Quinta, 28 Março 2024
Há 514 anos, Pero Vaz de Caminha, o escrivão da esquadra de Cabral, elogiava a nova e maravilhosa terra onde em se plantando, tudo dá. E de fato, não há notícia de algum produto agrícola que, com ou sem algum cuidado especial, não se reproduza em terras brasileiras. Até as uvasprodutoras do apreciado vinho, originárias de climas frios, produzem colheitas espetaculares em pleno  sertão nordestino. E o café, vindo das quentes terras árabes, se entendeu muito bem com o clima tropical paulista.

Dito isto, cabem duas perguntas: por quê o Brasil não consegue produzir trigo que baste para as necessidades internas, se o preço é atraente, a demanda constante e todo ano,há muitas décadas, importamos tão grande volume, seja da Argentina, seja da América do Norte?

E a segunda pergunta é: se a bancada ruralista consegue derrubar Código Florestal e impor sua vontade no Congresso, por quê não usa essa mesma força para levar os governos a fazerem sua parte no processo póscolheita – armazenagem, transporte, entrega no destino?

Foto: http://www.f5news.com.br/ - Agência Brasil

Tudo se produz. Mas quase nada se transporta

Como pode o Brasil – que impllantou séculos atrás as então mais modernas ou pioneiras estradas de ferro ou de rodagem na América do Sul - conviver há tantos anos com estradas de rodagem interrompidas por chuvas e lama durante meses seguidos e quase intransitáveis no resto do ano? E aceitar que alguns poucos controlem quase toda a rede ferroviária nacional, praticando operações casadas de comércio e transporte por trem, num país que sempre exigiu diversidade no controle dos portos, com opções públicas e particulares?

Que artifícios são usados para justificar, aos acionistas das empresas, que anos a fio se jogue no lixo até 40% de toda a produção agrícola, apenas por falta de infraestrutura de armazenagem e transporte?

Por quê o agronegócio, que espalhou o sistema cooperativista pelo país nas atividades rurais, não consegue formar um sistema conjunto para gestão de transporte das safras, que represente benefícios para toda a categoria e possa, até mesmo, assumir a manutenção dos custos das estradas sde rodagem ou promover competição e qualidade no setor  ferroviário?

Mais ainda: existem muitas possibilidades de se agregar serviços (e valor) aos produtos que saem das fazendas, seja com pré-industrializaçãoo e beneficiamento, seja até mesmo fazendo com que saiam do meio rural produtos já industrializados e prontos para consumo? Precisa o Brasil apenas exportar matérias-primas, por um milésimo do valor que paga pelos produtos finais delas resultantes, deixando essa diferença de ganhos no estrangeiro?

Os agricultores notam que, mesmo com todos os percalços, aos trancos e barrancos, os estádios (perdão: arenas…)  estão sendo finalizados para  a Copa do Mundo, (como o torcedor chegará até eles, é outra história), enquanto que problemas muito mais antigos com nossas estradas não avançam um milímetro no caminho da solução.

Talvez falte esclarecer que no Brasil, quando ouve a palavra "campo", a primeira ideia que o brasileiro associa é: … de futebol. Isso explica tudo. 

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