Terça, 19 Março 2024

Para que uma carga chegue ao navio, é preciso haver antes uma intensa negociação entre compradores e vendedores. Para equilibrar seus fluxos comerciais e interesses políticos, os países promovem acordos comerciais que criam preferências, facilidades e vantagens para os parceiros, em desfavor dos demais. Os países também podem estabelecer restrições e cotas, proibir importações, criar sobretaxas etc. Para regular tudo isso, foi criado em 1948 o Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que em janeiro de 1995 deu origem à Organização Mundial do Comércio (OMC), com o Acordo de Marrakech. É à OMC que os países recorrem, quando precisam denunciar práticas desleais como o 'dumping', os subsídios demasiados. Porém, como os interesses em jogo são enormes, pouco se tem avançado: a rodada de negociações de Doha, de 2001, está até hoje emperrada.

Imagem: http://www.embassyofindonesia.org

Bali é um paraíso, mas os debates que serão travados ali nos próximos dias serão bem difíceis

Agora, sob a presidência de um brasileiro, Roberto Azevêdo, será realizada em dezembro a rodada de Bali, na Indonésia. Isto é, se não tiver sido cancelada: esta coluna foi escrita enquanto a OMC tentava em Genebra costurar um acordo, sem o qual a reunião poderia ser cancelada, e na manhã deste dia 25 já se anunciava um fracasso nessa tentativa.

A estratégia para fazer as negociações avançarem é retirar da pauta os assuntos mais difíceis, como a questão dos subsídios agrícolas. Para os analistas, nem assim existe a perspectiva de um acordo entre as 159 nações-membros (ou 160, com a entrada do Iêmen no fim deste ano), e tal impasse pode até mesmo apressar o fim dessa organização.

A questão é que, com a paralisia na OMC e especialmente desde a crise econômica internacional de 2008, que reduziu fortemente o comércio entre as nações, estas adotaram novas estratégicas e prioridades, como os acordos bilaterais, a criação de áreas de livre-comércio e blocos econômicos. Assim, as regras globais de comércio vão perdendo força no relacionamento internacional, e um fracasso em Bali pode ser fatal para a manutenção de um sistema unificado de normas no planeta.

Foto: http://www.embassyofindonesia.org

Bali: fundo paradisíaco para uma negociação infernal...

Os Estados Unidos, por exemplo, atacam em duas frentes: tentam estabelecer um superacordo com a União Europeia, e ao mesmo tempo negociam a Parceria Transpacífica, reunindo de Chile a Cingapura, de México a Brunei. A China e a Índia reforçam seus laços comerciais com a Asean. A Europa vê a Ásia como prioridade.

Repare o leitor que o Brasil não está em nenhum desses grupos. E a razão é que, dos quase 600 tratados concluídos (200 ainda não colocados em execução) nos últimos anos, o Brasil figura em bem poucos (em duas décadas, definiu apenas três acordos bilaterais), e só agora tenta recuperar o atraso e quase isolamento. A aposta no Mercosul fracassou até agora, por falta de... disposição real para negociar!

Embora as autoridades brasileiras tenham acordado para essa realidade, e corram para recuperar o atraso, o fato é que os competidores avançaram bastante nesse processo de formação de parcerias, o que dificulta ainda mais ao exportador brasileiro colocar a sua carga a bordo dos navios.

Como se já não bastassem todos os componentes do famoso Custo Brasil – impostos, caos logístico, desperdício por falhas de gerenciamento de processos, corrupção, cartorialismo...

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