Terça, 07 Mai 2024

Razões da Natureza ou interesses econômicos supervenientes podem atrapalhar muito o planejamento logístico, se não forem planejadas sempre uma ou mais rotas alternativas para cada trecho do transporte, ou até mesmo uma outra forma de movimentação da carga que possa ser usada em situações de emergência. Evidente que não é possível prever tudo, mas pode-se pelo menos deixar traçados planos e parâmetros gerais de ação, já que fica sempre mais difícil obter informações e agir sob pressão dos acontecimentos, de uma emergência.

 

A informação (contínua e em tempo real) é importante para o planejador logístico, e pode vir das mais diversas fontes, desde o relato de um caminhoneiro sobre o péssimo estado de uma ponte até o artigo de um jornal que expõe cruamente um problema de administração pública e alerta para uma catástrofe com anos de antecipação, ou as declarações das autoridades e seus planos, que podem envolver desvios de verbas e recursos humanos que seriam destinados aos transportes e à manutenção dos serviços e equipamentos públicos...

 

É bem o caso do que acontece agora nos Estados Unidos: sabia-se há mais de um século que a região de New Orleans poderia ser devastada por um furacão até mais grave que o Katrina, que atingiu aquela área no final de agosto. Sabia-se que era necessário reforçar os diques, de até cinco metros de altura, para conter as águas, em caso de um desastre assim. Sabia-se que as estradas não estavam preparadas para receber o enorme fluxo de veículos saindo às pressas da cidade, após os alertas meteorológicos.

 

O governo dos Estados Unidos sabia (quatro anos antes) de toda a extensão do risco, alertado que fora pela agência federal de gerenciamento de emergências. E o público também fora alertado em 2001, por influentes jornais de Houston e New Orleans, sobre a tragédia que ocorreria, classificada como a segunda ou terceira maior do país, abaixo apenas do ataque terrorista de 11 de setembro em New York e (talvez) dos efeitos de um terremoto no litoral da Califórnia.

 

Entretanto, o presidente Bush preferiu desviar o máximo possível dos recursos internos para uso na guerra no Iraque, de forma que o Corpo de Engenheiros do Exército reduziu drasticamente sua vigilância sobre os diques de New Orleans, suspendendo inclusive as obras de restauração de um deles, e um terço da Guarda Nacional foi enviado ao Iraque, deixando os EUA sem a segurança em situações emergenciais que é proporcionada por essa corporação. O que era previsível há anos, bastando observar que as indústrias petrolífera e de armamentos formaram a base financeira da campanha que colocou Bush na presidência desse país.

 

Lá como cá (um exemplo tupiniquim é a tragédia na base de lançamento de foguetes em Alcântara, no Maranhão), as desgraças costumam ser anunciadas com bastante antecedência, os avisos vão surgindo aos poucos, na forma de um corte de verbas que não podia ser feito (mas foi), retirada ou afastamento de pessoal especializado (aumentando o risco pelo uso de gente inexperiente), trincas e rachaduras e estalos que as pessoas vêem nas pontes e denunciam na imprensa, sem que se tome providências etc.

 

Ou seja: um bom planejador logístico, atento a todo esse manancial de informações (tanto históricas como imediatas), deve ter preparado para seus clientes rotas de transporte que passem bem longe do local da tragédia. Que, afinal de contas, foi mais uma catástrofe administrativa que da Natureza.

 

Quem trabalha com logística deve investir um pouco do pouco tempo que geralmente tem (mesmo assim!...) nesse planejamento alternativo. Pois se tiver que trabalhar sob a pressão dos acontecimentos emergenciais, sem bons parâmetros que o guiem (como os custos e tempos de transporte por outras rotas), fatalmente cometerá erros importantes. O tamanho desses erros é que definirá o sentido principal nesta frase ambígua: o cliente estará perdido...

 

O reverso da história é que, em lugar de perder dinheiro em função dos problemas de movimentação de cargas, uma empresa pode até ganhar mercado ao conseguir se antecipar às dificuldades e fazer as entregas ou receber os insumos no tempo certo, apesar de furacões, terremotos e ataques terroristas (e da inépcia de certas autoridades).

 

A segurança no cumprimento das metas deixa a empresa menos vulnerável aos acidentes de percurso, facilitando o fechamento de novos negócios, em detrimento das concorrentes menos estruturadas. Pois o cliente quer (e precisa ter) a mercadoria na sua porta, no tempo certo. Convencê-lo de que isso será feito em qualquer circunstância vale tanto ou mais que oferecer preço e/ou qualidade melhores que os do concorrente.

 

Diante de uma loja vazia por falta de produtos para repor nas prateleiras, ou de uma linha de produção parada pela falta de insumos, nem furacão serve como desculpa. Principalmente se a loja ou indústria concorrente estiver plenamente abastecida e operando acima de sua capacidade nominal, justamente para atender (ex-)clientes da empresa parada...

  New Orleans, devastada pelo furacão: é o que acontece quando não há um esquema logístico alternativo pronto para ser implementado. 

 

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