Sexta, 27 Dezembro 2024

Na coluna anterior, lembrei da relação entre um antigo álbum de fotografias encontrado em um antiquário santista e uma façanha da aviação italiana, ocorrido em fevereiro de 1927 com a epopeia do hidroavião Santa Maria, que se incendiou nos Estados Unidos menos de 40 dias de sua única passagem por Santos.


Belonave visitante, no estuário do porto santista,
tendo ao fundo a área da Bocaina, em Guarujá

O citado álbum, entretanto, tinha outras fotografias, sendo um grupo delas datado de janeiro de 1931, mostrando uma recepção a marinheiros e oficiais no Hotel La Plage, em Guarujá. A pesquisa sobre essas fotos e sua lacônica legenda permitiu recordar e viver (permita-me a expressão o colega Laire Giraud) outra história dos tempos dos grandes feitos dos pioneiros da aviação. Viver, não apenas no sentido de imaginar a emoção sentida pelos nossos avós com a visita dessas fantásticas máquinas voadoras, mas também no sentido de pensar que Santos, 85 anos atrás, de certa forma, possuía mais recursos de logística do que hoje, pois contava com o modal aéreo, e hoje a Baixada Santista luta para ter um aeroporto local.

As fotos de 1931 são um raro registro ligado a outra história da aviação mundial. Novamente o ditador Mussolini, em sua campanha para mostrar a força do fascismo, promoveu um reide aéreo monumental, com 14 hidroaviões Savoia-Marchetti que saíram da Itália, rumo ao Rio de Janeiro, acompanhados por navios de guerra italianos encarregados de dar apoio marítimo à operação. Depois de várias peripécias, ainda na costa africana, a esquadra atravessou o Atlântico e foi festivamente recepcionada na capital carioca. Impressionado com o feito, o governo brasileiro de Getúlio Vargas, então balançando entre os apoios aos Estados Unidos e ao Eixo Itália-Alemanha, cogitou inclusive a compra dos hidroaviões pelo Brasil.


Reprodução da primeira página do jornal 
Folha da Manhã de 16 de janeiro de 1931

Nessa campanha de divulgação italiana, diversos aviadores e marinheiros estiveram em Santos, com vários dos navios de apoio ao reide aéreo, em 26 de janeiro de 1931: os cruzadores ligeiros Pancaldo, De Noli e Usodinare. Os visitantes foram recepcionados festivamente pelas autoridades locais e pela comunidade ítalo-santista. O que foi possível estabelecer é que várias das fotos daquele álbum de família santista são dessa recepção!

Os visitantes italianos em Santos, reproduções de jornais de janeiro de 1931 e um vídeo da época narrando a epopeia em italiano podem ser acessados em http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0058h4.htm

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