Dito isto, cabem duas perguntas: por quê o Brasil não consegue produzir trigo que baste para as necessidades internas, se o preço é atraente, a demanda constante e todo ano,há muitas décadas, importamos tão grande volume, seja da Argentina, seja da América do Norte?
E a segunda pergunta é: se a bancada ruralista consegue derrubar Código Florestal e impor sua vontade no Congresso, por quê não usa essa mesma força para levar os governos a fazerem sua parte no processo póscolheita – armazenagem, transporte, entrega no destino?
Foto: http://www.f5news.com.br/ - Agência Brasil
Tudo se produz. Mas quase nada se transporta
Como pode o Brasil – que impllantou séculos atrás as então mais modernas ou pioneiras estradas de ferro ou de rodagem na América do Sul - conviver há tantos anos com estradas de rodagem interrompidas por chuvas e lama durante meses seguidos e quase intransitáveis no resto do ano? E aceitar que alguns poucos controlem quase toda a rede ferroviária nacional, praticando operações casadas de comércio e transporte por trem, num país que sempre exigiu diversidade no controle dos portos, com opções públicas e particulares?
Que artifícios são usados para justificar, aos acionistas das empresas, que anos a fio se jogue no lixo até 40% de toda a produção agrícola, apenas por falta de infraestrutura de armazenagem e transporte?
Por quê o agronegócio, que espalhou o sistema cooperativista pelo país nas atividades rurais, não consegue formar um sistema conjunto para gestão de transporte das safras, que represente benefícios para toda a categoria e possa, até mesmo, assumir a manutenção dos custos das estradas sde rodagem ou promover competição e qualidade no setor ferroviário?
Mais ainda: existem muitas possibilidades de se agregar serviços (e valor) aos produtos que saem das fazendas, seja com pré-industrializaçãoo e beneficiamento, seja até mesmo fazendo com que saiam do meio rural produtos já industrializados e prontos para consumo? Precisa o Brasil apenas exportar matérias-primas, por um milésimo do valor que paga pelos produtos finais delas resultantes, deixando essa diferença de ganhos no estrangeiro?
Os agricultores notam que, mesmo com todos os percalços, aos trancos e barrancos, os estádios (perdão: arenas…) estão sendo finalizados para a Copa do Mundo, (como o torcedor chegará até eles, é outra história), enquanto que problemas muito mais antigos com nossas estradas não avançam um milímetro no caminho da solução.
Talvez falte esclarecer que no Brasil, quando ouve a palavra "campo", a primeira ideia que o brasileiro associa é: … de futebol. Isso explica tudo.