Mais otimismo, impossível. Palavras do arquiteto e urbanista Sérgio Sandler, representante da Consultoria Paulista, contratada para levantar os dados relativos aos problemas existentes em Guarujá e apresentar alternativas de solução: "São pouquíssimos municípios que poderão ter um Aeroporto perto de um Porto, isso pode gerar um enriquecimento gigantesco, abrindo um enorme mercado de trabalho, e como conseqüência o crescimento da economia local".
Infelizmente, nem todo o potencial é realizado, ou realizável. O aeroporto, até então uma base aérea militar, está sendo liberado para usos civis, e teria capacidade para receber aeronaves de médio porte, que poderiam suprir necessidades de toda a Região Metropolitana da Baixada Santista, hoje dependente dos aeroportos de Guarulhos e Congonhas. Ou do campineiro Viracopos. Mas, para que se realize esta possibilidade, é preciso que as cidades se unam em torno desse objetivo. E o problema é que existe um paralisado Campo da Aviação em Praia Grande. E Itanhaém também tem seus planos.
Mesmo resolvidos os entraves políticos, para Guarujá se tornar um aeroporto interessante é preciso haver uma ligação direta com Santos, que não dependa de ferry-boats e catraias. E do nevoeiro dos meses de inverno. Para que não se demore mais chegando ao aeroporto do que na viagem aérea em si.
Falta uma ponte. Ou um túnel, tanto faz, desde que exista. Ligando Santos e Guarujá através do estuário. Sem ter de dar uma volta rodoviária de quase uma hora, usando pelo menos duas rodovias. Mas essa ponte (ou túnel) também depende da vontade política da região. E Guarujá não queria, quando existiu oportunidade concreta, porque isso permitiria aos turistas "farofeiros" invadirem as praias "de elite". Bem, a elite habita agora outras praias, e as favelas também cresceram em Guarujá. 40% dos moradores em Guarujá são favelados. Ou melhor, vivem em "núcleos sem urbanização", como se diz modernamente, para melhor se dourar a pílula.
Proletarização de Guarujá, mesmo sem a ligação através do Estuário. Que o governo federal prometeu, solenemente, iniciar em quatro meses. Em agosto de 1990. Em Santos, num seminário para empresários. Eu ouvi. Foi a manchete do jornal no dia seguinte. Eu não acreditei. Fiz bem.
Guarujá se dividiu em duas, a dos ricos (?) e a dos pobres. Quer agora diminuir a distância entre essas "duas cidades distintas, que na realidade são apenas uma só". Oxalá. Pois já se pensou mesmo, a sério, em dividir Guarujá em dois municípios. Um deles, Vicente de Carvalho, antigo Itapema. Onde fica o porto. E o aeroporto, também...
Porto de Guarujá? Bem, a administradora é uma tal de Companhia Docas. Que foi "de Santos", no tempo em que sua sede era no Rio de Janeiro. Depois, passou a ser "do Estado de São Paulo", com sede em Santos. E comando de Brasília, pois a União é quase o único acionista. A Prefeitura de Santos ainda tem uns zero-vírgula-qualquer-coisa de ações, que lhe foram ofertadas por um cidadão, o suficiente para que ela ao menos tenha o direito de saber o que ocorre dentro do porto instalado em seu território. E Guarujá? Nem isso, salvo engano.
Talvez nem seja importante participar do controle acionário de uma empresa que, "operadora nata" no porto de Santos, nada opera, e como administradora atua talvez nominalmente, já que seus planos mudam com os ventos... políticos. Que sopram em rajadas, de todos os quadrantes. Os recordes na movimentação hoje são obtidos por terminais particulares, com seu próprio esforço, e não como fruto de uma política coordenada de ampliação de mercados.
E esses terminais particulares pertencem a quem? A cidadãos de Guarujá, de Santos, da Baixada Santista, paulistas ao menos? Quem decide se continuarão instalados aqui ou se transferirão para outro porto, que apresente condições mais favoráveis no futuro? Então, Guarujá não tem um porto que possa chamar de seu. A não ser os das catraias, talvez, mas aí fugiríamos do tema principal. Para ter seu porto, Guarujá precisa conquistá-lo. Mostrando ao empresariado quanto vale a Pérola do Atlântico. Até que não vai mal nesse caminho, mas precisa resolver problemas de infra-estrutura que não são tão simples assim, principalmente por não dependerem apenas da esfera municipal.
Depois de 30 anos, Guarujá retoma a discussão de seu Plano Diretor. Muito bom, mas tendo sempre na lembrança que não controla todo o território existente em seu município, e que precisará dialogar muito com as cidades vizinhas, com os governos estadual e federal. Com o empresariado, nacional e estrangeiro. Com a própria comunidade, inclusive. Afinal, "expansão portuária e conflitos com o porto" foram arrolados (no estudo apresentado pelos consultores) entre os "principais conflitos existentes na Cidade"...
Como se vê, o município de Guarujá tem um grande trabalho pela frente, com seu Plano Diretor. Para abrir esse enorme mercado de trabalho, de que sua população tanto necessita. Boa sorte!
Guarujá tem um enorme potencial. O problema é como realizá-lo.