Bem, o leitor atento já tomou todos os cuidados com o preparo da carga, e está prestes a fechar a porta do contêiner, para que este inicie sua longa viagem até as instalações de seu cliente. Já foi comentado que, durante a viagem, as mudanças de temperatura podem ser significativas, provocando danos à carga, pelo efeito de condensação. Mas é preciso considerar ainda outros fatores, entre eles o fato de que a carga pode inchar com o calor, forçando as embalagens e até as paredes do contêiner, se não tiver sido previsto esse aumento de volume.
Embarque de café em contêiner alugado
pela Sea Containers ao Lloyd Brasileiro, na década de 1980.
Há outros cuidados ainda, que se não forem tomados podem trazer resultados desagradáveis. Quando se fecha a porta do contêiner, nem sempre se imagina que, três ou quatro meses depois, terá se formado ali uma verdadeira câmara de gases, provenientes da madeira do estrado, dos materiais usados na embalagem e da própria carga – ou de mercadorias transportadas anteriormente pelo contêiner.
Mercadorias mais sensíveis, como o café, podem ter o lote inteiro condenado, se tiverem absorvido odores durante o transporte, e é por isso que os embarcadores de café costumam exigir contêineres especialmente limpos para o embarque desse produto, mesmo pagando um valor maior pela locação desses contêineres.
Um contêiner comum normalmente transporta produtos variados, e sempre ficam resíduos, que se impregnam na madeira do piso, por exemplo. Nos terminais depositários de contêineres, os funcionários já têm a prática de não entrar num contêiner assim que a porta é aberta: esperam pelo menos alguns minutos, para que saia o ar viciado de seu interior...
Agora, um último lembrete, antes de entrarmos nas questões centrais da logística de transportes. Durante uma viagem internacional, é normal que o contêiner seja submetido a inspeções policial, sanitária e aduaneira. Embora já existam em alguns lugares equipamentos que permitem conferir o interior de um contêiner sem abrí-lo (da mesma forma que a bagagem é conferida eletronicamente nos aeroportos), é comum que alguns contêineres sejam selecionados para inspeção direta, nos portos e nas zonas fronteiriças. Às vezes, nos dois lados de uma mesma fronteira.
A escolha é aleatória, mas influenciada geralmente pelo histórico da empresa responsável pela mercadoria, e pelo tipo de produto movimentado, ou em função da origem e do destino da carga. Por exemplo, se o contêiner tem como origem ou destino uma conhecida região de tráfico e contrabando, é certo que mais luzes vermelhas acenderão...
Isto significa que o transporte poderá ser interrompido até que parte da carga ou toda ela seja retirada do contêiner para a inspeção, e depois seja recolocada no mesmo. Daí o lembrete, para que sejam tomadas medidas preventivas, como a colocação da carga sobre estrados (pallets), com aberturas apropriadas para encaixe dos garfos de uma empilhadeira comum, de forma a serem mais rapidamente movimentados.
Caso contrário, a demora até que caixa por caixa seja retirada do contêiner e depois da fiscalização seja recolocada no mesmo pode significar a perda do embarque, obrigando à espera pelo próximo navio da linha, alterando todo o planejamento logístico inicial. Afinal, mesmo que existam equipamentos ideais de movimentação de cargas na origem e no destino do contêiner, nem sempre eles estarão disponíveis durante o percurso...