros, que ainda são lembrados até os dias de hoje, como o germânico Bremen (1929), o holandês Nieuw Amsterdam, o sueco Gripsholm (1929), o francês Normandie (1938), que foi o navio mais glamouroso de todos os tempos. Esses transatlânticos, com exceção do Normandie, passaram por Santos. Já o Normandie, veio para o carnaval carioca de 1938.

 

Diga-se de passagem, um dos cruzeiristas era um grande produtor de Hollywood, e durante uma visita ao Cassino da Urca, assistiu a um show onde a protagonista era a famosa cantora Carmem Miranda, que o encantou com sua apresentação, que prontamente fez um convite para nossa pequena notável fosse fazer carreira nos Estados Unidos. E assim, aconteceu o que todos já sabemos, ou seja, foi uma artista de muito sucesso na terra do Tio Sam, onde participou de inúmeros filmes musicais.

 

O Mellody, ex-Oceanic, entrando no Porto de Santos na temporada

de 2006/2007. Foto: L. J. Giraud

 

Mesmo diante da temerosa situação que assolava os transatlânticos, uma boa parte chegou até a década de 1960, como exemplo o United States, o Rotterdam (Rembrandt), o France (Norway) e o Queen Mary, que hoje é centro de convenções e hotel com 360 luxuosos apartamentos na cidade de Long Beach – Califórnia..

 

Na rota sul-americana alguns chegaram aos anos 70 como navio de passageiros, entre eles, os italianos Augustus, Giulio Cesare, Cristoforo Colombo, os espanhóis Cabo San Vicente, Cabo San Roque e Eugenio C., que passou a ser o conhecido Eugenio Costa.

 

O folder de escalas de viagens dos navios 

de passageiros Federico C e Provence

entre agosto de 1965 e junho de 1966.

Foram dois navios sobreviventes, que

navegaram com os nomes de SeaBreeze

e Enrico Costa. Acervo: L. J. Giraud

 

Vale recordar que os transatlânticos sobreviventes passaram por grandes reformas, tiveram seus espaços remodelados, como aumento do espaço dos salões de festas e receberam todos os aparatos necessários aos navios de lazer.

 

O artigo vai retornar ao passado, para que possamos rever alguns navios de passageiros modificados para cruzeiros e que foram participantes de temporadas passadas na costa brasileira.

 

A Cidade de Santos ficou um bom período vendo poucos navios de cruzeiros, até a chegada da década de 1990, quando esse ramo do turismo começou a incrementar, chegando até na última temporada. - a maior de todos os tempos no Brasil.

  

Veja outras imagens:


O Eugenio Costa é um dos navios mais lembrados das temporadas dos

cruzeiros marítimos. Antes, ele era o Eugenio C,  sobreviveu aos aviões, e

navegou por nossas águas de 1966 a 1996. Foto: Antonio Giacomelli


O cartão-postal do SeaBreeze, que anteriormente foi o Federico C

de 1958, fez temporada de cruzeiros no Brasil nos anos 80. Foi navio de

passageiros na linha Europa – Brasil – Argentina. Uma curiosidade, é

que nunca recebeu o sobrenome Costa. O transatlântico naufragou

em 2000. Obs: o navio teve a superestrutura aumentada para receber

um maior salão de festas. Acervo: L. J. Giraud

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s
Deixe sua opinião! Comente!