Domingo, 28 Abril 2024

Em 2005, o principal porto brasileiro de carga geral (Santos) movimentou "uns" 1,5 milhão de conteineres ou pouco menos de 2,2 milhões de TEU. Imprecisão bem característica do Brasil, aliás, onde mesmo num porto que se quer moderno as informações confessadamente demoram "uns" 50 dias para transitar por dentro do próprio complexo portuário. Mas, esta é uma conversa que vamos ter em outra oportunidade.

 

Estes dados de movimentação de cargas são citados para permitir um rápido confronto entre o centenário porto santista e o novíssimo porto chinês de Yangshan. No país amarelo, o complexo portuário de contêineres inaugurado no dia 10 de dezembro em região próxima ao centro financeiro de Xangai começa com a previsão de movimentar, já no primeiro ano, 2,2 milhões de TEUs – o mesmo que Santos – tornando-o de pronto o principal porto chinês para carga conteinerizada.

 

Isso, usando apenas os cinco terminais ora inaugurados, com 1.600 metros de cais e 1,53 km² de área ocupada. Pois em 2020, quando estiver concluído, será também o maior porto do planeta em movimentação de mercadorias, com capacidade anual superior a 13,4 milhões de TEU. Já no fim do próximo ano, praticamente dobrará de capacidade, com a inauguração de mais quatro atracadouros. Em 2012, deverão estar em funcionamento 30 atracadouros, e outros 22 serão inaugurados até 2020, quando se espera a conclusão dos atuais projetos.

 

Denominado Centro Internacional de Navios de Águas Profundas de Yangshan, esse porto dista cerca de 30 quilômetros da metrópole de Xangai, situando-se ao Norte da baía de Hangzhou, próximo à desembocadura do rio Yangtsé, um dos mais movimentados do mundo.

 

Repare no nome: ...navios de águas "profundas". Outro ponto de vantagem sobre Santos, pois o porto chinês está em local com 15,5 metros de calado (profundidade do lençol d'água), permitindo receber cargueiros "super-panamax" com mais de oito mil contêineres. Enquanto isso, Santos sequer consegue manter a profundidade nominal, por conta dos desentendimentos quanto aos serviços de dragagem de manutenção.

 

O novo porto está ligado a Xangai por uma estrada com seis pistas e 27,5 quilômetros de comprimento. Santos, em comparação, digamos assim que está ligado a São Paulo por duas estradas que já agora apresentam problemas importantes, tanto nos acessos como em relação aos congestionamentos reportados e a um certo conflito entre veículos de carga e automóveis para passageiros. Decerto, ou se cria novas soluções ou teremos adiante um gargalo cada vez mais apertado para a movimentação de cargas.

 

Mas, até agora comparamos o complexo portuário santista apenas com o novo porto chinês. Não podemos esquecer, entretanto, que ele integra o complexo portuário de Xangai, que já em 2004 movimentava anualmente 14,55 milhões de contêineres, sendo o terceiro porto de contêineres mais ativo do mundo, superado apenas por Hong-Kong (que não deixa de ser China... e movimentou 21,9 milhões de TEUs em 2004) e Cingapura (uma cidade-estado asiática, em território de apenas 648 km²... que em 2004 registrou a marca de 21,3 milhões de TEUs movimentados).

 

Ah, mas Santos não movimenta só contêineres, tem granéis líquidos e gasosos, fertilizantes, açúcar, tantos outros produtos... Em 2005, "deve" ter movimentado "uns" 75 milhões de toneladas (incluindo os contêineres) – ah, a eficiência na elaboração de nossas estatísticas!... -, com um crescimento de quase 6% em relação a 2004. Mantida essa média de crescimento, e usando matemática pura, sem considerar limitações e problemas de espécie alguma, lá por 2033 Santos conseguiria igualar a tonelagem movimentada por Xangai em 2004 (quando registrou 370 milhões de toneladas, segunda maior marca do mundo).

 

Só para humilhar, os amarelos sorriem ao exibir a média anual de crescimento de Xangai: 29% ao ano, nos últimos três anos... aceleração devida à explosiva demanda por exportações chinesas. Tudo isso mesmo com a limitação de calado, já que a profundidade do rio, de uns 8 metros, impede o recebimento de navios maiores. Problema resolvido com Yangshan, apto a operar até com a sexta geração de navios-contêineres...

 

E, se a área de Xangai passa por um verdadeiro furacão de projetos desenvolvimentistas, os chineses fazem questão de lembrar que é um ancoradouro seguro, livre do cinturão de tufões naturais que costuma varrer o litoral asiático. Metáfora que alegremente transpõem para o ambiente econômico, dizendo: venham investir na China, sem medo das confusões em que cada vez mais se metem as economias ocidentais...


Inauguração do Porto de Yangshan, na China, em 12/2005
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