Algo está profundamente errado lá pelos lados de Brasília. Só na construção de uma ferrovia, entre Açailândia (Maranhão) e Vila do Conde (Pará), o governo estima investir R$ 3,1 bilhões, e isso já considerando que nos negócios governamentais um tijolo sai pelo preço de uma casa. Mas os empresários querem mais, batem o pé e exigem no mínimo R$ 4,5 bilhões. E o governo, sabe-se lá por quê refém do jogo empresarial, está "recalculando" os valores. Vai ter de calcular muito para aumentar os valores em 50% sem dar na vista, com a população mais atenta ao que acontece nos meandros do poder. Afinal, a diferença de valores, só nessa obra, daria para construir umas 150 mil casas populares no Nordeste, mesmo com preços inflacionados... fazer sumir uma cidade inteira dá trabalho...
Em São Paulo, sabemos hoje que as dificuldades para o avanço das obras no metrô tinham uma razão, e a Siemens já avisou que está colaborando com as autoridades nas investigações...
Assim está difícil recolocar os trens nos trilhos...
Foto (trem na Ferrovia Norte-Sul): Edsom Leite/Ministério dos Transportes
Assim não dá para falar a sério, a hipocrisia da elite política e de certos grupos empresariais é tanta que nem com a casa caindo (leia-se: "milhões de pessoas protestando nas ruas") as coisas mudam. Todos continuam falando, falando, como se realmente as contas estivessem sendo feitas em bases realistas e transparentes. Abusam do economês e das siglas para esconder a realidade. TIR, Capex, que maravilhas essas letras fazem para conferir austeridade aos documentos governamentais...
Um dia, perguntarão como o Brasil conseguiu perder mais uma janela de oportunidades, aberta em 2008 quando a crise internacional fez os capitais internacionais migrarem para o Brasil, em busca de algo concreto em que pudessem ser aplicados. Foram recebidos com maracutaias de todo tipo, como as já descobertas nos contratos dos estádios desportivos, dos aeroportos, dos metrôs. Sem falar nas que (ainda) não foram descobertas, apesar dos indícios estranhos.
Parece não haver empresários interessados em agir como empresários (o que inclui enfrentar os riscos dos empreendimentos); teremos de bancar seguro duplo ou triplo (além do seguro normalmente embutido no custo da ferrovia, querem as garantias de lucro futuro pela capacidade máxima de carga, configurando novos pagamentos pelo mesmo evento, como já foi aqui explicado).
Então, já que não há interessados nas obras, e o governo tanto quer ajudar Cuba a qualquer custo, façamos assim: importemos "empresários" de Cuba, remunerados pelo governo cubano com base num contrato com o governo brasileiro, e garantimos casa e alimentação a eles. E eles fazem a ferrovia. Garanto: mesmo com o aval cubano, fica mais barato. E a qualidade será a mesma.
Absurdo? Ora, os empresários cubanos não precisariam de capital para o empreendimento, pois o BNDES garante. Não precisariam de patrimônio, pois o seguro garante. Dispensarim conhecimento especializado, ele será subcontratado mesmo. Não precisariam de projeto, o governo faz – criou até uma estatal para intermediar todos os projetos. Não precisam oferecer garantias de qualidade, ninguém vai cobrar mesmo deles, e se houver qualquer problema, em vez de cobrar que a obra seja refeita sem ônus, o governo manda fazer outra, à custa do povo brasileiro. O eventual empresário cubano só precisa saber assinar os documentos e posar para as fotos ao lado das ilustres autoridades nacionais.
Então, senhora Dilma, topa?