Sexta, 27 Dezembro 2024

Editorial

Carlos Pimentel Mendes

 

Junto ao mar e à principal fonte brasileira de aço naval, entre os principais pólos industriais e centros de negócios do Brasil e na área do principal porto latino-americano de carga geral, está surgindo um novo pólo de construção naval. Sim, em Cubatão. Mais precisamente, na Ilha Piaçagüera, situada no canal do mesmo nome, que liga o cais da Cosipa ao mar aberto. E Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) é o nome da empresa que produz 90% do aço naval brasileiro...

 

Daí, a proposta do prefeito de Cubatão, Clermont Castor, de iniciar nesse município paulista a instalação do principal centro construtor de navios do Brasil. Como ele diz: quem quer instalar um estaleiro no Nordeste e depois ficar levando aço e navipeças para lá?

 

Não é apenas uma idéia, pois tem nome e números. O custo para implantação do Projeto Ilha Piaçagüera é de US$ 350 milhões (bagatela, ao se pensar que o Brasil dispende R$ 6 bilhões/ano de suas divisas, em afretamento de navios estrangeiros), para ocupar uma área total de 1,2 milhão de metros quadrados, sendo 600 mil m² de área construída, dividida em 13 lotes industriais. A coordenadora do projeto é a empresa DTA.

 

Estudos já feitos comprovam que mesmo petroleiros de grande porte - de que a Petrobrás tanto necessita, agora mesmo está abrindo licitação para 22 deles, que provavelmente será vencida por empresas estrangeiras - podem ser construídos, sem problemas de calado ou sinuosidade do canal para seu lançamento ao mar.

 

Mais: o principal insumo para a construção de um navio é o aço naval, resistente aos efeitos da salinidade do mar. Que a Cosipa, distante apenas 4 km desses futuros estaleiros, já fornece a empresas de todo o País. Saindo de seu porto privativo para viagens marítimas de mais de mil quilômetros, ou por trem (ainda mais caro).

 

Em seguida, a receita da construção de um navio pede que se adicione madeiramento - e há uma rota da madeira passando pela região, para abastecer a Região Sudeste. Portanto, sem problemas aí.

 

Acrescenta-se à mistura toda a parafernália de navipeças - lâmpadas, torneiras, mesas e cadeiras, dobradiças, parafusos de muitos tipos -, tudo que é necessário para equipar um navio. Adiciona-se enfim a eletrônica embarcada, que pode ser nacional, das muitas indústrias paulistas que fabricam tais componentes, ou importada - pode vir pelo porto de Santos, bem ao lado.

 

Ah, falta o tempero: mão-de-obra qualificada para juntar tudo isso e criar um navio. Não falta, não... Cubatão é reconhecido como um importante centro de formação e "exportação" de recursos humanos, especializados para a área industrial, sabiam? Com aprendizado prático no primeiro pólo industrial de maior envergadura da América Latina, iniciado na década de 1950 ali mesmo: em Cubatão...

 

Não é por acaso que vários grupos estrangeiros estão de olho no projeto. Que tem mais uma surpresa encaixotada. Mas essas histórias, guardarei para a próxima semana...

 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br).

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