Sábado, 04 Mai 2024

Noticia-se por estes dias que o complexo industrial-portuário de Suape, situado uns 40 km ao Sul de Recife, está desenvolvendo um projeto de inclusão social que de imediato beneficiará 195 pernambucanos com cursos de capacitação profissional para recepcionista, cabeleireiro, auxiliar de serviços gerais, jardineiro e na área de hotelaria.

 

Em todo o mundo, uma nova consciência do papel das empresas em suas comunidades, da necessidade de se estabelecer um novo tipo de relacionamento que não apenas o produtivo-comercial, leva cada vez mais empresas a definirem metas de atuação social, e a descobrirem que ganham mais assim fazendo, pois um balanço social positivo gera boa vontade na comunidade para com as atividades da empresa, até mesmo o desejo da sociedade de que essa empresa progrida para continuar beneficiando a coletividade.

 

Ora, em Santos parece às vezes ocorrer o contrário. O porto, que nunca se abriu propriamente para a(s) cidade(s) que o abriga(m), agindo de costas para a comunidade – embora ultimamente diga o contrário, em suas campanhas, continua mais do que nunca desprezando a coletividade da região, menosprezando até mesmo a inteligência da população e sua capacidade de recordar o que foi dito antes por seus dirigentes.

 

Refiro-me aqui à ciclovia que chegou a ser prometida para construção junto à futura via perimetral do porto. Uma empresa socialmente responsável deveria tomar a iniciativa de promover uma obra assim, em vez da molecagem cometida, de informar que a ciclovia seria incluída para ganhar tempo e tentar apresentar a obra – sem a ciclovia – como fato consumado.

 

Molecagens à parte, o objetivo maior desta reflexão é lembrar que, desde a sua constituição mais de cem anos atrás, a empresa portuária instalou uma série de atividades complementares à sua atuação principal. Marcenaria, carpintaria, oficinas mecânicas e elétricas, entre outros exemplos, são áreas em que a concessionária do porto atuou, pela necessidade de garantir a manutenção de seus equipamentos e até mesmo fabricar peças de reposição, não disponíveis no mercado.

 

Neste sentido, as oficinas da companhia portuária chegaram a adquirir grande renome, por sua alta capacidade de confecção das peças as mais diversas, substituindo até as similares importadas não mais disponíveis nos países de origem.

 

Em certo momento, na década de 80, a Codesp chegou a oferecer o complexo de oficinas para que fosse assumido pelos empregados, de forma terceirizada, dentro de um processo de enxugamento dos quadros funcionais da companhia. Mal apresentada, a proposta foi recusada pelos trabalhadores, e mesmo assim o encolhimento ocorreu na folha de pagamento e as oficinas foram fechadas. Em parte, justificava-se essa redução nas atividades, pois a cidade havia crescido e já tinha condição de oferecer de forma competitiva boa parte dos produtos e serviços realizados nessas oficinas.

 

Com aposentadorias e afastamentos, perdeu-se decerto boa parte do cabedal de conhecimentos dos afamados artífices da companhia docas. As oficinas foram sendo desmanteladas, talvez nem a Codesp saiba mais o que resta desse patrimônio e em que condições está.

 

A idéia é: teria a Codesp condição de reativar essas oficinas, voltar a reunir os artífices num projeto parecido com o Vovô Sabe-Tudo da Prefeitura santista, abrindo esses espaços para cursos profissionalizantes, que permitiriam a inclusão social de um contingente ainda grande de analfabetos funcionais, ou de pessoas que simplesmente não tiveram até agora a oportunidade de aprender uma profissão? Formar talvez uma incubadora de empresas prestadoras de serviços (com qualidade) de marcenaria, ferragens, eletricidade e outros, sempre necessários em qualquer núcleo humano?

 

Em vez do discurso vão e dos raros passeios de escuna para as pessoas "verem" o porto (sem nele porem os pés...), eis talvez uma oportunidade incomum de uma empresa portuária dar um exemplo de vinculação à comunidade onde atua, promovendo a inclusão social. Para os políticos que dirigem a empresa pensando nos votos, uma chance rara de se promoverem (já que essa é a linguagem que eles entendem...). Para a empresa, ainda, uma oportunidade de revitalizar áreas hoje sub-aproveitadas e dar uma destinação melhor a essas instalações. E de fazer sua lição de casa em termos de balanço social. Mesmo sem a prometida ciclovia, que fica devendo à população e aos seus próprios trabalhadores.

 

Oficinas da Codesp já tiveram renome e poderiam

abrigar um importante projeto de inclusão social

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