Sábado, 27 Abril 2024

O tradicional ditado popular "O seguro morreu de velho" quase foi interpretado literalmente, morrendo o seguro de tão anacrônico que tinha se tornado, em relação às novas necessidades dos empresários dos transportes. Foi quando surgiram os conceitos de multimodalismo, que as empresas seguradoras tentaram tratar como uma soma de modais, e não como uma fusão entre eles.

 

O episódio – ocorrido nas décadas de 80 e 90 – é um bom exemplo de como perder clientes. De fato, muitas empresas buscaram formas de fazer no estrangeiro os seguros multimodais que não conseguiam fazer no Brasil: o modal cuja empresa tivesse sede em outro país (geralmente o marítimo) se encarregaria de providenciar a cobertura para todo o transporte, inclusive a parte terrestre feita no Brasil, entre a origem e o porto (na exportação) ou vice-versa (na importação).

 

Só assim, o mercado segurador brasileiro reagiu, e começou a criar produtos que de fato integrassem as coberturas, sob uma mesma operadora multimodal, evitando as custosas superposições de cobertura e deixando ao responsável pelo transporte o controle sobre as críticas passagens de responsabilidade entre um modal e outro ("quem é o responsável por este painel amassado, o caminhão que entregou ou o navio que recebeu?...)

 

Ao mesmo tempo, começaram a colecionar estatísticas atualizadas sobre os transportes e os índices de acidentes a eles relacionados, para evitar o "chutômetro": ao se conhecer precisamente a média de problemas registrados, pode-se elaborar um produto securitário com valor mais preciso, geralmente menor por não precisar incorporar margem de erro tão ampla.

 

Então, como sabe qualquer motorista de automóvel, quanto menos acionar o seguro, menor será o prêmio a pagar ao renovar o contrato. Isso vale para os transportadores em geral, já que é a estatística de sinistralidade que determina o fator de risco, ao qual está associado o valor do prêmio. Menos acidentes, seguro menor. Seguro menor, menor custo final de transporte, maior competitividade.

 

E onde entra a logística nisso? De várias formas.

·         Na determinação de rotas de transporte com menor incidência de problemas, considerados os modais de forma individual e coletivamente - bem como a mercadoria a ser transportada -, para que não só o seguro, mas o próprio custo geral do transporte, sejam menores.

·         Na definição sobre os veículos transportadores, dentro de cada rota, consideradas as características dos produtos a serem transportados.

·         No aconselhamento sobre embalagens mais adequadas, que reduzam o risco de danos à carga e ao veículo transportador.

·         Na sugestão de formas de estivagem da carga dentro dos contêineres e nos veículos, para que esta não se movimente indevidamente durante o transporte, desestabilizando o veículo transportador (e mesmo danificando-o).

·         Conferindo se viadutos, túneis, pontes etc. possuem dimensões adequadas para que o veículo transportador não fique "entalado".

 

Por fim, sempre é bom recordar: quanto mais seguro o transporte, numa série histórica considerada, menor o custo também do seguro da mercadoria. E, se ele não estiver baixando, é hora de cobrar da seguradora uma revisão nos cálculos, apresentando a série estatística atualizada...

 

E um alerta aos transportadores mais negligentes: seguro mais alto significa lucro menor ou tarifa maior – e esta significa evasão de clientes, atraídos por um concorrente – ou mesmo um outro modal – que consiga oferecer condições mais vantajosas para os clientes.

 

Navio full-container holandês Nedlloyd Neerlandia, atracando

num porto em meados de 1990. Foto: divulgação da armadora

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