Sábado, 20 Abril 2024

 

Comentei na coluna passada de modo geral sobre os inúmeros custos invisíveis, pelos quais pagamos, todos enfeixados genericamente sob o título de Custo Brasil. São custos derivados de malversação de recursos, mau gerenciamento de projetos, inação, abandono de obras, manutenção insuficiente, burocracia, mil e um buracos por onde escoa a riqueza nacional e a nossa capacidade de competir no mercado internacional.

Quero explorar melhor um desses aspectos. O leitor já parou um instante para pensar em quantas cópias de documentos precisou providenciar, às vezes requeridas pela própria fonte emissora desses documentos? Quanta papelada inútil, em duplicata, triplicata ou mais vias ainda, unicamente para atender alguma exigência que já perdeu sentido?

Cada cópia dessas implica em gasto com tinta de impressão ou tonner de fotocopiadora, ambos importados e caríssimos. Já se fez em algumas oportunidades a comparação do litro de tinta de impressão com o litro de uísque, e nem preciso dizer quem ganhou disparado. Há também o gasto com papel e eletricidade, nada ecológicos, as despesas com equipamentos (fotocopiadoras e impressoras), sem falar na mão de obra, seja ela representada pelo tempo gasto por nós, pelo custo do funcionário da copiadora, ou ambos. Existem ainda custos embutidos de royalties e direitos de uso de marca etc., que podem parecer pouca coisa para uma impressão apenas, mas carreiam enorme quantidade de divisas, na soma de tudo o que é copiado no país.

Desta vez, final feliz. Mas nem sempre...

Além de isso pesar na balança de divisas, no sensível prato das importações, deixa de pesar no outro prato (o das exportações), pois todos esses custos, ao longo de toda a cadeia produtiva, são de alguma forma embutidos no preço final do produto ou serviço que exportamos.

O corolário dessa história é que num mercado internacional em que cada centavo conta no preço de venda, ou nós mantemos preço competitivo, ou não exportamos. Então, para conseguir a venda, que fazem governo e empresários? Cortam despesa. Bravíssimo, se não fosse pelo detalhe: o corte é feito não na fonte do gasto, mas no lugar mais fácil de fazer: corta-se na folha de pagamentos, é o salário de cada trabalhador que sofre o corte para manter esse desperdício colossal.

Uma vez, um governo brasileiro deu um passo na direção certa. Criou o Ministério da Desburocratização. Para acabar com os abusos desse país cartorialista, em que é preciso certidão e carimbo para tudo, resquício dos velhos usos de Portugal colonial. Mas, teve vida curtíssima (de novembro de 1983 a fevereiro de 1986). Em apenas dois anos e meio aquele ministério foi engolido pela burocracia.

 

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