Há quinhentas semanas, completadas nesta coluna, escrevo neste espaço, sobre o mundo dos transportes, da logística, do comércio exterior. São quase dez anos, aos quais se poderiam somar outros 25 de jornalismo especializado. Muito já foi dito e mostrado aqui, muito pouco foi feito, e se o Brasil cresceu nestes anos todos, decerto não foi em função da infraestrutura de transportes e armazenagem.
Nestes dias que antecedem o início de mais uma Copa do Mundo, desta vez jogada "em casa" – o Brasil em chuteiras se preocupa com a greve dos metroviários, a falta de ônibus, o congestionamento viário no acesso aos estádios (digo, "arenas"...), e descobre que, apesar de mais de sete anos de prazo para resolver isso, quase nada foi feito para garantir esses acessos. Mesmo com o mundo vendo e criticando, a melhor solução encontrada pelas atarantadas autoridades foi decretar "feriados" – cada jogo da Copa equiparado ao Dia da Independência...
Uma denúncia que merecia uma resposta, num país sério...
O que os torcedores vêm é apenas a pontinha do famoso iceberg que vem afundando o Titanic da economia nacional – ela mesma comparável em arrogância aos construtores do sinistrado navio.
Somos uma das primeiras economias do mundo, mas à custa do sangramento de divisas, de todas as formas possíveis – principalmente as da corrupção ativa e passiva -, com a conta sendo despejada em catadupas nas costas do trabalhador brasileiro, na forma de impostos diretos e indiretos.
Sim, as empresas também sofrem com essa conta, mas tratam de repassá-la de alguma forma aos clientes/consumidores (e são muitas as formas de fazer isso). Um exemplo disso é um vídeo que vem sendo divulgado na Internet, mostrando que um carro brasileiro pode ser comprado no México por um terço do valor cobrado na concessionária da esquina. Mesmo embutindo frete marítimo e impostos de importação no outro país. Mesmo entendendo que os impostos nacionais não são exportados, apenas a eliminação da carga tributária não explica a redução no preço final. Fica evidente que há muitos "incentivos" à exportação (pagos por nós brasileiros) que não são dados à produção local.
Por muito menos, denunciou-se por dumping países que exportam por menos que o custo de produção. Mas o problema aqui é inverso: o carro brasileiro chega ao mercado externo pelo preço normal, aqui é que está sendo superfaturado. A cada dois carros que compramos, pagamos por três, sem falar nos ganhos do sistema bancário com aquele juro quase zero que só existe se a pessoa financia a compra... Inocentes que somos...
Mas, comecei falando dos acessos aos locais dos jogos. Os torcedores terão uma amostra bem leve do que as cargas estão enfrentando para chegar aos portos, por conta do caos logístico de há muito instalado no País. Agora mesmo, chega a notícia dos problemas em Barcarena, lugar deste país que talvez muitos nem tenham ideia de onde fica. Aliás, nem as autoridades dos Transportes, a julgar pela forma como a operação toda está sendo feita.
Algo parecido aconteceu recentemente no porto de Santos, com os caminhões entupindo as estradas de acesso e o caos viário paralisando as cidades próximas. Até que uma medida simples preconizada e bastante cobrada nestas colunas – o agendamento da chegada dos veículos – fosse enfim implementada, e quase que a contragosto pelos que deviam ser os primeiros a pensar nela.
Sem um centavo de investimento formal, apenas aproveitando-se os recursos existentes com um pouco de inteligência, amenizou-se bastante o que parecia um problema absurdo de tão grande.
Aliás, problema gerado pela mesma imprevidência cujos resultados vemos agora na logística da Copa. Pagamos muito mais caro que outros povos (e não só via impostos) pela grandeza de nosso país, e continuamos vendo esse dinheiro escorrendo pelo ralo... mas o que importa é obedecer às ordens da Fifa, não é mesmo?