Sábado, 20 Abril 2024

"Brasil está na contramão do mundo, afirma presidente da Fiesp", informa-se. Só não inverto os termos porque dona Dilma ainda não se pronunciou. Então, teríamos talvez "Fiesp está na contramão do mundo, afirma presidente do Brasil".

A questão, assim posta, mostra o quanto de política está embutido nessas declarações. Nem precisaria ir muito longe, ao ver o braço social da indústria, no sistema S (Senac/Senai/Senat...) em campanha aberta, só num momento seguinte transferida para as declarações partidárias.

Critica o empresário a política oficial de juros altos, em comparação com o "resto do mundo". Um primeiro caminho de resposta seria verificar se o Brasil tem uma situação diferente à dos demais países. E então veremos que, tirando todos os impostos embutidos e o efeito inflacionário, há uma voracidade empresarial (com as famosas exceções de praxe) que não se contenta com lucros moderados como em outras nações importantes. Aguardamos, por exemplo, uma resposta para a questão do carro brasileiro custar no México, mesmo com frete até lá, muito menos que no Brasil.

Resultado: produz-se menos porque o mercado consumidor é autorrestringido pelos altos preços. Compramos menos porque o salário não dá, compramos importados porque os nacionais têm preço alto, e a bola de neve da escala de produção se inverte, reduzindo as vendas.

Imagem: http://mi-stiforp.jimdo.com

Empresariado nacional deve ver em que direção o mundo gira...

O mesmo empresariado que conquistou reduções nas contas de energia elétrica dos brasileiros exige compensação para a redução nos lucros das distribuidoras de energia (e lá vem conta para pagarmos), e não pressiona para que os governadores não avancem na cobrança dos impostos estaduais sobre a energia e permitam ao consumidor usufruir dessa redução tarifária. Os empresários também poderiam pressionar mais os bancos para que moderem seus lucros e não espoliem os clientes. Só estas duas pressões significariam muito mais que os 3,75% de acréscimo na taxa Selic.

Os empresários poderiam buscar com mais afinco melhores práticas de gerenciamento empresarial, que reduzam desperdícios na produção, no armazenamento, no transporte (até que ponto as decisões seguem critérios técnicos ou são influenciadas por parentescos e interesses bem específicos?).

Os empresários poderiam, enfim, sair do jardim da infância e assumirem o pleno significado da palavra empresariar. Ou será empresário aquele que, para construir uma ferrovia, toma empréstimo oficial pelo valor total do empreendimento, exige garantia total do governo de que a ferrovia vai operar na sua máxima capacidade durante décadas, exige seguros de todo tipo e não se satisfaz nem com lucro garantido e risco zero? Sem falar nos adiantamentos, nas combinações espúrias para participar de licitações com sobrepreços e tantos truques mais?

Nas economias avançadas, com que a Fiesp baseia suas comparações, o empresário investe fortemente na pesquisa, em parcerias com as universidades; investe na cultura, sem depender de Lei Rouanet e quetais; investe nos funcionários, tratando-os como capital humano e intelectual (fundamental à própria sobrevivência da empresa) e não como algo descartável. E pensa muitas vezes antes de arriscar certas práticas ilegais e imorais (não que não as pratique, procuram-se santos neste setor).

Numa das maiores economias do mundo, já não cabe mais tanto amadorismo. Que o governo tem seus pecados, nenhuma dúvida, e não são poucos. Mas o empresariado deveria lembrar também de seus telhados de vidro, colaborando efetivamente (e não apenas com truques de balanço) para o fortalecimento da economia e da cultura deste Brasil...

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