Domingo, 28 Abril 2024

Em vez de buscar soluções em outros países e continentes, para problemas que às vezes nem existem por aqui, nossas autoridades poderiam inverter o processo de pesquisa, fazendo com que as soluções venham até elas.

 

É mais simples do que parece, e a principal vantagem é que serão soluções naturalmente adaptadas ao nosso cenário, pois que oriundas do mesmo ambiente onde são encontrados os problemas. Afinal, são muitas vezes vizinhos, os problemas e suas soluções. Basta procurar.

 

Anos atrás, quando a conteinerização das cargas apenas começava no Brasil, e o primeiro terminal portuário de contêineres (em Santos) acabara de ser inaugurado (1981), surgia no porto baiano de Malhado (Ilhéus) uma solução bem simples e tupiniquim para o içamento dos contêineres, num momento em que eram raros (e caríssimos) os adaptadores conhecidos como spreaders, presos à ponta da lança do guindaste ou da empilhadeira, para encaixe nos cantos (corners) dos cofres-de-carga.

 

A solução não embutia toda a tecnologia necessária para que o mesmo equipamento se adaptasse a contêineres de 20 ou 40 pés e até a comprimentos intermediários/menores. Mas funcionava, agilizando os trabalhos, num tempo em que a alternativa seria movimentar cabos até os pontos de engate, fazer a amarração e rezar para que elas não se partissem com o peso dos contêineres.

 

Um quadro formado com tubos metálicos, de mesmos comprimento e largura de um contêiner de 20 ou 40 pés, e ganchos nas quatro pontas, era preso à lança do equipamento içador. Colocado sobre um contêiner, facilitava os engates pelos operários, agilizando tremendamente a movimentação dessas unidades.

 

Simples assim, facilmente executado em qualquer oficina mecânica, tal equipamento resolveria, na maioria dos terminais de então, a dificuldade representada pela falta de equipamentos de movimentação especializados.

 

E de quem partiu a idéia? Ora, de quem lidava cotidianamente com o problema. Como em outros casos, o proponente da solução teve a oportunidade de analisar o problema em todas as suas facetas, buscando assim soluções eficientes, bem distantes daquelas teorizadas em gabinetes. E sem o risco de ver naufragarem as teorias no momento da aplicação efetiva, já que não eram projetos a serem testados, e sim soluções diretas para os problemas que as demandavam.

 

Soluções economicamente viáveis de aplicar, diferentes das projetadas à distância, muitas vezes maravilhosas mas engavetadas por falta de recursos financeiros para sua implantação.

 

Então, o que se propõe é buscar soluções locais para problemas locais, nacionais e mundiais. Ganhando, nesse processo, a oportunidade de gerar e exportar novos produtos e serviços, genuinamente brasileiros, mas que poderão interessar a outros países com problemas semelhantes. O que significa, em outras palavras, criar e exportar soluções, em vez de apenas acumular despesas com a busca das mesmas em locais distantes, e depois com a importação de produtos e serviços e sua adequação à realidade local.

Agora, falta explicar como descobrir e aproveitar essas idéias sem sair do âmbito portuário local. É simples e veremos como, na próxima coluna.


Uso do spreader na movimentação de
contêineres no cais especializado Delwaidedock
do porto de Antuérpia, em 1998.
Foto: Guido Coolens n.v., Antuérpia

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