O Lloyd Brasileiro foi uma das maiores armadoras do mundo e a maior da América Latina. Tinha linhas marítimas para os quatro cantos do planeta. Santos era o porto que recebia a maior parte das cargas angariadas. Vale lembrar que o Lloyd Brasileiro foi fundado em 1890 e acabou extinto em 1997 por diversas razões que aqui não serão relevadas, mostrando somente seu apogeu, que foi nos anos 70, na época do milagre brasileiro. Para que o leitor tenha uma idéia, vamos voltar ao passado, mais precisamente no início da década de 1970.
A Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, que
foi uma das maiores do mundo, levava a bandeira
brasileira para várias nações. A ilustração acima,
com as bandeiras do Brasil e do Lloyd, foi usada na
capa do livro Bandeiras nos Oceanos – A História
do Lloyd Brasileiro (volumes I e II), de autoria
de José Carlos Rossini.
No dia 30 de julho de 1973, o Lloyd Brasileiro ocupava um quarto da capacidade do Porto de Santos, com 12 navios em operação simultânea de carga e descarga. A Nautilus, agência marítima que representava o Lloyd na Cidade, tinha ainda, sob sua responsabilidade, mais um barco, o Docemonte, descarregando 19 mil toneladas de trigo. Os 12 navios do Lloyd, reunidos no porto, representavam a quinta parte da sua frota.
Lloydbras
Entre as embarcações estava o SD-14 Lloydbras, descarregando 16 mil toneladas de vários produtos e carregando 14 mil toneladas de manufaturados, congelados e café.
O Lloydbras foi completado em julho de 1973, fazia
a linha Buenos Aires – Santos – Rio de Janeiro e portos
do Mediterrâneo. Foto: J. C. Rossini
O Lloydbras, que atracou no dia 29/07/1973, era a mais nova embarcação do Lloyd Brasileiro. Foi entregue pelos Estaleiros Mauá, dia 16 julho de 1973, no Rio de Janeiro, de onde seguiu para Buenos Aires, em lastro, a fim de receber carregamento destinado ao Mediterrâneo. Chegou a Santos para carregar 47.222 sacas de café (3.473 toneladas, enviadas pelo IBC e vários exportadores para Trieste, Oran e Bejaia), além de castanhas, amendoim, rolamentos, fios de algodão, pó de ferro, óleo de limão, extrato de fígado, produtos químicos e miúdos bovinos.
O novo cargueiro do Lloyd foi projetado para operar economicamente em áreas de litoral recortado e em portos de pequeno calado. Foi o primeiro de uma série de cinco SD-14 encomendados pela empresa e, de acordo com seu projeto, destinado a transportar cargas mistas, como madeira, borracha e peças. Tinha uma velocidade de 15 nós, operando com motor de 8.400 BHP. Media 140,97 metros de comprimento e 8,84 de calado, quando carregado, e porte bruto de 14.700 toneladas. Em seus cinco porões e três cobertas tinha capacidade de carga para 21.480 metros cúbicos. A capacidade de lastro era de 3.400 toneladas e podia receber 1.340 toneladas de óleo pesado e 120 toneladas de óleo diesel.
O Itaité, último navio da série Ita Liners a ser utilizado pelo Lloyd Brasileiro.
Aquarela de Julio Augusto Rocha Paes. - Acervo: L. J. Giraud
Para movimentação de cargas, o Lloydbras tinha 10 paus-de-carga para cinco toneladas cada. 10 guinchos para três toneladas cada, um molinete para seis toneladas e um cabrestante para cinco toneladas (à ré). Sua praça de máquinas estava localizada a três quartos do comprimento à ré, havendo quatro porões avante e um na parte traseira. O porão 3, de menores dimensões, podia servir, também, como tanque profundo de lastro, a fim de assegurar o compasso e a estabilidade conveniente em todas as condições de carregamento.
O Itapagé foi um dos cinco navios da série que foram reformados para
aumento de sua capacidade (jumborizados), para utilização com o
full-container. Isso ocorreu entre 1981 e 1982. Foto: J. C. Rossini
O navio era considerado dentro das condições brasileira, ideal para carga geral, granéis, contêineres e pallets, e dispunha ainda de quatro tanques para óleos vegetais.
Além do Lloydbras, em sua escala inaugural em Santos, estavam atracados outros 11 navios do Lloyd, entre embarcações próprias e afretadas: Itapura, descarregando 4.368 toneladas e carregando 1.800 para a costa leste dos Estados Unidos, no cais do Armazém 20; Itagiba, no Armazém 35, descarregando 4.819 toneladas e carregando 300, em primeira escala, para o Golfo do México; o Skopelos, afretado, descarregando 1.016 toneladas e embarcando 855 de carga frigorificada para o Mediterrâneo; o Ulsnis, também afretado, descarregando 1.097 toneladas e embarcando 1.600 para a África Ocidental, no cais do Armazém 11; Alkman, não próprio, descarregando 1.662 toneladas; Itanagé, um dos “liners” do Lloyd, carregando 3.300 toneladas para o norte da Europa, no cais do Armazém 31; Barroso Pereira, desembarcando 516 toneladas; Almirante Graça Aranha, recebendo 630 toneladas para a Inglaterra; Cabo Frio, recebendo 950 toneladas para portos americanos do Pacífico; Itaquatiá, embarcando 1.100 toneladas para o Golfo do México; e o Guanabara, que veio a Santos para descarregar 2.605 toneladas, na sua última viagem a este porto.
No final de 1970, a frota da armadora era composta por 31 navios,
com menos de 11 anos de idade. A série Ita, composta de 12 navios,
entrou em serviço entre 1971 e 1972. O total de navios da série Ita,
que homenageava os velhos Itas da Companhia Nacional de Navegação
Costeira. Foto: J. C. Rossini
Vale lembrar que o Lloyd Brasileiro afretava navios de outras nações para dar cobertura ao seu elenco como: Dittie Skou, Dorte Skou, Cape Canaveral, Edinburgh Clipper, Turtle Bay, Érika Schulte, Auguste Schulte, Maritime Carrier, Mangan, Sea Challenger, Golden Madonna, entre muitos outros. Foi uma pena o Lloyd Brasileiro não estar na atualidade entre as maiores empresas de navegação do mundo. Tinha tudo para dar certo, como credibilidade junto aos importadores e exportadores, obrigatoriedade de bandeira (certos equipamentos importados para fins de isenção de impostos eram obrigados a utilizarem navios nacionais), navios modernos e tripulação bem preparada. Com certeza o grande erro do Lloyd foram seus administradores.
O Lloyd Antuérpia deslocava 9.111 toneladas. Foi completado em
março de 1975, foi vendido em 1983, após prestar bons serviços ao
Lloyd Brasileiro. Foto: J. C. Rossini
Este artigo que mostra um dia de trabalho do Lloyd Brasileiro, nos anos 70 em Santos, e é uma homenagem à maior armadora brasileira do passado.
Fonte: Bandeiras nos Oceanos (A História do Lloyd Brasileiro 1890 - 1997),. Vol. 2 de José Carlos Rossini e Arquivo do Jornal A Tribuna de Santos. Seção Porto & Mar.